domingo, 27 de outubro de 2013

APRENDENDO A RECICLAR

“Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, tem as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal”  Hb. 5.1

   No nosso condomínio cada família tem um serviço comunitário. Desse modo podemos abençoar uns aos outros, mantendo uma atitude de servos, e ainda poupamos despesas com serviços, que são sempre caras nos Estados Unidos.
            Nós somos responsáveis por cuidar de parte do lixo reciclável: plástico, alumínio e vidro. Temos recipientes para cada tipo de lixo. Quando estão cheios, colocamos em sacos grandes, e levamos para a estação de reciclagem. O pagamento é feito em forma de um cupom que pode ser usado para compra de materiais necessários para o próprio condomínio. 
            Mas não é somente por ser plástico ou alumínio, por exemplo, que um material é considerado reciclável. É preciso ter a indicação expressa, abaixo do código de barras, de que tal material é considerado reciclável no estado da Califórnia. No começo a gente tinha dificuldade em separar o lixo, e precisávamos olhar quase cada item para ter certeza de que estávamos levando somente o aceitável. Com o passar do tempo ficamos peritos em lixo reciclável na Califórnia. Devido a prática repetida muitas e muitas vezes, o tempo que gastamos separando o lixo é muito menor do que antes. Esta semana me senti um lixeiro de primeira.  Em poucos minutos, esvaziei dois tambores, ensacando somente o que interessava. Na maioria dos casos basta olhar para a garrafa e imediatamente sei se devo levar para a reciclagem.  A prática me ajudou a discernir o que serve e o que não serve em termos de reciclagem.
            Minha habilidade com reciclagem por causa da prática fez-me lembrar a epístola aos cristãos Hebreus. Eles tinham conhecimento da verdade, sabiam que Cristo era superior a tudo de mais excelente que podia ser encontrado no judaísmo, mas estavam vacilando na fé. As circunstâncias adversas e as novas doutrinas estavam contaminando aquele grupo de cristãos, apesar do tempo de fé. O tempo passara, mas eles ainda eram meninos espirituais. Havia um descompasso entre a cronologia e a maturidade.
Como explicar tal situação? Hb. 5.14 dá o motivo: eles não praticavam o que sabiam. Eis o nosso grande problema. Sem obediência perdemos o discernimento. A informação da verdade não significa que estamos sendo guiados pela verdade. É preciso praticar a Escritura a fim de ficarmos peritos em discernir entre o bem e o mal. À medida que engajamos a nossa mente e coração na prática da obediência, ficamos mais aptos para separar entre o que é puro, e o que é contaminado, entre o que agrada a Deus e o que alimenta a nossa carne pecaminosa.
Por onde começar? Tenho duas dicas simples. Primeiro, faça uma avaliação pessoal:  “Existe algo na minha vida, externa ou interna, que é contrário à verdade da Escritura que eu já conheço?” Se for o caso, tome providência imediata. Segundo, na sua próxima pregação ou lição bíblica, tenha caneta e papel para anotar uma lição que você vai praticar durante a semana. Mantenha esse papel em local visível e leia cada dia várias vezes o desafio prático da semana.
No meio do lixo desse mundo somente a prática das Escrituras nos ajudam a perceber o que é proveitoso.
A serviço do Mestre,

Pr. Jenuan Lira.  

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A GLÓRIA DE EDNEY

“Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória” (Sl. 73. 24-25)

                        Seria trágico, se não fosse o Senhor. Edney, um jovem ministro do evangelho, pai de três filhos pequenos,  morre em tempo breve, depois de lutar bravamente contra um violento câncer.
            Quando nos caminhos da vida cruzamos com a morte, ficamos perturbados, especialmente se tal encontro nos parece absolutamente prematuro. Tinha que ser dessa maneira? Não havia uma esperança por meio de um novo medicamento? Por que não foi aplicado? E assim seguem as muitas interrogações para as quais só Deus tem a resposta.
            Enquanto  tentamos encontrar um sentido entre a vida e a morte, o primeiro passo nunca deve ser a razão, mas a fé, que brota da afirmações das Escrituras.  No Salmo 73 Asafe se lançou numa desafiadora empreitada: solucionar os dilemas da existência humana partindo do seu próprio raciocínio. Não conseguiu ir muito longe até chegar ao ponto de  reconhecer que “só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim” (v. 16). Mas se o crer nas Escrituras preceder o pensar, todas as nossas perguntas serão feitas sobre as bases firme da soberania e da bondade de Deus. O Deus Eterno age soberanamente em todas as coisas e prepara um final glorioso para aqueles que o amam. Na luta da vida o que os nossos olhos vêem e o nosso corpo experimenta pode não fazer o menor sentido, mas Deus está no controle e tem o melhor para os Seus.
             É fato que os últimos momentos do Edney entre nós foram difíceis. As fotos e o vídeo que ele postou dias atrás revelavam a decadência e a fragilidade causadas pela doença. Aparentemente ele estava numa luta desleal contra um inimigo muito mais poderoso. Mas se a situação for considerada através da ótica bíblica, o cenário é outro. Por trás da triste imagem da decadência material, ergue-se a sombra da cruz de Cristo. A luta do Edney foi enfrentada por Cristo na cruz do calvário e vencida ao terceiro dia conforme o verdadeiro testemunho do anjo que disse às mulheres: “Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está, mas ressuscitou” (Lucas 24.5-6). Sendo um salvo por Cristo, Edney estava destinado à vitória sobre a morte física e eterna. O combate final foi traumático, mas a glória foi alcançada, em Cristo Jesus.
            A vida do Edney pode até ficar fora dos registros oficiais da história humana, mas o que interessa é que o seu nome estava escrito no livro da vida, pois quando chega o nosso dia, não importa o que fomos, nem o que fizemos, mas apenas se a nossa vida estava oculta em Cristo. Afinal, que proveito há em ganhar o mundo e perder-se eternamente?
            Para o nosso irmão, a luta findou. Tudo está consumado. Viver e morrer são verbos que mudam de sentido quando Cristo faz parte da nossa vida.  A morte perdeu mais uma vez,  pois nada nos separa do amor de Cristo.
            “Ainda que a minha carne e a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre” (Sl. 73.26).

            A Serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira.      

PAULO ANDERSON E GABRIEL

“Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele” (Lc. 18.17)


                        Em meio às conversas pesadas dos adultos, senti a aproximação leve de uma criança. “Meu amigo Gabriel, cadê o Paulo Anderson?”, falei enquanto o abraçava. Ele não respondeu minha pergunta, porque não lhe interessava, e porque era realmente uma pergunta difícil. Quando o culto termina e eles saem da salinha, ninguém tem idéia de onde os dois poderão estar no próximo minuto. Como um traque de salão enlouquecido depois que o fósforo se encontra com a pólvora e percorre as trilhas mais incertas possíveis, ou como o antigo carrinho de brinquedo  “bate-e-volta” que seguia sua rota como a mais plena ilustração do que poderíamos chamar de imprevisibilidade, Paulo Anderson e Gabriel saem “batendo e voltando” até que a mãe resolve que está na hora de ir embora. Enquanto não, eles podem ser encontrados em qualquer lugar, desde o armário que guarda os instrumentos até a nossa pequena cozinha, onde numa ocasião tiveram a brilhante idéia de brincar com os botões do fogão, divertindo-se enquanto o gás butano era liberado por meio de um “interessante” barulhinho.
            Por isso, sem dar atenção à minha estupidez de adulto, Gabriel, com grande espontaneidade e poucos dentes, foi direto ao ponto:
- “Ti (entenda-se: tio), tu leva eu e Paulo Anderson para tua casa de novo?”.
- Claro, Gabriel, mas agora o ti não pode porque está morando bem longe. Mas quando voltar eu te levo de novo para minha casa. 
            As crianças são presentes de Deus para nos ensinar profundas verdades espirituais. Embora pecadoras, eles retém as qualidades essênciais para os que irão herdar o reino dos céus. Elas nos ensinam com sua simplicidade e espontaneidade. A humildade é uma marca divina que particulariza as crianças, até que o soberba dos seus pais lhes aprisiona, por herança e por exemplo. Por isso o Senhor as usou para resolver uma crise de meninice maliciosa no meio dos discípulos (Mt. 18.1-5). Não é isso que aprendemos com as nossas crianças, particularmente com os nossos dois amiguinhos aqui mencionados?
Quando penso nesses meninos fico comparando a espontaneidade e leveza deles quando estão entre nós. Se fossem adultos, o orgulho invertido da auto-depreciação já os teria arrancado do nosso convívio. Mas eles são crianças e não se deixam intimidar porque moram onde moram e vivem como vivem. Se você os chamar para sua casa, ele não vai ficar acanhado com as “riquezas” da sua família e os brinquedos sofisticados dos seus filhos. Eles vão se maravilhar, mostrar um para o outro cada nova descoberta e vão brincar com seus filhos.  Isto é, se vocês adultos deixarem, e não forem 'seletivos' demais para abrir suas portas para esses meninos.
Uma prova do que Jesus fala no seu elogio às crianças está no sorriso do Paulo Anderson. Sua vida é difícil, mas o sorriso é fácil. Faça você mesmo o teste. Basta um simples oi, e o sorriso flui simples, puro, autêntico e inocente. As privações do dia-a-dia, que com certeza nos fariam adultos amargos, não conseguem amargurar seu pequeno coração. Como os pássaros que recebem a ração diária do Pai Celeste, e amanhecem louvando o Criador, mesmo sem saber de onde virá o alimento para mais um dia,  Paulo Anderson louva a Deus com seu sorriso gracioso, expressando a 'fé inocente' de que Cristo falou a verdade quando disse que o mesmo Deus que cuida dos pássaros e faz nascer os lírios, cuidará das suas necessidades e da sua família (Mt. 6.31-32).
            Deus tem dado a nossa Igreja a bênção de ter esses meninos entre nós.  O que vamos fazer com eles? Tenho uma sugestão...

“Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava” (Mc. 10.16)

            A serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira.

Removendo os marcos

“Os príncipes de Judá são como os que mudam os marcos; derramarei, 
pois, o meu furor sobre eles como água” (Oséias 5.10)

                     Um dos mais conhecidos seminários evangélicos do mundo fica perto da nossa casa em Pasadena. Conta com mais de 4.000 estudantes, vindos de cerca de 100 diferentes denominações, de diversas partes do mundo. A biblioteca, dividida em 4 andares, contém cerca de 50.000 volumes e excelentes salas de leituras abertas ao público. Por isso, muitas vezes pego meus materiais e passo horas na biblioteca fazendo minhas tarefas e pesquisas.
                   Infelizmente, esse seminário hoje é um símbolo do liberalismo teológico no meio evangélico. Seus marcos doutrinários e práticos foram removidos de modo tal, que a autoridade das Escrituras foi anulada em prol da relevância e contextualização. Há poucos dias, por exemplo, havia uma exposição católica de imagens de Maria no hall de entrada. Eram quadros e poesias enaltecendo Maria no seu papel de “mãe de Deus e medianeira dos pecadores“.  Se as ações revelam o coração, podemos dizer que o coração desse seminário está tomado pelo ecumenismo religioso, uma posição que fere terrivelmente o ensino bíblico.
                   Outro dia, saindo da biblioteca, notei uma nova exposição nos murais da biblioteca. Era sobre a história do seminário. Para minha surpresa, entre os fundadores encontrei nomes de vários conhecidos estudiosos das Escrituras, cujos livros se tornaram referência em vários campos de estudo. Eu os conhecia por ter usado suas obras durante meu tempo de seminário. Foram homens que lutaram contra o liberalismo teológico do século passado, levantando a bandeira em defesa da autoridade, inspiração e inerrância das Escrituras. Foram esses valores que moveram os fundadores nos primórdios da escola em 1947.  
                 Retornando para casa fiquei pensando sobre as mudanças negativas que podem ocorrer na vida de uma instituição e de uma pessoa. A história antiga e recente está repleta de exemplos. São casos tristes de organizações e indivíduos que hoje negam os marcos antigos que orientavam seus pensamentos e ações. 
                  A Bíblia relata sobre as mudanças negativa que ocorreram ao longo da história da nação de Israel. O povo facilmente esquecia seu compromisso com Deus. Esse tópico foi enfatizado grandemente nas repreensões proféticas. O profeta Oséias denunciou o pecado da mudança dos marcos antigos, praticado pelos líderes de Judá na vida espiritual do povo. Fazendo assim, eles agiam como quem se apropria de terras que não lhe pertencem, roubando a propriedade dos seus vizinhos, pois os marcos eram pedras usadas como balizas para delimitar a extensão de uma propriedade.
Quando penso na minha própria vida, e nas muitas vezes em que tenho removido os marcos delimitadores que a Palavra de Deus me impõe, compreendo mais claramente a seriedade do meu pecado. A Bíblia diz que eu não pertenço a mim mesmo (Rm. 14.7-8; I Cor. 6.20). Eu tenho um Dono e Senhor, cujos marcos delimitadores se estendem a tudo que tenho e sou. Mas, movido pelo rebelde desejo da liberdade pecaminosa, eu vou forçando as fronteiras do senhorio de Cristo, deixando parte do terreno do meu coração fora do Seu controle. Então, me aproprio da “terra sem dono”, e sinto-me livre para fazer o que bem desejo.  O que aconteceu? Removi os limites, neguei ao Senhor o direito de propriedade sobre a minha vida, e tornei-me presa do meu próprio pecado.
      Mudar os marcos do compromisso com Deus parece algo muito simples. Fazemos isso ao longo da vida e aparentemente, nada de mal acontece e a gente ainda fica ainda com a sensação de que está gozando a vida.  Essa é mais uma doce ilusão do pecado. O único problema é que “do Senhor não se zomba”. Os príncipes de Judá pensaram que estavam no controle da situação, mas quando menos esperavam sobreveio-lhes repentina destruição. O Senhor cumpriu a Sua Palavra e o Seu julgamento desabou sobre a nação como uma inundação de muitas águas.
      Você reconhece os limites do Senhor sobre a Sua vida? Não tente cruzar a linha. A grama que perece mais verde além dos limites de Deus é apenas ilusão de ótica. Do lado de cá está a bênção e a vida para sempre.

                   A serviço do Mestre,

                   Pr. Jenuan Lira.

O Arrependimento de Deus

            Nenhum ensino pode ser reputado como verdadeiro se não passar no teste da não-contradição. Por isso, os inimigos da Bíblia se apegam com unhas e dentes à acusação de que as Escrituras estão cheias de contradições. Seguindo o errôneo caminho de examinar textos à parte do seu respectivo contexto, deleitam-se em lançar no rosto dos crentes os inúmeros exemplos em que a Bíblia se trai em paradoxos inexplicáveis.
            Por outro lado, como diz Pedro na sua segunda epístola, existem, espalhados nos escritos inspirados, textos "difíceis de entender", que por isso mesmo, tornam-se "alvos fáceis" para as deturpações dos ignorantes e instáveis ( 2 Pedro.3:16). Entre os tais textos, certamente se encontram aquelas várias referências do Antigo Testamento onde se diz que "Deus se arrependeu".
Naturalmente não se pode ter a pretensão de chegar a plenos e totais esclarecimentos sobre todos os textos difíceis da Escritura. Afinal, entre o Autor da Bíblia e o seu estudante existe a distância intransponível do Infinito ao finito. Assim sendo, a humildade é sempre recomendável no estudo da Bíblia. Entretanto, com um pouco de pesquisa bem orientada, pode-se lançar bastante luz sobre os textos mais obscuros, como no caso dos que mencionam o "arrependimento de Deus”
No Antigo Testamento, sempre que o ato de arrepender-se é creditado a Deus, a mudança ocorre não na mente de Deus, mas no seu tratamento com o homem, e por causa de uma mudança sofrida por este. O homem é instável por natureza e está sujeito a alterações para melhor ou pior. Havendo, pois, alguma alteração nos caminhos do homem, tais alterações refletem na sua relação com Deus, ou seja, "Deus muda o seu caminho" quanto ao seu trato com o homem. Quando a santidade e justiça imutáveis de Deus interagem com a mutabilidade humana, os "caminhos de relacionamentos" entre Deus e o homem precisam sofrer alteração, sejam para bênção ou juízo divinos.
Imagine um velejador iniciante que despende enorme esforço para deslocar-se alguns poucos metros. Na sua imperícia, está indo contra o vento. De repente, num dado momento ele descobre o erro e passa a navegar a favor do vento. Com a mudança do navegante, aparece uma mudança no seu relacionamento com o vento. O que antes parecia uma relação hostil passa a figurar como uma "relação amistosa" e produtiva. Assim também acontece no andar do homem com Deus. Enquanto andamos 'a favor1 dos imutáveis caminhos do Senhor, recebemos todos os benefícios das suas "brisas" de bênçãos. Porém, no momento em que resolvemos mudar nosso curso, sofreremos a resistência do "sopro divino", o qual jamais pode alterar-se ao sabor dos "ventos" do nosso coração instável.
Além disso, para fazermos justiça à sadia interpretação do Arrependimento de Deus, devemos considerar I Samuel 15:29, onde se diz explicitamente que "...Deus não é homem para que se arrependa ". Logo, o "arrependimento de Deus" jamais pode ser entendido à semelhança do arrependimento humano.
Portanto, ao atribuir arrependimento a Deus, a Bíblia não está em contradição. Há uma explicação plausível para essa "expressão difícil" no texto sagrado. Quanto ao mais, é descansar no "texto fácil" e confortador que nos assegura: " Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre"(Hb. 13:8). 
A Ele, pois, a glória, eternamente!

A Serviço do Mestre

Pr. Jenuan Lira

PLANOS FRUSTRADOS

O homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor
 (Provérbios 16.1)

            Eu estava orgulhoso de mim mesmo. Em pleno feriado, decidi dedicar uma manhã inteira para organizar minha vida e encarar o novo semestre. Listei os principais compromissos, tentei seguir uma ordem de prioridade e tomei cuidado para não esquecer nada que fosse realmente importante. Foi cansativo, mas finalmente cheguei a um planejamento perfeito.  Como não sou uma pessoa das mais organizadas, o esforço empregado trouxe um duplo prazer, pois mostrava um significativo progresso.  Fiquei feliz porque tudo tinha se encaixado nos seus devidos lugares e até tinha encontrado espaço para atividades que estavam sendo esquecidas. Relaxei, aproveitei o resto do feriado e me preparei para iniciar uma semana extremamente produtiva. Por todos os ângulos que pensava, esse planejamento me a solução para os meus problemas. Era seguir o mapa e desfrutar o prazer do dever cumprido.

            Enquanto lutava com minha agenda, comecei a sentir um leve incômodo na articulação do cotovelo esquerdo... “Não deve ser nada.”  Minha esposa consultou o dr. Google, e descobriu que estudantes tendem a enfrentar esse tipo de situação por apoiar excessivamente o cotovelo no birô. Legal! Como tinha pensado, não deve ser nada. O diagnóstico era o que eu queria ouvir, mas os fatos mostraram que a situação não era bem assim. De fato, por causa de um pequeno ferimento, um bando de estafilocos delinquentes, se alojaram perto da articulação, causando uma severa infecção. O resultado? três dias febril, indisposição e incapacidade de cumprir minhas obrigações como planejado.

            Aprendi que Deus usa bactérias para no relembrar fatos que facilmente a gente esquece. Reforçou-se em minha mente o fato de sou incapaz de determinar o meu caminho, e os meus planos podem ser frustrados até por uma bactéria.  Com isso, recordei as sábias palavras do profeta Jeremias: “Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos” (Jeremias 10.23). Por mais organizado, cauteloso e precavido que um homem seja, o imprevisível pode estar lhe esperando na próxima esquina. E se ele acha que tem o poder de determinar os seus passos, quando a realidade da vida não confirmar tal expectativa, frustração e amargura tomarão conta do seu coração.

            Então, não vamos mais planejar e deixar que o acaso determine nossa vida? Absolutamente. Acaso não existe. Tudo acontece dentro do Plano de Deus. A Bíblia nos ensina que Deus está no controle de todas as coisas, até mesmo dos vírus e bactérias. Os agentes infecciosos que me derrubaram, não entraram no meu corpo num momento em que Deus se descuidou. Deus nunca se descuida. Ele não se cansa, não se distrai, nem cochila (Salmo 121.4). Tudo que há nesse universo deve sua existência à ação preservadora de Cristo (Colossenses 1.17). Por isso, quando meus planos se  frustram, ao invés de permitir que a amargura domine o meu coração, deve me parar e reconhecer que Deus tinha outro plano, o qual é sempre melhor. Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o ama. Com o Seu perfeito amor, Ele deseja o melhor; com Seu eterno poder Ele é capaz de fazer o melhor.

            Continuo achando que fiz bem em planejar, mas errei por não deixar margem para as mudanças que Deus queria fazer por meio dos seus ‘agentes invisíveis’. Vou ter que correr agora para recuperar o tempo perdido, mas não vou alimentar a ilusão de que tudo depende de mim. Com o que aprendi nessa situação, cada vez que olhar para o meu calendário, vou lembrar claramente: Eu sou homem, Ele é Deus. Por isso, antes de iniciar o dia devo reconhecer um fator determinante: “Se o Senhor quiser” (Tiago 4.15). 

            A serviço do Mestre,
           

            Pr. Jenuan Lira.

FERNANDO HENRIQUE OU PILATOS?

Papel e tinta tem poder. A fala passa, mas a escrita tende a se perpetuar através dos séculos. Seus efeitos, bons ou maus continuarão, às vezes até contra a vontade do escritor, porque a escrita resiste ao tempo.
Dois homens são bons exemplos que provam efeito da palavra escrita: O ex-presidente Fernando Henrique e o governador romano Pilatos. Ambos passaram pela experiência de ter que responder pelo que tinham escrito.
As coisas não iam bem em Brasília (e isso não é novidade!) e o presidente estava tomando posições que muitos reprovavam.  Sabendo do seu passado como intelectual respeitado dentro e fora do Brasil, e notando que havia uma incongruência entre discurso e prática, um repórter fez a pergunta desconcertante:
            - Presidente, como essa sua atual posição combina com  o que o senhor escreveu nos seus livros?
             A resposta não podia ser mais inesperada...
- Esqueçam o que escrevi! Disse o ex-presidente.
            E quanto a Pilatos? Ele foi questionado por ter afixado sobre a cruz de Cristo quatro palavras: Jesus Nazareno Rei dos Judeus. Ele não escreveu um livro, mas essas poucas palavras estavam carregadas de sentido, tanto pelo que dizem quanto pelo que dão a entender. Os judeus entendiam o poder da escrita. Por isso os chefes do sinédrio, se sentindo ofendidos, pediram que Pilatos fizesse uma modificação na inscrição, a fim de deixar claro que o crucificado não era o rei dos judeus, apenas se chamava assim. Diferente do nosso ex-presidente, Pilatos respondeu: O que escrevi, escrevi. Em outras palavras: está escrito e continuará escrito.
            Qual dos dois homens agiu corretamente? A quem você seguiria com um bom exemplo se por acaso passasse por semelhante situação?
            Sem entrar no mérito dos motivos do governante de Brasília, acho que sua resposta nos dá uma boa lição: pense antes de falar, e principalmente antes de escrever. Não se omita de tomar uma posição, mas pondere diante de Deus se as suas palavras resistirão à prova dos fatos. Muitas vezes precisamos retroceder naquilo que pensamos, falamos ou escrevemos. A situação muda, outros fatos se esclarecem e chegamos à conclusão de que nossas palavras foram precipitadas e enganosas. Nestes casos, o melhor que podemos fazer é reconhecer o erro. Se terminamos ferindo alguém ou causando escândalo, devemos fazer o caminho inverso. Mas não basta pedir que a pessoa ofendida esqueça nosso erro. Isso pode ser que nunca vai acontecer. No entanto, podemos pedir que nos perdoe pelas palavras e atitudes desagradáveis.
            Pilatos não admitiu ser questionado na sua escrita. Ele estava sendo irônico e aproveitou a situação para fazer deboche tanto com o Senhor Jesus, quanto com o povo judeu. Nas suas poucas palavras ele estava dizendo: “Olhem só quem é o rei dos judeus. Vocês são uma raça inferior, pois que povo na história teve seu ‘rei’ crucificado entre dois ladrões?” Assim, com o coração dominado pelo orgulho, querendo mostrar que ele era homem de uma só palavra (nesse caso, leia-se ‘soberbo’) respondeu ‘o que escrevi, escrevi’.
            Você é capaz de retroceder nas suas palavras quando fica provada sua incoerência? Todos nós somos incoerentes em certos momentos da vida. Devido ao nosso coração enganoso, desequilibrado pelo pecado que habita em nós, podemos pensar o que não devíamos e expressar o que não é recomendável. Somente Deus pode dizer : “Minha palavra nunca voltará vazia”. Quanto a nós, inúmeras vezes precisamos repensar nossas idéias e corrigir nossas expressões. E quando nos questionarem sobre a mudança podemos dizer: “Não considere o que eu disse. Eu estava errado e nunca deveria ter falado aquilo. Se puder, esqueça o que escrevi”.
            Entre Fernando Henrique e Pilatos dois caminhos opostos se apresentam. Mas nesse caso, por incrível que pareça, é melhor seguir para Brasília do que para Jerusalém. Acha que estou equivocado? Pense um pouco, ore a respeito e leia de novo o texto. Tenho certeza que você chegar à conclusão de que “o que escrevi, escrevi”.

            A serviço do Mestre,


            Pr. Jenuan Lira.  

A MULHER DE PILATOS

“Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito” (27.19)

           
            Havia uma tensão no ar. Desde o domingo anterior, com a entrada triunfal de Cristo, um misto de expectativa a grande interrogação pairava sobre a cidade de Jerusalém, indicando que aquela páscoa seria diferente de todas as outras. E assim foi, pois na quinta-feira Jesus foi preso, e toda as peças rapidamente se encaixavam para um trágico final.   

            Uma vez nas mãos do sinédrio, Jesus foi abandonado pelo povo e até por Seus próprios discípulos. Dali para frente, embora muitos discordassem com a injustiça que estava para acontecer, ninguém ousava se pronunciar em favor da verdade. Fazer isso seria ir contra a expectativa de todos.
 
            É nesse contexto que somos apresentado à mulher de Pilatos. Mais uma ‘mulher sem nome na Bíblia’, mas uma pessoa importante dentro do plano de Deus. A tradição diz que ela se chamava Cláudia, e a igreja grega a tem entre os seus santos. Mas a Bíblia não menciona seu nome, e apenas Mateus relata sobre a sua participação no julgamento de Cristo. No enredo geral ela aparece  como uma simples figurante, mas aos olhos de Deus ela era uma peça chave na confirmação da Sua Palavra. Além disso, ela era a única pessoa que tinha acesso ao coração de Pilatos, o homem que daria a palavra final acerca do destino de Jesus.

            Ao notar que seu marido estava para cometer a maior de todas as injustiças pronto para assumir o primeiro lugar no rol de todos os covardes da história humana, ela fez o que pode para detê-lo. Ela recebera a mensagem de Deus acerca da Pessoa de Cristo, ficando convencida de que Ele era justo. A pressão da multidão não a intimidou. Ela sabia a verdade e não iria guardar silêncio.  O efeito da sua mensagem poderia ser  insignificante, mas ela pelo menos fez a sua parte e zelou pela sua consciência diante de Deus. Seu marido seguiu o mal caminho, mas não o fez por falta de um bom testemunho.   

            A voz da mulher de Pilatos foi abafada pela multidão em Jerusalém, mas Deus quis que Suas palavras continuam ecoando através dos séculos. Muitos tem dúvidas sobre quem é Jesus, outros se acovardam e decidem não segui-lo. Para esses, a mulher de Pilatos continuam afirmando: “Ele é o Justo. Quem o rejeita para atender aos apelos do mundo sofrerá grande perda”. 

            A mulher de Pilatos no anonimato do seu lar se tornou uma poderosa testemunho de Cristo, sendo a única voz a Seu favor no momento em que Ele não tinha quem falasse por Ele.

            Você pode até passar despercebido e anônimo aos olhos do mundo, mas aos olhos de Deus você pode ser uma peça importante na realização do Seu plano e na manifestação da Sua glória.  Se o mundo esquecer seu nome, não se preocupe, Deus se lembra de você e a recompensa você receberá das Suas mãos. E se seu testemunho não fizer diferença? Não se preocupe com isso também, pois o caminho da verdade de ser trilhado independente dos resultado. Sigamo a verdade pois Ele é a verdade.

A serviço do Mestre,


Pr. Jenuan Lira

DESAFIO DA LUTA ESPIRITUAL

Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens ” (Mt. 16.23)


            Nossa falta de fé se explica em uma palavra: materialismo. No domingo fazemos um pequeno esforço para negar o fato, mas no resto da semana a realidade vem à tona. Por essa razão não nos impressionamos com a declaração de Paulo no sentido de que: “A nossa luta não é contra sangue e carne, e sim contra principados e potestades, contra os dominadores desse mundo tenebroso, contra forças espirituais do mal nas regiões celestes ...”. Enquanto a Bíblia fala de luta espiritual intensa, levamos a vida cristã relaxadamente, sem a menor atenção ao fato de que estamos em guerra e o Inimigo é poderoso.

            A luta espiritual divide os evangélicos em dois extremos, geralmente. Há aqueles que são paranoicos em termos da presença de Satanás e seus anjos, enquanto  outros não ao menos pensam no fato de que Satanás tenta nos “peneirar como trigo” (Lc. 22.31) e nunca se cansa na sua terrível obra de tentar “perverter os retos caminhos do Senhor (At. 13.12). Infelizmente, esse é o extremo em que muitos de nós caímos. Esse é o nosso ponto cego no retrovisor espiritual e por isso estamos sempre correndo perigo, pois nos tornamos presa fácil do “leão que ruge procurando alguém para devorar” (I Pe. 5. 8). Sem perceber a ação insidiosa do Maligno, nunca chegamos ao ponto de convicção que nos leva a dizer: “arreda, Satanás”.

            Cristo, nosso Amado e Divino Mestre, sofreu terríveis ataques do Inimigo, em situações completamente inesperadas. Não seria exagero dizer que o Diabo seguia os passos de Cristo, procurando uma brecha para agir. Às vezes, Satanás agia dissimuladamente, outras vezes era ousado e partia para o ataque frontal. Ele conhecia e temia a Cristo. Em Mc. 1:24, o demônio admite francamente: “Bem sei quem és: O Santo de Deus!” Satanás sabia que quando se defrontava com Cristo estava diante do Criador dos céus e da terra. Ele sabia que, em parte, devia sua própria existência ao poder do Senhor Jesus. Ele sabia ainda mais que Jesus, sendo Deus, nunca iria pecar e  seria capaz de passar por toda e qualquer tentação, sem ceder a nenhuma delas (Hb. 4.15). Mas nem por isso deixou de preparar suas armadilhas e insistir contra o impossível. Isso nos ensina que uma das características do Diabo é a ousadia.

            Além de ousado, Satanás é criativo e insistente. Em Mateus 16.23, vemos o Diabo cercando a Cristo e Seus discípulos. Pouco depois de Pedro ter feito uma maravilhosa confissão acerca da identidade divina de Cristo, Satanás se apropria da boca desse discípulo como meio de fazer o Senhor Jesus se desviar do plano do Pai. Jesus notou imediatamente a estratégia do inimigo e ordenou: “Arreda, Satanás!” Entre outras coisas, a batalha espiritual explica por que Jesus orava tanto e tão prolongadamente. Ele sabia bem do que Satanás era capaz e por isso não baixava a guarda.

            Precisamos entender a importância desse assunto para nossa vida cristã. Se para nós a batalha espiritual é uma mera idéia ou uma brincadeira, para Satanás não é.  O Inimigo é astuto, ousado, poderoso e nunca dorme. Se ele tentou o impossível com Cristo, o que ele não será capaz de tentar conosco?

            Portanto, “vigiai e orai para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt. 26.41). “orando em todo tempo no Espírito e para isso vigiando com toda perseverança e súplica” (Ef. 6.18).

            A realidade é muito maior do que aquilo que os nossos olhos veem. O mundo espiritual é a pare invisível da realidade que nos cerca, portanto, à batalha, sabendo que “maior é o que está em nós do que o que está no mundo” (I Jo. 4.4).

            A serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira.