sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A ESCOLA DO DESERTO



“E logo o Espírito o impeliu para o deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos o serviam.”(Mc. 1.12-13)

                As mais impressionantes manifestações do SENHOR ao Seu povo não se deram nem no Egito, nem além do Jordão, mas no deserto do Sinai. Quando a presença de Deus se manifesta no nosso deserto, as lições que aprendemos nunca mais serão esquecidas. Talvez seja essa convicção que inspirou o famoso escritor C. S. Lewis a afirmar em sua obra O Problema da Dor: “Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas horas de sofrimento: esse é o megafone de Deus para despertar um mundo surdo”.
                O deserto fez parte da vida de todos os que Deus quis usar para fazer diferença nesse mundo incluindo Seu próprio Filho. Os evangelistas unanimemente relatam que após o batismo, o deserto foi a próxima parada preparatória do Senhor. Durante longos quarenta dias, o Senhor Jesus Cristo se submeteu à solidão e a dureza da vida no deserto. Foram dias difíceis, mas necessários. Todas as tentações que lhe sobreviriam foram antecipadas no deserto. Tendo os olhos voltados para o Pai e a mente saturada pela verdade das Escrituras, Jesus saiu do deserto pronto para servir a Deus e obedecê-Lo, sendo capaz de manter firme o seu propósito até à morte ‘e morte de cruz’.
                A maneira com Marcos descreve brevemente a fase de preparação de Jesus no deserto chama a atenção pela impressão de que o deserto era indispensável... “e logo o Espírito o impeliu para o deserto...” Depois do batismo, o deserto era a próxima e necessária parada. O verbo impeliu transmite a ideia de um movimento rápido, impetuoso e coercitivo. Tem a noção de empurrar com firmeza e determinação, sem deixar muita opção de escolha. Esse verbo também significa enviar com um propósito (Mt. 9.38), expulsar (Mt. 21.39), fazer seguir por uma direção determinada.
                É contra nossa tendência natural imaginar que Deus iria nos ‘expulsar’ para o deserto por algum bom propósito, mas é assim que a Bíblia apresenta. Deus sabe que se dependesse de nós, seguiríamos sempre pelo caminho mais ameno, longe do calor e das privações do deserto. Mas o Senhor sabe o que deserto pode fazer em nós. Deus usa o calor e o desconforto da solidão, das angústias e das dores como instrumentos de purificação da nossa fé. A caminhada no deserto galvaniza nosso caráter tornando-nos úteis aos propósitos do Senhor. Quem deseja separa o ouro das escórias não pensa na amenidade das sombras, mas no escaldante calor da fornalha. Escrevendo a cristãos perseguidos por amor a Cristo, o apóstolo Pedro lhes exorta a não esquecerem que durante nossa peregrinação nesse mundo, por breve tempo seremos contristados por várias provações, mas isso tem um propósito: “para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo (1Pe 1.7).
                A maravilhosa história da libertação de Israel do Egito não seria a mesma sem o tenebroso deserto do Sinai. Segundo Êxodo 13.17-18, Deus planejou o deserto a fim de que a jornada pudesse ser completa. Enquanto seguiam pelo caminho mais difícil, o Senhor os livrava dos inimigos e se revelava de maneira especial ao povo. Por causa da secura do deserto, o povo contemplou o milagre da água saindo da rocha. No deserto Israel podia ver a provisão do Senhor em cada detalhe. Durante o dia o Senhor era Sua sombra, durante a noite o Senhor era Sua luz. Era difícil achar comida? O Senhor mandava o maná. Durante os 40 anos no deserto Israel sabia que dependência do Senhor era uma questão de sobrevivência. Ainda que tentassem viver independes, dentro de pouco tempo  retornavam, pois no deserto o Senhor era a única opção.
                Lembrando o exemplo do Senhor Jesus e de tantos outros devemos reconhecer que a escola do deserto é indispensável para nosso crescimento e serviço ao nosso Rei. Mas precisamos ter a atitude correta, e a visão espiritual aguçada, afinal o sol que seca o barro é o mesmo que derrete a cera.  O que para o mundo é destruição e derrota, para os servos de Cristo é o caminho da glória. Na bonança lembramos de Deus, na angústia dependemos dEle.
O deserto não é o lugar para se morar, mas o lugar para se aprender preciosas lições. Se o Senhor está lhe conduzindo por lugares áridos é porque Ele precisa da Sua atenção. Tire os olhos das circunstâncias e volte o seu olhar para Ele. À medida que sua visão espiritual for sendo refinada, você verá que a experiência de Cristo será também a sua... “estava com as feras, mas os anjos o serviam”.

                A serviço do Mestre,

                Pr. Jenuan Lira.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

EU DESCEREI CONTIGO

“Então, disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não temas descer para o Egito, porque lá eu farei de ti uma grande nação. Eu descerei contigo para o Egito e te farei tornar a subir, certamente. A mão de José fechará os teus olhos” (Gn. 46.3–4).

                Nós não somos Ele é. Nós mudamos, Ele é sempre o mesmo.
Nós nos desorientamos, Ele jamais se confunde. Seu plano é perfeito, Seus caminhos bons, Seu poder inigualável, Sua vitória certa, Seu amor eterno. Deus grande e temível; Criador, Sustentador e Redentor... o nosso Deus. Portanto, “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.” (Salmo 42.5).
                O atributo da imutabilidade de Deus assegura que a revelação de Si mesmo nas Escrituras permanece válida. A despeito do longo tempo, tudo que Deus revelou sobre Si mesmo aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó tem valor para nós. Por isso, podemos ler as narrativas maravilhosas de Gênesis, transportando cada aspecto da revelação do Ser de Deus para a nossa própria história, “...a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.” (Romanos 15.4).
                Pensemos, por exemplo, patriarca Jacó, quando recebe a notícia de que seu filho desaparecido há mais de vinte anos está vivo, é governador no Egito e mandou buscar toda família para viver sob a sua proteção e provisão. A notícia era impressionante demais para um homem de 130 anos, cuja vida fora uma incessante peregrinação, cheia de lutas, temores e perigos. Estarrecido com a notícia “seu coração ficou como sem palpitar”, porque não deu crédito ao que os filhos disseram (Gn. 45.26). Parecia-lhe uma piada de mau gosto, até que viu as carruagens que José enviara para fazer a mudança, e seu espírito reviveu.
                Antes de partir, porém, Jacó lembrou-se de adorar o Deus de Isaque, seu pai, em Berseba. Ali, enquanto descansa para prosseguir a viagem, Deus lhe apareceu em uma visão, reafirmando Suas promessas. Havia anos desde a última aparição do Senhor. Jacó tinha envelhecido e se via abatido sob o peso dos anos e das muitas provações. Sua família se desintegrou e se desviou do Deus dos seus pais. Seu contexto familiar tinha mudado, pessoas queridas haviam desaparecido, sua força se esgotara, mas Deus permanecia o mesmo. Assim, nesse momento crucial quando Jacó vê no limiar da sua última grande mudança na vida, Deus se aproxima e lhe assegura Sua companhia... “Não tema, Jacó. O que eu prometi a seus pais continua valendo. A sua mudança para o Egito não anula a minha promessa. Tudo o que tem acontecido até agora faz parte de um plano que estabeleci desde a eternidade passada, por meio do qual você será um elo de bênção e salvação para todas as famílias da terra. Está tudo sob controle. Minha promessa permanece firme. Nada está perdido. O Egito não será o final da história, mas um grande avanço na história do seu povo. Fui Eu quem enviei José para preparar o caminho e a sobrevivência da família. Todo o sofrimento do passado será revertido em alegria indizível e cheia de glória. O filho que você pensava estar morto vive, e por Ele revelarei a toda humanidade que Eu Sou Deus. Siga em paz. Estou ao seu lado!”.    
                Observando a presença de Deus na vida de Jacó sou reanimado pelas palavras do Salmo 46.10: “O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.” Que afirmativa impressionante, e como precisamos meditar nela! Quantas vezes me deixo levar pelas circunstâncias, esquecendo que o Deus de Jacó está comigo? Na minha dureza de coração não consigo viver a certeza de o Deus dos patriarcas é o Deus fiel que me guarda e com Quem posso falar por meio da oração. O Deus de Jacó é o grande Eu Sou, fiel, soberano, imutável. O Deus de Jacó não tem projetos inacabados, nem precisa refazer os seus planos. Ele não erra não se confunde, e nunca teve uma nova ideia, pois conhece o final desde o princípio. Ele é perfeito, sábio, poderoso, justo, santo e bom. Ele sabe bem quem somos, onde estamos e de que precisamos para ser parte da obra gloriosa que Ele agora está realizando. O Deus de Jacó é o meu Pastor, e de nada sentirei falta.
                As coisas mudaram e novos desafios se apresentam? Por algum motivo perdemos nossa estabilidade e precisamos seguir por caminhos nunca antes trilhados? A nossa força está reduzida para a jornada que nos aguarda? Não há o que temer, pois o Deus de Jacó está conosco. Lembremos “... que este é Deus, o nosso Deus para todo o sempre; ele será nosso guia até à morte.” (Sl. 48.14)
                O que o futuro me aguarda não posso antecipar. Mas, independente do que seja, posso exclamar: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é  fortaleza da minha vida; a quem temerei?” (Salmo 27.1)
                Sigamos firmes, pois com Cristo o melhor está por vir!

                A serviço do Mestre,
                Pr. Jenuan Lira.



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A TEOLOGIA DO CARNAVAL
                       
Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.” (Colossenses 2.20–23)
           
           
Religiosidade e carnaval estão muito mais perto do que pensamos. Quando os homens se afastam da Palavra de Deus e criam seus próprios sistemas de fé o resultado é sempre proliferação da iniquidade.
            Sem ter base alguma na Bíblia, com apoio apenas de interpretações particulares e alegorias infundadas, as tradições Católica, Ortodoxa, Anglicana e Luterana ensinam que todo fiel deve anualmente se submeter aos ritos purificadores da quaresma, nome dado aos 40 dias que se estendem desde a quarta-feira de cinzas até ao chamado domingo de ramos. Os rituais prescritos são jejum, abstinência de carne, mortificações, caridade e orações.
            Mas o que os homens planejaram para a ‘purificação’ terminou fomentando a contaminação, e a história do Brasil nos revela como isso aconteceu. Ainda na época dos nossos dois imperadores, quando o catolicismo detinha domínio absoluto sobre a religiosidade da nação, as regras de abstinência da quaresma eram seguidas à risca por todas as pessoas. Assim, nos dias que antecediam a quaresma começou uma brincadeira anárquica e ‘inocente’ de uns jogarem água nos outros. A brincadeira se chamava entrudo (do latim introito, entrada), e servia para as pessoas terem um pouco de prazer antes das tristezas e contingências da quaresma.
            Foi assim que passo a passo o desejo de prazer carnal no entrudo terminou desembocando no que hoje conhecemos como carnaval, uma festa para liberar o prazer carnal, antes da ‘purificação’ imposta pela tradição. Parafraseando o apóstolo Paulo em Romanos 7.8, podemos afirmar que ‘a carne tomando ocasião pelo mandamento despertou na sociedade toda sorte de concupiscência’. Assim, aquilo que os homens determinaram como meio de santificação, terminou sendo o combustível para a proliferação de todo tipo de iniquidade, e hoje o carnaval é símbolo de perversão sexual, embriaguez, infidelidade, insensatez, drogas, doenças e morte. E o Brasil, para nossa vergonha, é o país do carnaval.
            Enquanto observamos as misérias do carnaval, devemos notar que a relação entre legalismo religioso e contaminação da carne são irmãos gêmeos. Não existe lei ou regra humana, mesmo que mesclada com simbolismos bíblicos, que possam conter o ímpeto do pecado que se abriga no nosso coração. Quando o espírito da religiosidade farisaica se instala, cria-se a ideia enganosa de que a purificação dos pecados e a graça da salvação se ganha por meio de obras meritórias e sacrifícios de rigor ascético expressos em ‘não manusear isso, não tocar naquilo e não provar aquiloutro.’ As regras em si podem ser boas, mas o problema é que a carne está viva. Enquanto não nos submetemos à cruz que nos faz ‘mortos com Cristo’ para os poderes do mal que operam neste mundo, poderemos até dar aparência de sabedoria espiritual e falsa humildade, mas no fim das contas não temos poder para vencer os apelos da carne. Seremos belos por fora, mas por dentro estaremos cheios de toda imundícia (Mateus 23.27).
            Quando os Evangelhos mostram a ira do Senhor Jesus contra os falos mestres que promoviam a falsa religião, há quem ache que Cristo foi duro demais. Mas a verdade é que Ele sabia o resultado maligno e destrutivo da falsa doutrina. Por isso, Ele proferiu os ais contra os guias religiosos que não entravam no reino dos céus, nem deixavam as pessoas entrarem (Mateus 23.13). A falsa doutrina do mérito humano ganho por meio das obras é a pior coisa que poderia acontecer. Ilude, destrói a sociedade e condena milhares à perdição eterna. E se alguém duvida observe as raízes históricas do carnaval brasileiro, que nada mais é do que o terrível legado da falsa doutrina!
            Lamentavelmente não há nada que se possa fazer para deter a avalanche contaminadora do pecado promovido pela festa da carne. A tradição perversa está arraigada na alma da sociedade brasileira de tal modo que, apesar da seca, da crise energética e da precariedade do sistema de saúde pública, milhões de reais dos cofres públicos estão sendo canalizados para o festival. Mas que importa? Apesar de todos saberem que ‘quem semeia para a carne, da carne colherá destruição’ (Gálatas 6.8), é melhor ser otimista. Quando terminar a festa a nação ‘levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.’ Os que quiserem podem até zerar sua conta de pecado recebendo a absolvição na quarta-feira. O que passou não importa... e que venha a quaresma!
            Deus tenha misericórdia de nós!

            A serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A DOR DA ACEROLA

“Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados,
fruto de justiça” (Hb 12.11).

            “Não tem o que fazer. A morte é uma questão de tempo”, disse o jardineiro examinando o ressecado pé de acerola. Sua conclusão era baseada no fato de que uma erva daninha proveniente das fezes das aves tinha brotado nos galhos e se espalhava pela planta inteira. Então, segundo o ‘especialista’ a doença era irreversível e nada mais poderia ser feito. Na sua opinião, era melhor cortar logo para liberar o terreno e evitar sujeira.
            Ao ouvir a sentença de morte e a disposição do ‘carrasco’ para dar o “tiro de misericórdia” na pobre vítima,  uma espécie de “compaixão botânica” nasceu dentro de mim, que me levou a pensar em alternativas para evitar o pior. Assim, resolvi fazer uma poda completa, que me consumiu toda a manhã do meu dia de folga. Apoiado sobre um cavalete, de posse do velho facão, partir para na minha luta com o pensamento de que talvez a morte pudesse ser detida. Decidi fazer uma poda total, cortando cada galho onde a praga se manifestava. Como a doença tinha se alastrado demais, poucas partes da árvore foram poupadas dos golpes do facão.  Seguramente mais de 80 por cento da copa foi decepada. Depois coloquei fertilizante na raiz e tive o cuidado de aguar pelo menos uma vez por dia. Alguns dias após a poda, notei que havia flores brotando em todo canto. Continuei aguando e observando, até que notei que as flores começavam a se transformar em pequenos botões. Eram muitos e era realmente incrível. A vida renascia onde antes a morte parecia reinar absoluta. Maravilhado, todas as manhãs eu examinava para ver o desenvolvimento do processo. Exatamente dentro de um mês eu estava bebendo o primeiro copo de suco de acerola, cheio de vitamina e de significado. O sofrimento da limpeza redundara no reflorescimento da vida, que brotou com força produzindo uma enorme quantidade de frutos lindos e saborosos.
            Esse episódio me lembrou o ensino do Senhor Jesus mencionado em João 15:1-2. Nesse texto Ele é a videira, nós os ramos, e dEle flui a seiva que mantém nossa vida eterna. A manutenção desse ‘jardim divino’ é responsabilidade do Pai. Por isso, quando um ramo perde sua capacidade de produzir e seca, o Pai realiza uma limpeza, que pode ser extremamente dolorosa. Quanto mais profunda a doença, maior a dor para extirpá-la. Mas o Pai sabe o que está fazendo. Ele não está nos rejeitando, nem sonegando Seu amor. Ao contrário, porque Ele nos ama e deseja que tenhamos vidas significativas, Ele usa os seus instrumentos cortantes para retirar de nós tudo aquilo que nos impede de frutificar. Afinal, “... ele faz a ferida e ele mesmo a ata; ele fere, e as suas mãos curam” (Jó 5.18).  Ele nos quer semelhantes a uma árvore produtiva, nunca como um arbusto solitário no deserto (Jr. 17:6).
            Devido às contradições e distorções introduzidas pelo pecado, fugimos da dor e buscamos o prazer a todo custo. Mas esse pode ser o caminho da morte. O que seria do nosso corpo sem a dor? Não é essa sensação desagradável que nos preserva da destruição? O paciente acometido por hanseníase daria tudo para voltar a sofrer dores. Suas deformidades são resultado de uma vida indolor. Deus, o Criador do corpo e da alma, sabe muito bem que as lágrimas de dores, muitas vezes são semente de vida. Por isso, Ele nos disciplina antes que o nosso coração fique endurecido demais para reagir. Se seguimos nosso caminho de perdição infestados pelos ‘parasitas’ do pecado e as dores da disciplina divina não nos afligem, algo muito preocupante está acontecendo, “...pois que filho há que o pai não corrige?” (Hb. 12.6). É infinitamente melhor ser um filho de Deus gemendo sob o peso da dura correção paternal, do que um bastardo que segue seu feliz caminho de perdição, sem receber a disciplina do Pai Celeste. Imagino que se o pé de acerola falasse (se bem que muitas vezes eu pensei que sim!), ele teria reagido... “Por que me cortas? Você não tem piedade? Não sente a minha dor cada vez que um galho é cortado?”.  E eu, ainda com o facão em punho, teria dito: “Sinto muito dona acerola, mas não tem outro meio. Ou eu lhe corto, ou você morre.” E se ela insistisse eu ira fazê-la calar com as palavras de Jesus: “O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo. 13:7). 
Para que não venhamos a murchar sufocados pela ação parasita do pecado que endurece o coração e destrói nossa sensibilidade espiritual, o Jardineiro Celeste precisa nos disciplinar. É bom? Certamente não, mas é o remédio amargo que produz doces resultados. A dor virá, mas é a dor que nos cura e faz que da nossa vida seja uma ‘vida suculenta’ e abundante, resultado da fonte de vida a jorrar dentro de nós.

A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

BRASILEIRO EXECUTADO NA INDONÉSIA

          
Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o Senhor;
e sabei que o vosso pecado vos há de achar. (Números 32.23)

            O fuzilamento do traficante brasileiro Marco Archer na Indonésia na semana passada causou abalo internacional. Sendo um dos principais traficantes brasileiros que infestam a ilha de Bali, Marco Archer penalizado com a pena capital pelo governo indonésio, após 10 anos de espera no corredor da morte. A execução de Archer foi acompanhada com apreensão pelas autoridades brasileiras porque outro brasileiro, Rodrigo Gularte,  está em vias de receber o mesmo castigo.
                Acostumados no Brasil com o desrespeito às leis e confiantes de que no final se pode dar um  jeitinho, os traficantes brasileiros simplesmente desconsideram o aviso em letras grandes e vermelhas no cartão de imigração: ‘pena de morte para tráfico de drogas.’ Por anos os brasileiros encabeçam a lista do tráfico no paraíso turístico da ilha de Bali, sendo reconhecidos por levarem uma vida de fantasia, luxo e hedonismo financiada pelo dinheiro do contrabando de drogas.
                Sem entrar no mérito específico da abrangência, determinação e forma de aplicação da penalidade, o fato é que a pena capital é endossada nas Escrituras tanto no Velho quanto no Novo Testamento (At. 21:11; Rom. 13:4). Isso soa extremo aos ouvidos modernos, pois na sua carta de exaltação do humanismo, a Organização das Nações Unidas proclama que: “Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”
                Embora a defesa à vida deva ser uma bandeira empunhada pelos cristãos, isso não significa que a vida física seja o nosso maior patrimônio. A vida certamente é um dom de Deus e uma parte maravilhosa e misteriosa do nosso ser, mas além do componente material, o homem é composto do elemento espiritual que é eterno. Os homens lutam e protestam apenas pela sobrevivência material, esquecendo que um dia o corpo voltará ao pó, de onde veio, e o espírito subirá a Deus, a Quem pertence. Além disso, nunca devemos esquecer que o mesmo preceito que protege a vida, pode servir para exterminá-la, quando interpretado de maneira frouxa, limitada e tendenciosa. Infelizmente, em muitos casos, e as drogas são um deles, pessoas querem o direito à própria vida, à custa da vida dos outros. Porque um tem direito à vida, muitos têm direito à morte.
                A execução dos traficantes na Indonésia jamais deveria despertar em nós qualquer tipo de prazer... “Deus não tem prazer na morte (Ez. 18.23). No entanto, mesmo nessa situação há um aspecto da misericórdia de Deus, manifestada para com os que porventura estejam se desviando do bom caminho. Salomão diz: “Quando o escarnecedor é castigado, o simples se torna sábio...” (Pr. 21.11). Foi a convivência da sociedade antiga com o homicida Caim que abriu o caminho para o caos, anarquia e violência que rapidamente atingiu níveis insuportáveis na civilização antediluviana (Gn. 4:23-24; 6:5). A impunidade fomenta toda sorte de iniquidade proveniente do humanidade corrompida. Como resultado da morte dos traficantes, muitas vidas poderão ser poupadas tanto de traficantes como de pessoas associadas ao crime. Quando a justiça consegue deter o avanço do mal, as pessoas reconsideram o fato de que existe um salário para cada pecado, e que um dia todos prestaremos contas. Nesses momentos o mundo precisa concordar com o aviso de Moisés: “Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o Senhor; e sabei que o vosso pecado vos há de achar.” (Núm. 32.23)
                A parte triste nos protestos contra a pena de morte é o declarado materialismo que permeia a sociedade universal. A única preocupação é com o corpo. O mundo teme aqueles que matam o corpo, mas não teme Aquele que “pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mat. 10:28). Nada estranho. As pessoas tem sido doutrinadas desde a sua infância a negar o juízo vindouro. Quando muito, alguns manifestam um vulto opaco de espiritualidade e misticismo, mas na realidade ninguém admite o fato de que  “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo(Heb. 9:27). A certeza do juízo eterno é o que deve nos fazer tremer diante da morte de quem quer que seja. Por isso, antes que seja tarde, devemos testemunhar de Cristo, antes que chegue o dia final, pois assim como o juízo é certo, a misericórdia do Senhor é também certa, e pode alcançar e salvar qualquer pecador, em qualquer momento, mesmo que sejam traficantes temidos encerrados no corredor da morte.

                A serviço do Mestre,
                Pr. Jenuan Lira
 


A SÍNDROME DA VISÃO SELETIVA


E, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida; mas, ao terceiro dia, ressuscitará. Eles, porém, nada compreenderam acerca destas coisas; e o sentido destas palavras era-lhes encoberto, de sorte que não percebiam o que ele dizia.” (Lucas 18.34)

                Uma das marcas do pecado no homem é a cegueira de coração. Não que sejamos absolutamente incapazes de perceber a verdade, mas o pecado nos inclina e força a enxergar apenas o que nos agrada. Focamos os olhos naquilo que o nosso coração deseja e nos tornamos cegos para tudo mais que não combina com nossos anseios.
                Podíamos classificar tal comportamento de “síndrome da visão seletiva”, e os discípulos de Cristo são exemplos clássicos dessa disfunção espiritual. Essa doença de coração se manifestou muito claramente perto do final do ministério terrestre do Senhor Jesus, quando Ele fez o surpreendente anúncio da humilhação da cruz e a ressurreição que lhe seguiria. Jesus foi muitíssimo claro e até repetitivo, mas os discípulos simplesmente não captavam o sentido das palavras.
                O que teria causado o problema da visão seletiva? A resposta aparece quando olhamos o contexto em que o Senhor fez os anúncios. Observando Lucas 18.31-34, podemos afirmar que os discípulos sofriam de um tipo de cegueira espiritual. Para demonstrar esse fato, Lucas habilmente insere o relato da cura do cego de Jericó logo após um dos avisos sobre a morte e ressurreição de Cristo. A cegueira do mendigo que esmolava à beira do caminho caia muito bem com uma ilustração exata dos distúrbios na visão espiritual dos discípulos.
                Nos outros Evangelhos Sinóticos, Mateus e Marcos, aprendemos um pouco mais sobre a causa do problema. Tanto Mateus quanto Marcos fazem uma relação entre a cegueira espiritual e o desejo de grandeza. Quando os discípulos ouviam sobre o humilhante sofrimento ao qual o Senhor seria submetido, ficavam profundamente tristes (Mateus 17.23). Essa notícia causava tal impacto que eles nem sequer davam atenção ao fato de que Jesus iria ressuscitar no último dia. Por que? Porque a cruz destruía a expectativa de grandeza acalentada nos seus corações. Eles desejavam a glória, mas não admitiam o calvário. Só pensavam na possibilidade de grandeza que teriam no reino de Cristo (Mateus 18.1). Chegavam a brigar entre si para saber quem seria o maior. Numa ocasião inusitada, até mesmo a mãe de Tiago e João entrou na briga. Ela procurou a Jesus intercedendo para que seus filhos tivessem um lugar especial no reino vindouro. Tendo uma concepção tão egoísta e limitada do reino de Cristo, não é à toa que seus ouvidos ficassem surdos e seus olhos cegos para o ensino de Jesus.
                Quando nossos desejos estão em desacordo com o desejo de Deus, a cegueira nos domina. Ainda que ouçamos as palavras do Senhor, não mostraremos a menor disposição para captar o sentido delas. A verdade nos assusta. No caso dos discípulos, a indisposição para abraçar a verdade era tão grande que sequer se esforçavam para perguntar a Jesus o sentido exato das Suas palavras (Marcos 9.32).
                Sendo bem honestos, precisamos reconhecer que em muitas ocasiões preferimos a cegueira do engano à confrontação da verdade. Muitos tentam se proteger sob as trevas da ignorância, a fim de não ser incomodados com a luz da verdade. É como se o fato de não sabermos exatamente o que Deus está dizendo fosse álibi para nossa vida de pecado.
Esse problema se manifesta ainda hoje? Infelizmente, sim. Por causa do desejo distorcido de perceber apenas o que agrada o seu próprio coração, milhares seguem doutrinas de homens e se afastam da Palavra. Culpa dos líderes? Certamente, eles tem uma grande parcela de culpa e Deus há de julgá-los de modo muito mais severo (Marcos 12.40). Contudo, jamais caímos no erro de achar que as multidões são compostas de ‘boas almas’, de pessoas incautas que se tornaram presas dos vendedores da fé. Na verdade aqui não existe neutralidade. Os líderes iludem porque os seguidores gostam da ilusão, estão atrás dos seus próprios interesses e encontraram um que diz o que eles querem ouvir. Como os discípulos, esses também têm acesso à verdade, mas preferem não perguntar por ela por temerem perder o conforto da ilusão dos seus próprios corações.
Mas, se o exemplo dos discípulos expõe o problema da cegueira, a história do cego de Jericó fala do alento da visão restaurada. Era um cego que admitia sua cegueira, não tinha falsas ideias da sua situação. Reconhecia que estava envolto em trevas absolutas. Por isso, quando teve a chance, sem titubear clamou a plenos pulmões: “Senhor, quero tornar a ver” (Lucas 18.41). Então, “Imediatamente, tornou a ver e seguia-o glorificando a Deus” (Lucas 18.43).
A síndrome da visão seletiva nos acomete porque naturalmente amamos mais as trevas do que a luz (João 3.19). Mas não precisamos viver na cegueira. Clamemos Àquele que é a luz do mundo e Ele mesmo resplandecerá em nossos corações.
A serviço do Mestre,

Pr. Jenuan Lira