quarta-feira, 18 de abril de 2012

A CEGUEIRA ESPIRITUAL (I)

“Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia; e outra vez: O Senhor conhece as cogitações dos sábios, que são vãs”(1Co 3.19-20).

O lucro e o sensacionalismo, nessa exata ordem, determinam a bola da vez no jogo da mídia. Quanto à verdade, não goza do mesmo privilégio. Se for conveniente aos interesses maiores, tudo bem. Se não, será dispensada sem o menor remorso. Essa é razão das publicações oportunistas que geralmente aparecem em datas de celebrações religiosas como a páscoa e o natal. Foi assim que a revista Veja na sua edição 2263, publicada em 4 de abril de 2012, não perdeu a oportunidade do “marketing pascal” de atrair leitores e fazer propaganda do livro O Sinal, que em breve será lançado no Brasil, escrito pelo historiador inglês Thomas Wesselow. A matéria da revista e o citado livro tratam do conhecido e desgastado Sudário de Turim.

Como de praxe, quando trata de matéria que se aproxime do conteúdo bíblico, os articulistas da Veja esbanjam seus equívocos e preconceitos anticristãos. Neste caso em particular, a jornalista que assina a matéria de capa comete um tropeço grave e imperdoável, inconcebível a quem quer seja signatário de matéria de capa de um conceituado periódico. A repórter mostra-se ignorante de fatos aceitos até pelos inimigos da fé, cometendo o disparate de afirmar que “afora os relatos de Flávio Josefo, historiador judeu do século I, ninguém dá notícia da existência do carpinteiro de Nazaré que morreria na cruz”. Que tremenda ignorância! Qualquer pessoa com um pouco de leitura acerca da matéria poderia facilmente relacionar as muitas provas documentais que atestam o nascimento, ministério e crucificação de Cristo. É realmente lastimável que a jornalista desconheça as muitas menções ao Carpinteiro de Nazaré constantes nos historiadores romanos Tácito (1oséc.), Plínio, o jovem (2oséc.), Célsio (2oséc.), e Suêtonio (2oséc.); nos escritos do filósofo sírio Mara Bar-Serapion (1oséc.); no Talmude Babilônico (5oséc.), sem falar de outras primitivas fontes e dos próprios escritos canônicos do Novo Testamento que, se não serão tidos por divinamente inspirados, devem ao menos ser reconhecidos no seu inestimável valor histórico-literário.

Um segundo tropeço na matéria publicada, neste caso, não diretamente da jornalista, mas de alguns estudiosos e religiosos citados na matéria, está na autocontraditória oposição feita entre verdade fatual ou histórica e verdade religiosa. Como se a verdade não fosse una, mas múltipla. A ideia pode ser classificada como incoerente no uso equivocado do termo verdade. A confusão semântica do relativismo se manifesta em que se usa uma palavra conhecida, mas esvazia-se o seu sentido consagrado. É por isso que hoje se fala não da verdade, mas de verdades. Nessa linha de raciocínio, a força destrutiva de relativismo transforma o tudo em nada, deixando a impressão que a “verdade” é uma construção particular, sem precisar corresponder à realidade que nos cerca. Daí vem a dicotomia moderna entre “verdade histórica” (real) e “verdade religiosa” (ficção).

Tal confusão brotando da mente de uma jornalista secular não é certo, mas é explicável. Porém, quando tal pensamento encontra guarida entre as convicções de uma autoridade religiosa, e no caso da matéria em análise, de uma autoridade cristã/católica, o fato chega aos limites do incrível. Entretanto, é exatamente isso que se vê nas palavras do padre Juarez de Castro, da Arquidiocese de São Paulo: “Para a Igreja, o sudário ser verdadeiro ou ser falso é um problema da ciência, não da fé”. Com tais palavras o sacerdote católico dá força à acusação de que fé e ciência são irreconciliáveis, como se a crença demandasse suicídio intelectual. O que escapa ao sacerdote é que, embora a fé cristã seja invisível, ela não é cega. O cristianismo bíblico não subsiste num nebuloso ambiente subjetivo, onde tudo são sensações místicas imateriais, que existem numa obscuridade tal não deixam o menor rastro de evidências confirmatórias no mundo sensorial. Certamente a ciência, a história e arqueologia não podem provar as afirmativas bíblicas, mas isso não significa que a fé se apoia na própria fé. Na realidade, a glória da fé cristã está exatamente na sua coerência com a realidade que nos cerca, objeto de estudo das ciências naturais e humanas. O verdadeiro cristianismo não foge da ciência nem da história, pois a Bíblia, quando corretamente interpretada mostra-se verdadeira em cada ponto de intercessão com as diversas áreas do autêntico conhecimento humano.
Essa estranha concordância entre os pressupostos da Veja e as convicções dos expoentes da fé cristã/católica explicam uma pergunta que sempre me intriga nesse tipo de matéria: Por que entre os entrevistados não são citados os que creem e defendem a veracidade bíblica? E a resposta pode facilmente ser dada na forma de sabedoria popular: “uma mão lava a outra”.

Se o assunto for cristianismo autêntico, veja a Bíblia, não veja a Veja!

A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira

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