Calebe tinha todos os melhores motivos para desistir.
Quando a terra está sendo dividida, ele já está com oitenta e cinco anos.
Estava dando as últimas voltas na carreira da vida, e o desafio que se
apresentava iria demandar muita disposição. Não seria melhor se aquietar e
esquecer a possibilidade de um novo começo? Já tinha lutado muito, por que se
envolver em mais uma guerra?
Mesmo respaldado pelas “melhores”
desculpas, Calebe não desistiu de lutar. Quando Josué, seu antigo e fiel
companheiro de espionagem, está distribuindo o quinhão de cada tribo, Calebe
reivindica a concessão da parte que lhe fora prometida. Ele sabia que essa não
era uma terra desabitada. A ocupação não seria pacífica e os inimigos estavam
bem preparados para defender sua possessão. Mesmo assim Calebe segue firme com
seu plano. Suas palavras a Josué são convincentes: “Estou forte ainda hoje como no dia em que Moisés me enviou; qual era a
minha força naquele dia, tal ainda agora para o combate, tanto para sair a ele
como para voltar” (Js. 14.11).
Ninguém vai imaginar que fisicamente
Calebe tinha o mesmo vigor de 45 anos atrás. Mas se o corpo estava era mais
frágil, o espírito era mais forte. E este revigorava aquele. Calebe não olhava
as circunstâncias, mas confiava na promessa de Deus. Ele conhecia o Senhor
bastante para saber que Sua Palavra não cairia por terra. Por isso, não podemos
dizer que Calebe era um homem impetuoso e inconsequente, que não media o preço
requerido para uma empreitada. Sua experiência de 40 anos no deserto, vivendo
no limite e na dependência de Deus fora bastante para torná-lo um homem maduro.
Calebe não é um homem intempestivo, mas um herói da fé. Ele podia projetar seu
futuro não pelo que via, mas pela sua confiança em Deus.
Gosto da história da batalha de
Leônidas e os 300 de Esparta contra Xerxes, o general persa. O combate se deu
no ano 480 a.C. Xerxes vinha furioso com o desejo de eliminar Atenas, limpando
o caminho para maior expansão do seu já grandioso império. Seguia-lhe um
colossal exército de 80.000 na cavalaria e 200.000 na infantaria. Nas pressas,
Leônidas só conseguiu ajuntar um contingente de 7.000 soldados, mas entre esses
havia um grupo seleto de 300 homens que foram treinados para jamais desistir.
Nos primeiros dias, postados em pontos estratégicos, Leônidas e seu exércitos
conseguiram deter o avanço dos persas, matando dezenas de soldados. O plano
teria funcionado bem, se não fosse pela traição de um dos soldados de Leônidas,
que ensinou o caminho para atacar os gregos pela retaguarda. Cercado, Leônidas
sabia que seu fim era certo. Numa
última tentativa de resistir, ele conduziu seus 300 a um pequeno morro onde
lutariam até a morte do último homem. Quando não tinham mais espadas, eles
lutaram com as mãos e com os dentes. Mas antes de morrer mandaram uma comovente
mensagem para casa, que se tornou em famoso epitáfio: “Estrangeiro, conta aos espartanos que nos comportamos conforme eles
desejariam que fizéssemos, e estamos enterrados aqui”.
Esta
pequena mensagem veio de um grupo de soldados heróicos que não tinham idéia do
que seria o futuro da Grécia. Eles não imaginavam que sua mensagem despertaria
um surto de orgulho e inspiraria seus compatriotas a vitórias decisivas em
Salamis e Plates fazendo com que os persas nunca mais fossem ameaça para a
Grécia. Também não sabiam que dentro de somente 30 anos, Atenas despontaria
como a cidade mais influente que o mundo jamais conheceu.
Determinados
e corajosos, eles marcaram a história ocidental com seu exemplo. Até hoje o
mundo goza de liberdade proveniente, em parte, da coragem daqueles homens. Por
causa de exemplos como esse, o filósofo Montaigne disse: “Existem derrotas triunfantes que são rivais das vitórias”.
Lutas e batalhas são parte da vida. Muitas
vezes, em certas batalhas, ficamos perplexos quanto ao o fim imediato que o
Senhor tem determinado para nós. Pode bem ser que no primeiro momento, nossa
vitória seja apenas uma triunfante derrota, pois Deus está querendo nos usar
como modelo na vida de outras pessoas. Se assim for, é porque Deus nos chamou
lutar pela fé, sem desistir, deixando o resultado nas suas mãos. Nossa vitória
será não desistir, enquanto glorificamos a Deus no meio da batalha.
Desistir é o caminho mais fácil, mas
as pessoas que fazem a história são as que não tomaram esse atalho. Calebe não
desistiu, e recebeu a recompensa. Nós também não desistiremos. Confiando nas
promessas do Senhor seguiremos, até receber também a nossa recompensa.
A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.
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