Nesse tempo simples e
escasso, meu pai iniciou seu primeiro ministério no interior do nosso estado.
Muitos irmãos moravam em sítios distantes, e mostravam-se felizes quando
recebiam a visita pastoral. Por isso, muitas vezes meu pai se propunha a
enfrentar de bicicleta a longa estrada. Minha mãe sempre ficava apreensiva e
temerosa, mas meu pai não via muitas alternativas. Assim, no dia marcado, a
jornada tinha que iniciar bem cedo, antes do sol despertar, pois quando ele
abria seus olhos, seu calor se tornava um obstáculo a mais. Muitas vezes eu o
acompanhava, sempre na dúvida se conseguiria chegar ao fim. Minha mãe não tinha
tanta certeza, mas meu pai estava certo de que eu era capaz de vencer o
desafio. E era mesmo.
Até às 9:00 horas a
viagem não era tão dura, mas daí em diante, era como se cada um de nós
tivesse um sol só para si, brilhando sobre a cabeça. Das paisagens cinzentas
margeando a estrada, aqui e ali soprava uma leve brisa, mas já vinha temperado
com o calor, trazendo pouco ou nenhum alívio. Olhando ao longe através do
brilho solar, montanhas e rochas tremiam no horizonte, e no meio dessa dança
térmica, às vezes aparecia a imagem de um riacho cortando a estrada... cruel
ilusão de ótica.
Mas nem tudo era brilho
e calor. Muitas vezes, quando já parecia que todas as forças tinham evaporado
no calor, surgia a nossa frente um juazeiro verdinho. Um abençoado oásis
de sombra desafiando a aridez do sertão. Era um certo ponto de parada.
Bicicletas ao lado, sentávamos um pouco para tomar um gole de água e recuperar
as forças. A sombra do juazeiro não marcava o fim da jornada, mas nos ajudava a
recuperar as forças necessárias para seguir mais alguns quilômetros. Era tudo
que precisávamos para não desistir.
Na estrada da vida não é
diferente. Por vezes nos vemos forçados a encarar uma longa estrada onde o
calor da provação faz a cena tremer na vista. Prosseguindo com esforço,
enxergamos um manancial de águas tranquilas, que nada mais é do que a ilusão
nascido no coração sofrido. Nessas circunstâncias, muitas vezes nosso ímpeto
diz que devemos desistir, mas quando olhamos para o Senhor, eis que surge
diante de nós uma sombra restauradora. Davi viveu um tempo de intensa provação,
tendo que se esconder no árido deserto de Judá. Mas quando meditava na graça do
Senhor, que é melhor que a vida, afirmava... “Porque tu me tens sido auxílio, à
sombra das tuas asas eu canto jubiloso” (Sl. 63.7). No Salmo 90, mais uma vez
somos lembrados da “sombra” que o Senhor providencia em nossa peregrinação
neste mundo de aflição. No verso 1, o salmista inicia sua declaração e
confiança falando daquele “que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente”.
Quando as lutas e provas
dessa vida caírem sobre nós como terríveis e abrasadoras ondas de calor,
lembremos que Deus é o nosso refúgio, Ele nos guarda e será a nossa sombra à
direita, para que de dia não nos moleste o sol, nem de noite a lua (Sl.
121.5-6).
A sombra presente do
Senhor pode não ser a demarcação do fim da jornada, mas será um indispensável
alento para continuarmos até aquele dia em que estaremos para sempre com
o Senhor.
A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.
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