“E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito, para que morramos neste deserto, onde não há pão nem água? E a nossa alma tem fastio deste pão vil”
(Nm. 21.5).
Pouco depois da minha chegada em Pasadena, quando as provisões rotineiras ainda eram maravilhosas, e as incríveis “bênçãos comuns” eram motivo de gratidão, recebi um e-mail do meu vizinho do Nepal. Assok tinha uma boa notícia…“Jenuan, você viu aquelas caixas sobre as mesas na garagem? Chegam duas vezes por semana. São donativos que um supermercado envia porque estamos morando numa residência para missionários. Vem carne, pão, frutas, verduras, ovos e outras coisas. Somente a carne é limitada a um pedaço. O resto pode pegar quanto quiser”.
“Graças a Deus! Que Maravilha! Vai aliviar o orçamento”. E comecei a aproveitar a bênção, com alegria e gratidão. Ás vezes, agradecendo enquanto recolhia os mantimentos. Nas terças a bênção tem um toque especial. Chega somente pão, mas os sacos são postos no hall superior em frente às portas. Um dia desses fiz uma surpresa para Aline. Ela ainda não sabia os detalhes sobre essas doações. Abri a porta e chamei para fora do apartamento – isso significou um breve tour num freezer, mas tudo bem. Foi por uma boa causa. Ela foi até a mesa e pegou alguns pães... “Lembrei do Maná... e do Semeador... não esqueça de dizer que a idéia foi minha”.... Está dito!
Os mantimentos ficam expostos até o fim do dia. Então, a família responsável pela limpeza toma providência para que tudo fique limpo. Zelador para condomínio particular aqui é um luxo que poucos podem pagar. Uma noite, vi uma vizinha limpando as mesas. O esposo dela estava doente e me ofereci para ajudá-la. - “Onde coloco essas caixas?”. - “Ali tem um depósito para lixo orgânico”. Tendo já visto tanta escassez nesse mundo, foi difícil jogar todas aquelas caixas cheias de alimento no lixo. Eu ainda não tinha caída no pecado da acomodação. A bênção dos donativos ainda me impressionava. E para mim a providência de Deus e o lixo não combinam.
Passados alguns dias, uma manhã abri a porta do apartamento e lá estava o bendito saco de pão. Dirigi-me à mesa e comecei a examinar os vários tipos. Olhei, escolhi, peguei um e voltei. De repente, notei que algo havia mudado em mim. A gratidão que antes brotava ao ver os mantimentos já não tinha a mesma intensidade. Mas isso não foi o pior. Na diminuição da gratidão, vi as primeiras sementes da ingratidão. Como a natureza, nossos coração aborrece o vácuo. Quando o bem recua, o mal ocupa seu lugar. E de novo a experiência do maná no deserto me veio à mente. E me vi como um daqueles murmuradores que chamaram de “pão vil” o alimento que vinha do céu. Como ter sido doído ao coração do Senhor ouvir tais palavras... E como um pai rejeitado por seus filhos o Senhor sentiu profundamente... “É isso que mereço de vocês? Milagrosamente lhes mantenho cada dia neste deserto. O que seria de vocês sem esse maná rotineiro maná? Vocês poderiam comprar e estocar alimento para essa multidão? Já pensaram no trabalho que teriam para conservar esse alimento fresco e transportar todo o peso através desse deserto? Se estou repetindo o mesmo cardápio é porque é isso que vocês precisam. A rotina que vocês aborrecem é a minha provisão para sua sobrevivência. Cada dia lhes dou um banquete, mas vocês desprezam a minha benevolência”.
Porque nos achamos merecedores dos favores do Senhor, muito facilmente nos movemos da alegria da gratidão para a amargura da ingratidão. Deus maravilhosamente mantém a rotina das mesmas bênçãos: o sol nosso de cada dia, a casa nossa de cada dia, a saúde nossa de cada dia, os livramentos nossos de cada dia, o pão nossos de cada dia. São coisas rotineiras, mas são dádivas maravilhosas que os Senhor no concede. São favores especiais de um Deus fiel, fonte de todo bem. Mas nós nem sempre vemos assim. Pensamos que as coisas tem que assim, como se a as provisões divinas que nos mantém cada dia fossem fruto do acaso. Olhe ao seu redor e verá que as coisas não tem que assim. Pergunte a que não tem os mesmos privilégios que você tem e verá que até uma simples fatia de pão não aparece do nada sobre a nossa mesa.
Que o Senhor, continue tendo paciência conosco, e não leve em conta a nossa ingratidão. Que Ele não nos retire as bênçãos rotineiras, mas mantenha por muito tempo esse ciclo maravilhoso de dormir, acordar, comer, trabalhar, adorar e continuar... continuar se maravilhando com cada pequena demonstração do se cuidado paternal.
“Perdão, Senhor, por não lhe dar graças em tudo. Mais uma vez, perdão, Senhor!”
A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira
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