A DESCONSTRUÇÃO DA APPLE
“Mas
o que peca contra mim violenta a própria alma. Todos os que me aborrecem amam a
morte.” (Pv. 8.36)
Como
um autêntico representante da estranha sabedoria desse mundo, o judeu argelino
Jacques Derrida (1930-2004) iniciou um movimento linguístico-filosófico sobre o
conceito da ‘Desconstrução’. Esse
pensamento caiu como uma bomba no meio intelectual. A proposta era contrária a
tudo que se pensava até o momento, pois em termos simples dizia: “Não existem
fatos, apenas interpretações.” A partir daí tudo se torna fluido, instável e
relativo. Não existem fatos, perde-se a objetividade e cada pessoa pode ser e
viver aquilo que interpreta.
Para mim não resta dúvida de que Steve Jobs,
ícone na história da informática, notável fundador da Apple, encarnou a
filosofia da desconstrução. A sua ‘interpretação’ da vida estava sempre com
conflito com a normalidade. Sua missão era desmontar e desintegrar os conceitos
ancorados na verdade e aprovados no teste do tempo. Querendo ser ‘uma
metamorfose ambulante’, já aos 15 anos começou a consumir maconha. Desse ponto
em diante, trilhou por uma estrada de desafios e independência que o fez viver
descalço como um vegetariano radical e incontrolável consumidor de LSD.
Converteu-se à religião zen-budista e aos 19 anos partiu para uma viagem de
peregrinação na Índia, que levaria sete meses.
Na
sua cruzada de desconstrução e relativismo, Steve Jobs precisou criar seus
próprios absolutos. Considerando-se um mini deus, fazia prevalecer sua posição
por meio da arrogância e da soberba. Nos seus domínios a conveniência e loucura
estavam acima da sensatez. Uma das dificuldades na escrita da sua biografia era
um problema que seus chamava de ‘campo de distorção da realidade. ’ Em termos
simples, sua propensão à mentira. Confuso pela ilusão da sua mente alterada,
Steve não se importava se o que estava dizendo podia ser conferido com os
fatos. Nada estranho, para quem acredita que os fatos não existem. Seguindo
essa concepção, Steve Jobs não fazia diferença entre o mundo real e o virtual.
Tamanha era a confusão na sua mente que ele achava que viver ou morrer era como
mover o seletor de um aparelho eletrônico para a posição on/off.
Toda essa estranha relação entre
desconstrução, realidade e ilusão confirma as palavras de Paulo quando afirma
que os homens “inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” (Rom. 1.22). E nessa
loucura passaram a se orgulhar por serem agentes da destruição.
Um
fato marcante para quem estuda as Escrituras é a constatação de que o movimento
de desconstrução promovido pelos sábios desse mundo vai de encontro ao
movimento de reconstrução iniciado por meio de Cristo. Quando “o Verbo se fez
carne e habitou entre nós” fez surgir no universo uma força de coesão cósmica
que há de prosseguir e prosperar até que ‘Deus
seja tudo em todos’ (1 Cor. 11.28). Enquanto o pecado dissemina a
desintegração da realidade, o poder da obra de Cristo a cruz e a Sua vitória na
ressurreição a reintegração de toda realidade, pois o Pai propôs convergir no
Filho todas as coisas, ‘tanto as do céu,
como as da terra’ (Ef. 1.10).
Infelizmente,
a despeito da manifestação presente dos efeitos agregadores da obra de Cristo,
os homens preferem seguir pelo caminho da desconstrução. O problema com tal
pensamento, é que o homem é aquilo que pensa. Quem prefere se aventura nos
caminhos da desconstrução da realidade logo verá que está descontruindo seu
próprio ser, pois está violentando a sua própria alma. Quem se deleita em negar
a existência da verdade, logo será engolido pela sua própria negação e terá
dificuldade de distinguir entre o real e o virtual. Aos poucos esse conceito
será internalizado e a pessoa se tornará “como a lesma, que passa
diluindo-se...” (Sl. 58.8).
Perdido
na sua própria mente, Steve Jobs passou a viver num mundo distorcido. No final,
ele já não podia distinguir entre a distorção da realidade e a realidade da
distorção. Não podia fazer separação entre o tudo e o nada. Ao final, não
somente o seu corpo se desintegrava pelos efeitos do câncer de pâncreas, mas a
sua alma se desfigurava e se diluía. Aborreceu Aquele que é a Fonte da Vida, e
se tornou um amante da morte.
O
que a sabedoria do mundo destrói, Cristo reconstrói. Ele junta os pedaços de
uma vida desintegrada e transforma em uma nova criatura, “criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade”
(Ef. 4.24).
A
serviço do Mestre,
Pr.
Jenuan Lira.
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