terça-feira, 14 de abril de 2015

A DESCONSTRUÇÃO DA APPLE

Mas o que peca contra mim violenta a própria alma. Todos os que me aborrecem amam a morte.” (Pv. 8.36)

            Como um autêntico representante da estranha sabedoria desse mundo, o judeu argelino Jacques Derrida (1930-2004) iniciou um movimento linguístico-filosófico sobre o conceito da ‘Desconstrução’. Esse pensamento caiu como uma bomba no meio intelectual. A proposta era contrária a tudo que se pensava até o momento, pois em termos simples dizia: “Não existem fatos, apenas interpretações.” A partir daí tudo se torna fluido, instável e relativo. Não existem fatos, perde-se a objetividade e cada pessoa pode ser e viver aquilo que interpreta.
                 Para mim não resta dúvida de que Steve Jobs, ícone na história da informática, notável fundador da Apple, encarnou a filosofia da desconstrução. A sua ‘interpretação’ da vida estava sempre com conflito com a normalidade. Sua missão era desmontar e desintegrar os conceitos ancorados na verdade e aprovados no teste do tempo. Querendo ser ‘uma metamorfose ambulante’, já aos 15 anos começou a consumir maconha. Desse ponto em diante, trilhou por uma estrada de desafios e independência que o fez viver descalço como um vegetariano radical e incontrolável consumidor de LSD. Converteu-se à religião zen-budista e aos 19 anos partiu para uma viagem de peregrinação na Índia, que levaria sete meses.
                Na sua cruzada de desconstrução e relativismo, Steve Jobs precisou criar seus próprios absolutos. Considerando-se um mini deus, fazia prevalecer sua posição por meio da arrogância e da soberba. Nos seus domínios a conveniência e loucura estavam acima da sensatez. Uma das dificuldades na escrita da sua biografia era um problema que seus chamava de ‘campo de distorção da realidade. ’ Em termos simples, sua propensão à mentira. Confuso pela ilusão da sua mente alterada, Steve não se importava se o que estava dizendo podia ser conferido com os fatos. Nada estranho, para quem acredita que os fatos não existem. Seguindo essa concepção, Steve Jobs não fazia diferença entre o mundo real e o virtual. Tamanha era a confusão na sua mente que ele achava que viver ou morrer era como mover o seletor de um aparelho eletrônico para a posição on/off.
                Toda essa estranha relação entre desconstrução, realidade e ilusão confirma as palavras de Paulo quando afirma que os homens  “inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” (Rom. 1.22). E nessa loucura passaram a se orgulhar por serem agentes da destruição.
                Um fato marcante para quem estuda as Escrituras é a constatação de que o movimento de desconstrução promovido pelos sábios desse mundo vai de encontro ao movimento de reconstrução iniciado por meio de Cristo. Quando “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” fez surgir no universo uma força de coesão cósmica que há de prosseguir e prosperar até que ‘Deus seja tudo em todos’ (1 Cor. 11.28). Enquanto o pecado dissemina a desintegração da realidade, o poder da obra de Cristo a cruz e a Sua vitória na ressurreição a reintegração de toda realidade, pois o Pai propôs convergir no Filho todas as coisas, ‘tanto as do céu, como as da terra’ (Ef. 1.10).
                Infelizmente, a despeito da manifestação presente dos efeitos agregadores da obra de Cristo, os homens preferem seguir pelo caminho da desconstrução. O problema com tal pensamento, é que o homem é aquilo que pensa. Quem prefere se aventura nos caminhos da desconstrução da realidade logo verá que está descontruindo seu próprio ser, pois está violentando a sua própria alma. Quem se deleita em negar a existência da verdade, logo será engolido pela sua própria negação e terá dificuldade de distinguir entre o real e o virtual. Aos poucos esse conceito será internalizado e a pessoa se tornará “como a lesma, que passa diluindo-se...” (Sl. 58.8).
                Perdido na sua própria mente, Steve Jobs passou a viver num mundo distorcido. No final, ele já não podia distinguir entre a distorção da realidade e a realidade da distorção. Não podia fazer separação entre o tudo e o nada. Ao final, não somente o seu corpo se desintegrava pelos efeitos do câncer de pâncreas, mas a sua alma se desfigurava e se diluía. Aborreceu Aquele que é a Fonte da Vida, e se tornou um amante da morte.
                O que a sabedoria do mundo destrói, Cristo reconstrói. Ele junta os pedaços de uma vida desintegrada e transforma em uma nova criatura, “criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef. 4.24).

                A serviço do Mestre,

                Pr. Jenuan Lira.

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