Há
coisas que só se aprende com o passar do tempo. Aprender a contar o tempo é uma
delas. Ocorre, então, que, se para aprender a contar o tempo precisamos da
passagem do tempo, na realidade quando iniciarmos a medição do tempo, muito
tempo já terá se passado. O tempo não perde tempo, ele é o preço de si mesmo.
No salmo 90, Moisés ora ao Senhor
enquanto compara a eternidade de Deus, Sua atemporalidade, com a
transitoriedade do homem. Aqui, o Moisés que fala já tem muitos anos de
estrada. Não é o jovem vigoroso que feriu o egípcio aos 40 anos. Muitas águas
rolaram e ele já vê o fim da linha, restando-lhe apenas “canseira e enfado”. Nesse momento, consciente de que o tempo não
pára, mas prossegue na sua corrida sem volta, pede ao Senhor: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que
alcancemos coração sábio”. Contar o tempo antes que já não haja tempo
nenhum, eis o segredo da sabedoria.
Em Eclesiastes 3, Salomão diz que “há tempo para todo propósito debaixo do
sol”. Mas a dificuldade é definir “debaixo
do sol” o propósito em que se vai empregar o tempo. Salomão mesmo sofreu
por não saber fazer bom uso do tempo durante um período longo da sua breve
vida. Especialmente na sua juventude ele deixa o tempo por conta, e como disse
o poeta: “como dar em tempo tanta conta,
eu que sem conta gastei tanto tempo”?
Nos dias da mocidade tudo é uma
festa. Corremos pela vida despreocupados, pois ainda há muito chão. Pouco
atentamos para o fato de que “tudo passa rapidamente e nós voamos”. E
assim, desavisadamente deixamos de investir esse belo tempo de mocidade naquilo
que vale a pena. Salomão se preocupou com isso e deixou um testemunho a fim de
avisar aos jovens para não caírem na ilusão de pensar que na juventude não se
precisa contar o tempo. Lembra-te do teu
Criador, nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias... Foi o
brado final do sábio no último capítulo de Eclesiastes. Por quê? Porque dentro
de pouco tempo o tempo terá passado, então se romperá o fio de prata da vida, e se despedaçará o copo de ouro, o pó voltará à terra, e o espírito voltará a Deus que o deu. Então, só então,
você saberá se a vida valeu à pena.
Perceber tarde que não há mais tempo
é a terrível angústia de todo aquele que não teve tempo para Deus. Foi o caso
de Cassimiro de Abreu, poeta da segunda geração do Romantismo brasileiro.
Entediado com o vazio da vida, sem querer encontrar em Deus a saída para sua
angústia existencial, o jovem Cassimiro entregou-se aos prazeres do mundo, a
exemplo de Salomão. Querendo fugir dos problemas em casa, bolou um plano para
enganar seu pai, a fim de receber ajuda para ir para Lisboa. Livre, encantou-se
com o mundo intelectual boêmio, vindo a contrair tuberculose aos 17 anos.
Sozinho, doente, ele sentiu saudades
da sua pátria. E mesmo sem ter se preocupado em buscar a Deus nos dias da
mocidade, ele pede ao Senhor que lhe conceda mais alguns anos. Na sua Canção do
Exílio ele chora... “Se eu tenho de
morrer na flor dos anos / Meu Deus! Não seja já... Meu Deus, eu sinto e tu bem
vês que eu morro / Respirando este ar; /
Faz que eu viva, Senhor! Dá-me de novo / Os gozos do meu lar!
Faz que eu viva, Senhor! Dá-me de novo / Os gozos do meu lar!
Infelizmente não havia mais tempo.
Tempo perdido é vida perdida. Cassimiro morreu aos 21 anos, mas não sem deixar
registrada sua dor pelo tempo que não podia reviver. Em Meus Oito Anos, provavelmente sua poesia mais conhecida, ele declama
em profunda melancolia a saudade de tempos que não voltam mais – “ Oh ! Que saudades que tenho / Da aurora da minha
vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais”!
Deus não vive no tempo, mas Ele
criou o tempo para que vivamos nele. Ter tempo para Deus é simplesmente dedicar
a Deus cada minuto da vida, contando os dias para a glória de Deus. Não há
melhor maneira de aproveitar o tempo.
A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.
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