NO CORREDOR DA MORTE
“Louco, esta noite te pedirão a tua
alma;
e o que tens preparado, para quem
será?” (Lucas 12.20)
Nusakambangan
é uma bela ilha localizada perto de Java, na Indonésia. Um lugar bonito,
tranquilo e seguro. Mas os que moram na ilha preferiam não estar lá, porque
essa ilha tem um apelido pavoroso: “ilha das execuções”. Presos da Indonésia
que são condenados à pena de morte são transferidos para Nusakambangan para
aguardar o dia da execução.
Como
acontece com muitos condenados à morte, uma vez sentenciados, tornam-se mais
religiosos. Por isso dentro das prisões, sete ao todo, foram construídas uma
capela, um templo budista e uma mesquita. O clima na ilha é sempre harmonioso,
“exceto quando chega a hora das execuções”,
declarou um padre irlandês. Lamentavelmente a triste história do carioca Marcos
Archer, fuzilado no último mês de janeiro, não fugiu à regra. O padre que o
observou nos últimos momentos deu o seguinte relato: “A execução aconteceu à meia noite e trinta minutos, como tem sido
ultimamente. Horas antes da morte, Marcos estava em prantos e absoluto desespero.
Não fui permitido chegar perto dele... quando o pegaram na cela, ele estava tão
apavorado que chegou a defecar na própria roupa.”
O
desespero diante da morte é a regra ou seria possível enfrentar esse momento
com serenidade e antecipação? Tive um amigo no corredor da morte. Não cometeu nenhum
crime, muito ao contrário. A morte se aproximava devido a decadência ‘normal’
que o passar dos anos traz a todos os homens. Quando o visitei pela última vez,
ele já não conseguia ficar em pé, e escutava com grande dificuldade, pois já
chegava aos oitenta. Com a mente lúcida como sempre, continuava pregando
semanalmente. Sentava-se numa cadeira perto do púlpito, e por cerca de uma hora
expunha a Palavra de Deus. Era um homem conhecido e muito requisitado para a
conferências. Por isso, certa vez um pastor, também amigo meu, o ligou a fim de
convidá-lo para vir a sua igreja para um evento que correria dentro de dois
anos. A resposta do meu velho amigo foi interessante: “Pastor, agradeço o convite, mas nessa data espero já estar na glória.”
E assim foi. Não demorou muito, e a alma do meu amigo foi requerida. Ele não
tinha falsa ilusão sobre sua permanência nessa vida, nem estava buscando isso.
Sabia que estava no ‘corredor da morte’, que, no seu caso, era também o
‘corredor da glória’.
Não
existe homem forte diante da morte, mas o desespero não precisa ter a palavra
final. Eu nunca morri (vocês não estão lendo um texto escrito do além...acreditem!),
mas observando histórias de morte, tanto na Bíblia como fora dela, parece-me
que a angústia maior não é tanto a morte em si, mas a incerteza do que vem nos
espera além do túmulo. As trevas da morte são terríveis, mas não são desesperadoras,
quando temos certeza de que o sol vai brilhar do outro lado. Estêvão, o
primeiro mártir cristão, teve uma morte sofrida. Foi apedrejado. Mas nos seus
últimos momentos, ao invés de desespero, ele ergueu os olhos ao céu e viu a
glória de Deus e Jesus, que estava a Sua direita, e disse: “Eis que vejo os
céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus.” (Atos 7.56).
Enquanto recebia as últimas pedradas, Estêvão dizia: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito.” Depois, ajoelhou-se, orou pelos
seus executores e “adormeceu.” Que
cena linda, que vitória, que esperança, que diferença! Dirigido pelo Espírito
Santo, Lucas evita o verbo morreu e diz que Estêvão adormeceu. Morrer é
terrível, mas dormir é bom. Quem dorme no Senhor descansa, restaura as suas
forças, e acorda com o brilho radiante do “Sol
da justiça, trazendo salvação nas suas asas” (Malaquias 4.2).
Certa
vez, Jesus foi perguntado acerca da morte de 18 pessoas sobre quem uma torre
havia desabado. Esquecendo os mortos, e se dirigindo aos vivos, Ele disse: “Pensais que esses galileus eram mais
pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não
eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis”
(Lucas 13.2-3).
Em
um aspecto bem real, todos, sem exceção, estamos no corredor da morte. Mas será
que podemos afirmar que o caminho da morte será o caminho da glória? Um dia,
cedo ou tarde, os portais da eternidade se abrirão e a nossa alma será requerida. O corpo voltará à
terra, de onde veio, e alma se apresentará diante de Deus, que o deu
(Eclesiastes 12.7). Esse é o nosso
caminho, e não podemos fugir da realidade. Achamos que só chega o dia dos
outros, mas esquecemos que um dia ‘os outros’ seremos nós, e “se não vos arrependerdes todos igualmente
perecereis.”
Não interessa o dia. Se tivermos verdadeiramente
nos arrependido, colocado nossa fé verdadeiramente em Cristo Jesus, o Cordeiro
de Deus que foi morto pelo nossos pecados, e ressuscitou para nossa
justificação, a estrada da morte se converterá na estrada da vida, pois Cristo
disse: “Em verdade, em verdade
vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida
eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.”
(João 5.24).
A
serviço do Mestre,
Pr.
Jenuan Lira
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