ESTRADA
DA VIDA
“Este é o mal
que há em tudo quanto se faz debaixo do sol: a todos sucede o mesmo; também o
coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem;
depois, rumo aos mortos.” (Eclesiastes 9.3)
“Nesta
longa estrada da vida
/ Vou correndo e não
posso parar
Na
esperança de ser campeão /
Alcançando
o primeiro lugar
Na
esperança de ser campeão
/Alcançando
o primeiro lugar
Mas
o tempo cercou minha estrada
/ E o cansaço
me dominou
Minhas
vistas se escureceram
/ E o final da
corrida chegou”
Um artista nunca morre só. Com
ele segue um pouco de cada homem, e muitos sonhos, emoções, ilusões e
esperanças descem com ele à sepultura. Foi
isso que ocorreu semana passada (03/mar) com a morte repentina do consagrado
cantor sertanejo José Rico, aos 68 anos, de parada cardíaca.
Como todo verdadeiro artista,
José Rico conseguiu por mais de 30 anos exprimir
pela sua música os receios, anseios e devaneios que se abrigam na alma. Essa é
função do artista: comunicar por meio da arte a realidade profunda do coração
humano, sendo um representante de cada homem. Todos sentem, mas somente o artista consegue expressar o
sentimento.
Fernando Pessoa disse que o
artista é um fingidor e um sofredor, pois ‘às
vezes finge ser dor, a dor que deveras sente.’ Concordo plenamente. O
artista tem obsessão pela eternidade, mas vive sob o peso da brevidade. José
Rico tinha um sonho de seguir na longa estrada da vida, mas sabia que embora correndo na expectativa de que
seria um campeão estava fadado à derrota, pois na luta pela vida, a morte
sempre ganha (Eclesiastes 8.8). Foi assim que José Rico precisou encarar
relutantemente a dura realidade de que a estrada da vida estava se acabando, o
cansaço se tornou insuportável, os olhos perderam o brilho e foi preciso
encerrar a corrida presente para iniciar a corrida eterna.
A dor do artista é a dor de todo
homem. Enquanto dentro de nós algo clama por vida, sabemos que nossos pés se
dirigem para a morte. Estamos em queda livre em direção à eternidade, e em nós
mesmos não há força para evitar o fatal destino. Mais cedo ou mais tarde o
tempo vai cercar nossa estrada, e a primeira parte da corrida chegará ao seu
fim.
Infelizmente, por indomável
força da corrupção do pecado, a arte anda muito perto da ilusão. Ao mesmo tempo
em que nos alerta para o final da corrida, não nos desperta nem informa sobre o
que se segue depois que uma pessoa cruza os portais eternos. E na verdade, nem
pode, pois o conhecimento da eternidade, a segunda metade da corrida da vida,
não se conhece por meio da sensibilidade do artista, mas por revelação do
Criador. O artista nos avisa que a estrada está acabando, mas não pode nos
oferecer alento e certeza para o além-túmulo. Tudo o que ele sabe que em breve
terá que assumir que “o final da corrida
chegou”, quanto ao que se segue o que resta é um pavoroso silêncio.
O final da corrida de José Rico
é semelhante ao que acontece com todo homem. Mesmo sabendo que ‘tudo passa rapidamente e nós voamos’
(Salmo 90.10), preferimos investir tudo na breve corrida da vida, como se
fôssemos continuar correndo para sempre. Pelo que se sabe, o nome José Rico,
pseudônimo para José Alves dos Santos, era mais uma ilusão da arte, pois ele
não era um homem realmente rico. No entanto, José Rico investiu muito do que
tinha na construção de um castelo que tinha 100 quartos. A obra inacabada foi
iniciada há mais de 24 anos e se localiza às margens da rodovia Anhanguera (SP
330), em Limeira. Perguntado sobre a razão da obra faraônica e desproporcional,
José Rico respondeu: “Ali é o meu mundo.
Estou construindo para mim e para meus filhos.” Entendo o artista: se
aquilo era o seu mundo, então ali deveria estar seu maior investimento. O
problema do artista foi não perguntar seriamente: “Ali é o meu mundo? Ali será
a minha habitação eterna?” Aparentemente ele não fez essas perguntas em tempo
hábil. A corrida acabou, mas a obra não... que pena!!
Parte
mais um artista, fica mais uma lição. Em Eclesiastes 12.5 Salomão nos lembra
que nossos pés seguem para ‘a casa eterna’. Mas Jesus nos disse que a estrada
eterna se divide em dois caminhos: um caminho largo que leva à perdição e um
caminho estreito que conduz à vida eterna: “Entrai pela porta estreita
(larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são
muitos os que entram por ela)” (Mateus 7.13). Esse caminho estreito não é
uma ideologia, filosofia ou religião uma Pessoa: “Respondeu-lhe Jesus: Eu
sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.”
(João 14.6).
A
corrida do José Rico acabou, mas a sua ainda não. Mas, por favor, não espere
até o último momento, quando o cansaço lhe tiver dominado. Corra para os braços
do Redentor hoje mesmo, pois Ele é “manso
e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mt 11.29).
A
serviço do Mestre,
Pr.
Jenuan Lira.
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