A
ESCOLA DO DESERTO
“E logo o Espírito o impeliu para o deserto, onde
permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, mas
os anjos o serviam.”(Mc. 1.12-13)
As mais impressionantes
manifestações do SENHOR ao Seu povo não se deram nem no Egito, nem além do
Jordão, mas no deserto do Sinai. Quando a presença de Deus se manifesta no
nosso deserto, as lições que aprendemos nunca mais serão esquecidas. Talvez
seja essa convicção que inspirou o famoso escritor C. S. Lewis a afirmar em sua
obra O Problema da Dor: “Deus
sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas
horas de sofrimento: esse é o megafone de Deus para despertar um mundo surdo”.
O deserto fez parte da vida de
todos os que Deus quis usar para fazer diferença nesse mundo incluindo Seu
próprio Filho. Os evangelistas unanimemente relatam que após o batismo, o
deserto foi a próxima parada preparatória do Senhor. Durante longos quarenta
dias, o Senhor Jesus Cristo se submeteu à solidão e a dureza da vida no
deserto. Foram dias difíceis, mas necessários. Todas as tentações que lhe
sobreviriam foram antecipadas no deserto. Tendo os olhos voltados para o Pai e
a mente saturada pela verdade das Escrituras, Jesus saiu do deserto pronto para
servir a Deus e obedecê-Lo, sendo capaz de manter firme o seu propósito até à
morte ‘e morte de cruz’.
A maneira com Marcos descreve
brevemente a fase de preparação de Jesus no deserto chama a atenção pela
impressão de que o deserto era indispensável... “e logo o Espírito o impeliu para o deserto...” Depois do batismo, o
deserto era a próxima e necessária parada. O verbo impeliu transmite a ideia de
um movimento rápido, impetuoso e coercitivo. Tem a noção de empurrar com
firmeza e determinação, sem deixar muita opção de escolha. Esse verbo também
significa enviar com um propósito (Mt. 9.38), expulsar (Mt. 21.39), fazer
seguir por uma direção determinada.
É contra nossa tendência natural
imaginar que Deus iria nos ‘expulsar’ para o deserto por algum bom propósito,
mas é assim que a Bíblia apresenta. Deus sabe que se dependesse de nós,
seguiríamos sempre pelo caminho mais ameno, longe do calor e das privações do
deserto. Mas o Senhor sabe o que deserto pode fazer em nós. Deus usa o calor e
o desconforto da solidão, das angústias e das dores como instrumentos de
purificação da nossa fé. A caminhada no deserto galvaniza nosso caráter
tornando-nos úteis aos propósitos do Senhor. Quem deseja separa o ouro das escórias
não pensa na amenidade das sombras, mas no escaldante calor da fornalha.
Escrevendo a cristãos perseguidos por amor a Cristo, o apóstolo Pedro lhes
exorta a não esquecerem que durante nossa peregrinação nesse mundo, por breve
tempo seremos contristados por várias provações, mas isso tem um propósito: “para
que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro
perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na
revelação de Jesus Cristo (1Pe 1.7).
A maravilhosa história da
libertação de Israel do Egito não seria a mesma sem o tenebroso deserto do
Sinai. Segundo Êxodo 13.17-18, Deus planejou o deserto a fim de que a jornada
pudesse ser completa. Enquanto seguiam pelo caminho mais difícil, o Senhor os
livrava dos inimigos e se revelava de maneira especial ao povo. Por causa da
secura do deserto, o povo contemplou o milagre da água saindo da rocha. No
deserto Israel podia ver a provisão do Senhor em cada detalhe. Durante o dia o
Senhor era Sua sombra, durante a noite o Senhor era Sua luz. Era difícil achar
comida? O Senhor mandava o maná. Durante os 40 anos no deserto Israel sabia que
dependência do Senhor era uma questão de sobrevivência. Ainda que tentassem
viver independes, dentro de pouco tempo
retornavam, pois no deserto o Senhor era a única opção.
Lembrando o exemplo do Senhor
Jesus e de tantos outros devemos reconhecer que a escola do deserto é
indispensável para nosso crescimento e serviço ao nosso Rei. Mas precisamos ter
a atitude correta, e a visão espiritual aguçada, afinal o sol que seca o barro
é o mesmo que derrete a cera. O que para
o mundo é destruição e derrota, para os servos de Cristo é o caminho da glória.
Na bonança lembramos de Deus, na angústia dependemos dEle.
O deserto não é o
lugar para se morar, mas o lugar para se aprender preciosas lições. Se o Senhor
está lhe conduzindo por lugares áridos é porque Ele precisa da Sua atenção.
Tire os olhos das circunstâncias e volte o seu olhar para Ele. À medida que sua
visão espiritual for sendo refinada, você verá que a experiência de Cristo será
também a sua... “estava com as feras, mas os anjos o serviam”.
A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.
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