sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A ESCOLA DO DESERTO



“E logo o Espírito o impeliu para o deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos o serviam.”(Mc. 1.12-13)

                As mais impressionantes manifestações do SENHOR ao Seu povo não se deram nem no Egito, nem além do Jordão, mas no deserto do Sinai. Quando a presença de Deus se manifesta no nosso deserto, as lições que aprendemos nunca mais serão esquecidas. Talvez seja essa convicção que inspirou o famoso escritor C. S. Lewis a afirmar em sua obra O Problema da Dor: “Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas horas de sofrimento: esse é o megafone de Deus para despertar um mundo surdo”.
                O deserto fez parte da vida de todos os que Deus quis usar para fazer diferença nesse mundo incluindo Seu próprio Filho. Os evangelistas unanimemente relatam que após o batismo, o deserto foi a próxima parada preparatória do Senhor. Durante longos quarenta dias, o Senhor Jesus Cristo se submeteu à solidão e a dureza da vida no deserto. Foram dias difíceis, mas necessários. Todas as tentações que lhe sobreviriam foram antecipadas no deserto. Tendo os olhos voltados para o Pai e a mente saturada pela verdade das Escrituras, Jesus saiu do deserto pronto para servir a Deus e obedecê-Lo, sendo capaz de manter firme o seu propósito até à morte ‘e morte de cruz’.
                A maneira com Marcos descreve brevemente a fase de preparação de Jesus no deserto chama a atenção pela impressão de que o deserto era indispensável... “e logo o Espírito o impeliu para o deserto...” Depois do batismo, o deserto era a próxima e necessária parada. O verbo impeliu transmite a ideia de um movimento rápido, impetuoso e coercitivo. Tem a noção de empurrar com firmeza e determinação, sem deixar muita opção de escolha. Esse verbo também significa enviar com um propósito (Mt. 9.38), expulsar (Mt. 21.39), fazer seguir por uma direção determinada.
                É contra nossa tendência natural imaginar que Deus iria nos ‘expulsar’ para o deserto por algum bom propósito, mas é assim que a Bíblia apresenta. Deus sabe que se dependesse de nós, seguiríamos sempre pelo caminho mais ameno, longe do calor e das privações do deserto. Mas o Senhor sabe o que deserto pode fazer em nós. Deus usa o calor e o desconforto da solidão, das angústias e das dores como instrumentos de purificação da nossa fé. A caminhada no deserto galvaniza nosso caráter tornando-nos úteis aos propósitos do Senhor. Quem deseja separa o ouro das escórias não pensa na amenidade das sombras, mas no escaldante calor da fornalha. Escrevendo a cristãos perseguidos por amor a Cristo, o apóstolo Pedro lhes exorta a não esquecerem que durante nossa peregrinação nesse mundo, por breve tempo seremos contristados por várias provações, mas isso tem um propósito: “para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo (1Pe 1.7).
                A maravilhosa história da libertação de Israel do Egito não seria a mesma sem o tenebroso deserto do Sinai. Segundo Êxodo 13.17-18, Deus planejou o deserto a fim de que a jornada pudesse ser completa. Enquanto seguiam pelo caminho mais difícil, o Senhor os livrava dos inimigos e se revelava de maneira especial ao povo. Por causa da secura do deserto, o povo contemplou o milagre da água saindo da rocha. No deserto Israel podia ver a provisão do Senhor em cada detalhe. Durante o dia o Senhor era Sua sombra, durante a noite o Senhor era Sua luz. Era difícil achar comida? O Senhor mandava o maná. Durante os 40 anos no deserto Israel sabia que dependência do Senhor era uma questão de sobrevivência. Ainda que tentassem viver independes, dentro de pouco tempo  retornavam, pois no deserto o Senhor era a única opção.
                Lembrando o exemplo do Senhor Jesus e de tantos outros devemos reconhecer que a escola do deserto é indispensável para nosso crescimento e serviço ao nosso Rei. Mas precisamos ter a atitude correta, e a visão espiritual aguçada, afinal o sol que seca o barro é o mesmo que derrete a cera.  O que para o mundo é destruição e derrota, para os servos de Cristo é o caminho da glória. Na bonança lembramos de Deus, na angústia dependemos dEle.
O deserto não é o lugar para se morar, mas o lugar para se aprender preciosas lições. Se o Senhor está lhe conduzindo por lugares áridos é porque Ele precisa da Sua atenção. Tire os olhos das circunstâncias e volte o seu olhar para Ele. À medida que sua visão espiritual for sendo refinada, você verá que a experiência de Cristo será também a sua... “estava com as feras, mas os anjos o serviam”.

                A serviço do Mestre,

                Pr. Jenuan Lira.

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