terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A DOR DA ACEROLA

“Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados,
fruto de justiça” (Hb 12.11).

            “Não tem o que fazer. A morte é uma questão de tempo”, disse o jardineiro examinando o ressecado pé de acerola. Sua conclusão era baseada no fato de que uma erva daninha proveniente das fezes das aves tinha brotado nos galhos e se espalhava pela planta inteira. Então, segundo o ‘especialista’ a doença era irreversível e nada mais poderia ser feito. Na sua opinião, era melhor cortar logo para liberar o terreno e evitar sujeira.
            Ao ouvir a sentença de morte e a disposição do ‘carrasco’ para dar o “tiro de misericórdia” na pobre vítima,  uma espécie de “compaixão botânica” nasceu dentro de mim, que me levou a pensar em alternativas para evitar o pior. Assim, resolvi fazer uma poda completa, que me consumiu toda a manhã do meu dia de folga. Apoiado sobre um cavalete, de posse do velho facão, partir para na minha luta com o pensamento de que talvez a morte pudesse ser detida. Decidi fazer uma poda total, cortando cada galho onde a praga se manifestava. Como a doença tinha se alastrado demais, poucas partes da árvore foram poupadas dos golpes do facão.  Seguramente mais de 80 por cento da copa foi decepada. Depois coloquei fertilizante na raiz e tive o cuidado de aguar pelo menos uma vez por dia. Alguns dias após a poda, notei que havia flores brotando em todo canto. Continuei aguando e observando, até que notei que as flores começavam a se transformar em pequenos botões. Eram muitos e era realmente incrível. A vida renascia onde antes a morte parecia reinar absoluta. Maravilhado, todas as manhãs eu examinava para ver o desenvolvimento do processo. Exatamente dentro de um mês eu estava bebendo o primeiro copo de suco de acerola, cheio de vitamina e de significado. O sofrimento da limpeza redundara no reflorescimento da vida, que brotou com força produzindo uma enorme quantidade de frutos lindos e saborosos.
            Esse episódio me lembrou o ensino do Senhor Jesus mencionado em João 15:1-2. Nesse texto Ele é a videira, nós os ramos, e dEle flui a seiva que mantém nossa vida eterna. A manutenção desse ‘jardim divino’ é responsabilidade do Pai. Por isso, quando um ramo perde sua capacidade de produzir e seca, o Pai realiza uma limpeza, que pode ser extremamente dolorosa. Quanto mais profunda a doença, maior a dor para extirpá-la. Mas o Pai sabe o que está fazendo. Ele não está nos rejeitando, nem sonegando Seu amor. Ao contrário, porque Ele nos ama e deseja que tenhamos vidas significativas, Ele usa os seus instrumentos cortantes para retirar de nós tudo aquilo que nos impede de frutificar. Afinal, “... ele faz a ferida e ele mesmo a ata; ele fere, e as suas mãos curam” (Jó 5.18).  Ele nos quer semelhantes a uma árvore produtiva, nunca como um arbusto solitário no deserto (Jr. 17:6).
            Devido às contradições e distorções introduzidas pelo pecado, fugimos da dor e buscamos o prazer a todo custo. Mas esse pode ser o caminho da morte. O que seria do nosso corpo sem a dor? Não é essa sensação desagradável que nos preserva da destruição? O paciente acometido por hanseníase daria tudo para voltar a sofrer dores. Suas deformidades são resultado de uma vida indolor. Deus, o Criador do corpo e da alma, sabe muito bem que as lágrimas de dores, muitas vezes são semente de vida. Por isso, Ele nos disciplina antes que o nosso coração fique endurecido demais para reagir. Se seguimos nosso caminho de perdição infestados pelos ‘parasitas’ do pecado e as dores da disciplina divina não nos afligem, algo muito preocupante está acontecendo, “...pois que filho há que o pai não corrige?” (Hb. 12.6). É infinitamente melhor ser um filho de Deus gemendo sob o peso da dura correção paternal, do que um bastardo que segue seu feliz caminho de perdição, sem receber a disciplina do Pai Celeste. Imagino que se o pé de acerola falasse (se bem que muitas vezes eu pensei que sim!), ele teria reagido... “Por que me cortas? Você não tem piedade? Não sente a minha dor cada vez que um galho é cortado?”.  E eu, ainda com o facão em punho, teria dito: “Sinto muito dona acerola, mas não tem outro meio. Ou eu lhe corto, ou você morre.” E se ela insistisse eu ira fazê-la calar com as palavras de Jesus: “O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo. 13:7). 
Para que não venhamos a murchar sufocados pela ação parasita do pecado que endurece o coração e destrói nossa sensibilidade espiritual, o Jardineiro Celeste precisa nos disciplinar. É bom? Certamente não, mas é o remédio amargo que produz doces resultados. A dor virá, mas é a dor que nos cura e faz que da nossa vida seja uma ‘vida suculenta’ e abundante, resultado da fonte de vida a jorrar dentro de nós.

A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.


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