A DOR DA ACEROLA
“Toda disciplina, com
efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao
depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados,
fruto de justiça” (Hb
12.11).
“Não
tem o que fazer. A morte é uma questão de tempo”, disse o jardineiro examinando
o ressecado pé de acerola. Sua conclusão era baseada no fato de que uma erva
daninha proveniente das fezes das aves tinha brotado nos galhos e se espalhava
pela planta inteira. Então, segundo o ‘especialista’ a doença era irreversível
e nada mais poderia ser feito. Na sua opinião, era melhor cortar logo para
liberar o terreno e evitar sujeira.
Ao
ouvir a sentença de morte e a disposição do ‘carrasco’ para dar o “tiro de
misericórdia” na pobre vítima, uma espécie de “compaixão botânica”
nasceu dentro de mim, que me levou a pensar em alternativas para evitar o pior.
Assim, resolvi fazer uma poda completa, que me consumiu toda a manhã do meu dia
de folga. Apoiado sobre um cavalete, de posse do velho facão, partir para na
minha luta com o pensamento de que talvez a morte pudesse ser detida. Decidi
fazer uma poda total, cortando cada galho onde a praga se manifestava. Como a
doença tinha se alastrado demais, poucas partes da árvore foram poupadas dos
golpes do facão. Seguramente mais de 80 por cento da copa foi
decepada. Depois coloquei fertilizante na raiz e tive o cuidado de aguar pelo
menos uma vez por dia. Alguns dias após a poda, notei que havia flores brotando
em todo canto. Continuei aguando e observando, até que notei que as flores
começavam a se transformar em pequenos botões. Eram muitos e era realmente
incrível. A vida renascia onde antes a morte parecia reinar absoluta.
Maravilhado, todas as manhãs eu examinava para ver o desenvolvimento do
processo. Exatamente dentro de um mês eu estava bebendo o primeiro copo de suco
de acerola, cheio de vitamina e de significado. O sofrimento da limpeza
redundara no reflorescimento da vida, que brotou com força produzindo uma
enorme quantidade de frutos lindos e saborosos.
Esse
episódio me lembrou o ensino do Senhor Jesus mencionado em João 15:1-2. Nesse
texto Ele é a videira, nós os ramos, e dEle flui a seiva que mantém nossa vida
eterna. A manutenção desse ‘jardim divino’ é responsabilidade do Pai. Por isso,
quando um ramo perde sua capacidade de produzir e seca, o Pai realiza uma
limpeza, que pode ser extremamente dolorosa. Quanto mais profunda a doença,
maior a dor para extirpá-la. Mas o Pai sabe o que está fazendo. Ele não está
nos rejeitando, nem sonegando Seu amor. Ao contrário, porque Ele nos ama e
deseja que tenhamos vidas significativas, Ele usa os seus instrumentos
cortantes para retirar de nós tudo aquilo que nos impede de frutificar. Afinal,
“... ele faz a ferida e ele mesmo a ata; ele fere, e as suas mãos curam” (Jó
5.18). Ele nos quer semelhantes a uma árvore produtiva, nunca como
um arbusto solitário no deserto (Jr. 17:6).
Devido
às contradições e distorções introduzidas pelo pecado, fugimos da dor e
buscamos o prazer a todo custo. Mas esse pode ser o caminho da morte. O que
seria do nosso corpo sem a dor? Não é essa sensação desagradável que nos
preserva da destruição? O paciente acometido por hanseníase daria tudo para
voltar a sofrer dores. Suas deformidades são resultado de uma vida indolor.
Deus, o Criador do corpo e da alma, sabe muito bem que as lágrimas de dores,
muitas vezes são semente de vida. Por isso, Ele nos disciplina antes que o
nosso coração fique endurecido demais para reagir. Se seguimos nosso caminho de
perdição infestados pelos ‘parasitas’ do pecado e as dores da disciplina divina
não nos afligem, algo muito preocupante está acontecendo, “...pois que filho há
que o pai não corrige?” (Hb. 12.6). É infinitamente melhor ser um filho de Deus
gemendo sob o peso da dura correção paternal, do que um bastardo que segue seu
feliz caminho de perdição, sem receber a disciplina do Pai Celeste. Imagino
que se o pé de acerola falasse (se bem que muitas vezes eu pensei que sim!),
ele teria reagido... “Por que me cortas? Você não tem piedade? Não sente a
minha dor cada vez que um galho é cortado?”. E eu, ainda com o facão
em punho, teria dito: “Sinto muito dona acerola, mas não tem outro meio. Ou eu
lhe corto, ou você morre.” E se ela insistisse eu ira fazê-la calar com as
palavras de Jesus: “O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo.
13:7).
Para que não venhamos a murchar
sufocados pela ação parasita do pecado que endurece o coração e destrói nossa
sensibilidade espiritual, o Jardineiro Celeste precisa nos disciplinar. É bom?
Certamente não, mas é o remédio amargo que produz doces resultados. A dor virá,
mas é a dor que nos cura e faz que da nossa vida seja uma ‘vida suculenta’ e
abundante, resultado da fonte de vida a jorrar dentro de nós.
A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.
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