sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A TEOLOGIA DO CARNAVAL
                       
Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.” (Colossenses 2.20–23)
           
           
Religiosidade e carnaval estão muito mais perto do que pensamos. Quando os homens se afastam da Palavra de Deus e criam seus próprios sistemas de fé o resultado é sempre proliferação da iniquidade.
            Sem ter base alguma na Bíblia, com apoio apenas de interpretações particulares e alegorias infundadas, as tradições Católica, Ortodoxa, Anglicana e Luterana ensinam que todo fiel deve anualmente se submeter aos ritos purificadores da quaresma, nome dado aos 40 dias que se estendem desde a quarta-feira de cinzas até ao chamado domingo de ramos. Os rituais prescritos são jejum, abstinência de carne, mortificações, caridade e orações.
            Mas o que os homens planejaram para a ‘purificação’ terminou fomentando a contaminação, e a história do Brasil nos revela como isso aconteceu. Ainda na época dos nossos dois imperadores, quando o catolicismo detinha domínio absoluto sobre a religiosidade da nação, as regras de abstinência da quaresma eram seguidas à risca por todas as pessoas. Assim, nos dias que antecediam a quaresma começou uma brincadeira anárquica e ‘inocente’ de uns jogarem água nos outros. A brincadeira se chamava entrudo (do latim introito, entrada), e servia para as pessoas terem um pouco de prazer antes das tristezas e contingências da quaresma.
            Foi assim que passo a passo o desejo de prazer carnal no entrudo terminou desembocando no que hoje conhecemos como carnaval, uma festa para liberar o prazer carnal, antes da ‘purificação’ imposta pela tradição. Parafraseando o apóstolo Paulo em Romanos 7.8, podemos afirmar que ‘a carne tomando ocasião pelo mandamento despertou na sociedade toda sorte de concupiscência’. Assim, aquilo que os homens determinaram como meio de santificação, terminou sendo o combustível para a proliferação de todo tipo de iniquidade, e hoje o carnaval é símbolo de perversão sexual, embriaguez, infidelidade, insensatez, drogas, doenças e morte. E o Brasil, para nossa vergonha, é o país do carnaval.
            Enquanto observamos as misérias do carnaval, devemos notar que a relação entre legalismo religioso e contaminação da carne são irmãos gêmeos. Não existe lei ou regra humana, mesmo que mesclada com simbolismos bíblicos, que possam conter o ímpeto do pecado que se abriga no nosso coração. Quando o espírito da religiosidade farisaica se instala, cria-se a ideia enganosa de que a purificação dos pecados e a graça da salvação se ganha por meio de obras meritórias e sacrifícios de rigor ascético expressos em ‘não manusear isso, não tocar naquilo e não provar aquiloutro.’ As regras em si podem ser boas, mas o problema é que a carne está viva. Enquanto não nos submetemos à cruz que nos faz ‘mortos com Cristo’ para os poderes do mal que operam neste mundo, poderemos até dar aparência de sabedoria espiritual e falsa humildade, mas no fim das contas não temos poder para vencer os apelos da carne. Seremos belos por fora, mas por dentro estaremos cheios de toda imundícia (Mateus 23.27).
            Quando os Evangelhos mostram a ira do Senhor Jesus contra os falos mestres que promoviam a falsa religião, há quem ache que Cristo foi duro demais. Mas a verdade é que Ele sabia o resultado maligno e destrutivo da falsa doutrina. Por isso, Ele proferiu os ais contra os guias religiosos que não entravam no reino dos céus, nem deixavam as pessoas entrarem (Mateus 23.13). A falsa doutrina do mérito humano ganho por meio das obras é a pior coisa que poderia acontecer. Ilude, destrói a sociedade e condena milhares à perdição eterna. E se alguém duvida observe as raízes históricas do carnaval brasileiro, que nada mais é do que o terrível legado da falsa doutrina!
            Lamentavelmente não há nada que se possa fazer para deter a avalanche contaminadora do pecado promovido pela festa da carne. A tradição perversa está arraigada na alma da sociedade brasileira de tal modo que, apesar da seca, da crise energética e da precariedade do sistema de saúde pública, milhões de reais dos cofres públicos estão sendo canalizados para o festival. Mas que importa? Apesar de todos saberem que ‘quem semeia para a carne, da carne colherá destruição’ (Gálatas 6.8), é melhor ser otimista. Quando terminar a festa a nação ‘levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.’ Os que quiserem podem até zerar sua conta de pecado recebendo a absolvição na quarta-feira. O que passou não importa... e que venha a quaresma!
            Deus tenha misericórdia de nós!

            A serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira.

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