A
TEOLOGIA DO CARNAVAL
“Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por
que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies
isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e
doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais
coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de
falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a
sensualidade.” (Colossenses 2.20–23)
Sem ter base alguma na Bíblia, com apoio apenas de
interpretações particulares e alegorias infundadas, as tradições Católica,
Ortodoxa, Anglicana e Luterana ensinam que todo fiel deve anualmente se
submeter aos ritos purificadores da quaresma, nome dado aos 40 dias que se
estendem desde a quarta-feira de cinzas até ao chamado domingo de ramos. Os
rituais prescritos são jejum, abstinência de carne, mortificações, caridade e orações.
Mas o que os homens planejaram para a ‘purificação’
terminou fomentando a contaminação, e a história do Brasil nos revela como isso
aconteceu. Ainda na época dos nossos dois imperadores, quando o catolicismo
detinha domínio absoluto sobre a religiosidade da nação, as regras de
abstinência da quaresma eram seguidas à risca por todas as pessoas. Assim, nos
dias que antecediam a quaresma começou uma brincadeira anárquica e ‘inocente’
de uns jogarem água nos outros. A brincadeira se chamava entrudo (do latim introito, entrada), e servia para as
pessoas terem um pouco de prazer antes das tristezas e contingências da
quaresma.
Foi assim que passo a passo o desejo de prazer carnal no
entrudo terminou desembocando no que hoje conhecemos como carnaval, uma festa
para liberar o prazer carnal, antes da ‘purificação’ imposta pela tradição. Parafraseando
o apóstolo Paulo em Romanos 7.8, podemos afirmar que ‘a carne tomando ocasião
pelo mandamento despertou na sociedade toda sorte de concupiscência’. Assim,
aquilo que os homens determinaram como meio de santificação, terminou sendo o
combustível para a proliferação de todo tipo de iniquidade, e hoje o carnaval é
símbolo de perversão sexual, embriaguez, infidelidade, insensatez, drogas,
doenças e morte. E o Brasil, para nossa vergonha, é o país do carnaval.
Enquanto observamos as misérias do carnaval, devemos
notar que a relação entre legalismo religioso e contaminação da carne são
irmãos gêmeos. Não existe lei ou regra humana, mesmo que mesclada com
simbolismos bíblicos, que possam conter o ímpeto do pecado que se abriga no
nosso coração. Quando o espírito da religiosidade farisaica se instala, cria-se
a ideia enganosa de que a purificação dos pecados e a graça da salvação se
ganha por meio de obras meritórias e sacrifícios de rigor ascético expressos em
‘não manusear isso, não tocar naquilo e não provar aquiloutro.’ As regras em si
podem ser boas, mas o problema é que a carne está viva. Enquanto não nos
submetemos à cruz que nos faz ‘mortos com Cristo’ para os poderes do mal que
operam neste mundo, poderemos até dar aparência de sabedoria espiritual e falsa
humildade, mas no fim das contas não temos poder para vencer os apelos da
carne. Seremos belos por fora, mas por dentro estaremos cheios de toda
imundícia (Mateus 23.27).
Quando os Evangelhos mostram a ira do Senhor Jesus contra
os falos mestres que promoviam a falsa religião, há quem ache que Cristo foi
duro demais. Mas a verdade é que Ele sabia o resultado maligno e destrutivo da
falsa doutrina. Por isso, Ele proferiu os ais contra os guias religiosos que não
entravam no reino dos céus, nem deixavam as pessoas entrarem (Mateus 23.13). A falsa
doutrina do mérito humano ganho por meio das obras é a pior coisa que poderia
acontecer. Ilude, destrói a sociedade e condena milhares à perdição eterna. E
se alguém duvida observe as raízes históricas do carnaval brasileiro, que nada
mais é do que o terrível legado da falsa doutrina!
Lamentavelmente
não há nada que se possa fazer para deter a avalanche contaminadora do pecado
promovido pela festa da carne. A tradição perversa está arraigada na alma da
sociedade brasileira de tal modo que, apesar da seca, da crise energética e da
precariedade do sistema de saúde pública, milhões de reais dos cofres públicos
estão sendo canalizados para o festival. Mas que importa? Apesar de todos
saberem que ‘quem semeia para a carne, da
carne colherá destruição’ (Gálatas 6.8), é melhor ser otimista. Quando
terminar a festa a nação ‘levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.’ Os
que quiserem podem até zerar sua conta de pecado recebendo a absolvição na
quarta-feira. O que passou não importa... e que venha a quaresma!
Deus tenha misericórdia de nós!
A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.
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