sexta-feira, 15 de maio de 2015

O PALÁCIO E A ESTREBARIA
                               
Como regra geral, e por motivos vários, inclusive boa mordomia do meu escasso tempo, não dou a mínima atenção às notícias dos famosos desse mundo. Mas, devido a uma ‘coincidência’ entre minhas leituras dos Evangelhos, especificamente Lucas 2, e um fato marcante na família real britânica, não pude deixar de encontrar paralelos instrutivos entre o nascimento de uma pequena princesa britânica e o nascimento do grande Rei do Céu. 
Como aconteceu em 2011 quando do casamento de William e Kate Middleton, o nascimento da filha do casal, Charlotte Elizabeth Diana, no último dia 4, foi mais uma sensação glamorosa da realeza britânica, que logo se tornou um dos assuntos mais comentados no mundo. A notícia se espalhou de maneira epidêmica pelas mídias sociais, confirmando o estranho fascínio que a realeza ainda exerce no mundo.
                Comparando a sensação midiática em torno do nascimento da pequena princesa e a cena da manjedoura de Belém, não dá para não notar um disparate. Enquanto Charlote, uma distante herdeira do trono britânico, recebeu toda atenção do mundo, o Rei dos céus e da terra, Criador e sustentador de tudo que há, chegou ao mundo em condições extremamente humildes, sem ser notado sequer pelos habitantes da pequena vila de Belém. Nas sombras obscuras de uma noite comum, as criaturas descansam nas hospedarias, o Criador repousa numa estrebaria. 
                É fato que o mundo tem os olhos na realeza britânica e por ela nutre uma estranha simpatia. Pensadores e admiradores mundanos ficam intrigados com esse fenômeno, e procuram uma explicação plausível. Romances em castelos encantados, habitados por príncipes cavalheiros e heroicos estão muito mais para o mundo fantástico de Cinderela e outros contos de fada, do que para o frio e concreto mundo pós-moderno. No entanto, o fato é que o fascínio da fantasia resiste ao tempo e o mundo parou para ver o casamento dos sonhos de Charles e Diana, e continua encantado com o nascimento dos seus herdeiros.
                  Entre o castelo da princesa Charlotte e a estrebaria do Rei Jesus há muito para aprender, pois nesses dois extremos se trava a batalha pelo coração dos homens. De um lado, o apelo emotivo da fantasia, das cores, dos cheiros e dos sabores que emanam dos ‘poderosos desse mundo.’ Por outro, a convite ‘manso e humilde’ da estrebaria silenciosa, que, sem os encantos coloridos da superficialidade, mas abrindo diante dos homens as cortinas da eternidade, nos convida, dizendo: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.” (Lc. 6.20). São apelos distintos, mas deles dependem a vida e morte. A linha que divide os dois territórios é a mesma que faz separação entre o material e espiritual, entre o visual e o real, entre o temporário e o eterno.
                O lado triste dessa história é a certeza de que a ilusão do palácio vence a realidade da estrebaria, pois o mundo gosta do encanto da grandeza, e nesse quesito o berço da princesa ganha facilmente da manjedoura do Rei. O palácio sabe que a ‘propaganda é a alma do negócio’, e aproveita dela para ganhar adeptos. Quanto à manjedoura, devido ao seu amor à verdade, não se projeta com falsas promessas, e por isso “Não contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz.” (Mt. 12.19).
                Parece estranho que os reinos do mundo superem o reino de Deus, mas existe uma explicação dada pelo próprio Rei: “Onde estiver o seu tesouro, ali estará seu coração” (Mt. 6.21). O que se divulga dos palácios desse mundo reflete aquilo que os homens almejam, por mais que toda essa glória seja passageira e ilusória. O sofisticado homem pós-moderno é tão cego quanto o fora o homem de todas as épocas. Sua visão curta o impede de vislumbrar algo além das coisas que impressionam seus sentidos. A propaganda do palácio sabe disso, por essa razão está sempre empenhada em lançar uma ‘superprodução’, como se a vida fosse um enredo hollywoodiano, onde se faz tanto mais investimentos, quanto maior seja o desejo de esconder a verdade. 
Os castelos britânicos encantam, mas é a manjedoura que salva. Por isso, “Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel.” (Hb. 10.23). Tiremos os olhos das grandezas do palácio anunciadas por homens, e voltemos os nossos olhos para a glória da manjedoura anunciada pela milícia celestial, unido a ela as nossas vozes e proclamando a plenos pulmões “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem.” (Lc. 2.14). Jamais esqueçamos que o Rei da estrebaria em breve há de manifestar-se em glória, e nós reinaremos com Ele... “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono.” (Ap. 3.21). Vem, Senhor Jesus!

                A serviço do Mestre,
                Pr. Jenuan Lira



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