A TRISTE IGNORÂNCIA DA SABEDORIA HUMANA
É tristemente engraçado ver um descrente falando das suas
crenças. Sem saber como se posicionar diante da Verdade eterna, o incrédulo
julga-se superior e livre, porque decidiu crer na descrença. Tal postura cabe
bem nas palavras do apóstolo Paulo, quando discorria sobre os falsos
mestres: “pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo,
todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas
asseverações” (1
Timóteo 1.7).
Há pouco, me deparei com um texto
escrito por um professor agnóstico, dos Estados Unidos. Fui atraído
imediatamente pelo título curioso: Deus é uma pergunta, não uma resposta. O propósito do autor é mostrar a fraude de todas as
certezas e crenças, especialmente a dos que se dizem certos de que Deus
existe. Quem tem tal certeza, diz o
professor, está revelando um espírito presunçoso, irredutível e arrogante.
Afinal, se Deus existe e é um Deus de amor, como dizem os cristãos, Ele jamais
irá exigir certeza acerca de Si mesmo. Isso seria uma exigência impossível,
pois não podemos jamais chegar ao pleno conhecimento da realidade, nem sobre
Deus, nem sobre qualquer outro possível fato. Esse é o fundamento agnóstico:
ninguém pode ter certeza, pois para estar certo, o homem precisa se apropriar
de verdades absolutas, supostamente alcançadas pelo conhecimento. Mas visto que
o conhecimento autêntico é inalcançável, a porta da certeza permanecerá sempre
fechada à humanidade.
Lendo o dito professor de filosofia,
não tive como não me lembrar das palavras do apóstolo Paulo: “Cuidado que
ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a
tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo...” (Colossenses 2.8). O termo
enredar, usado no Novo Testamento somente nessa passagem, vem de um vocábulo
grego que significa ‘levar cativo, ou
tomar como presa’. E devo confessar que precisei ler várias vezes e
considerar atentamente as entrelinhas do texto, a fim de não ser eu mesmo
levado cativo pelo jogo interessante do raciocínio filosófico. E olhem que eu já
sou um ‘velho’ às portas de completar meio século de vida (... é o novo??), com
vinte e cinco anos de intenso estudo e ensino da Palavra, tendo lido toda a
Bíblia pelo menos 40 vezes; sem contar que, mesmo antes de assumir o pastorado,
já me ocupava no estudo e transmissão da Bíblia. Enquanto lutava com o texto,
pude sentir, uma vez mais, a força da sedução intelectual envolvida na isca de
um raciocínio bem elaborado. Uma vez mais ficou claro quão escorregadio é o
caminho da ‘sabedoria’ humana, pavimentado pelas chamadas ‘contradições do
saber’(1 Timóteo 6.20). O raciocínio
humano seduz pelo que diz, e aprisiona pelo que não diz. A conclusão? Todos
podemos ser enredados. A sanidade mental de qualquer pessoa depende da graça de
Deus, que, por meio da iluminação Seu Espírito, faz raiar a luz da Revelação
nas trevas da nossa alma.
Uma vez livres da armadilha, aos
poucos, podemos perceber o raciocínio falacioso do agnosticismo. A conversação
poderia ir na seguinte direção: “Então,
senhor agnóstico, é impossível ter certeza de qualquer coisa? O senhor pode me
explicar como tem certeza disso...? O senhor está me dizendo, com certeza, que
não se pode ter certeza?”. Nesse
ponto, revela-se o problema da inconsistência no raciocínio. Na verdade, quando
as ideias não batem com a realidade, o raciocínio gira em círculo; e o
pensador, com todo respeito, se assemelha ao cachorro tentando pegar o próprio
rabo. Dizendo de outro modo: O agnosticismo, para ser verdadeiro, tem que negar
a si mesmo, pois terá que defender a certeza da incerteza. Novamente isso nos
leva a Paulo, que diz: “...se
somos infiéis, ele permanece fiel, pois
de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (2 Timóteo 2.13). Deus não nega a
Si mesmo, porque Ele é real.
Para ser bem claro quanto ao
pensamento do professor, ele não tem coragem de negar diretamente a existência de
Deus, mas declara que, se Deus existe, é impossível conhecê-lo. Por isso, ‘Deus é uma questão, não uma resposta’,
como está no título do texto. Tendo tal crença, o autor não mede palavras para
mostrar sua apreciação e reverência pelo “deus dúvida”. Sem cerimônia, o autor
se curva perante a incerteza e presta tributo à dinâmica da busca eterna, que
não espera chegar a lugar nenhum. Em suas próprias palavras, ‘a dúvida é
permanente, as respostas são temporárias’. E para mostrar que está em boa
companhia, o professor cita Herman Melville, de quem foi dito: “Ele nem
consegue crer, nem fica confortável com sua descrença, sendo suficientemente
honesto e corajoso para não tentar fazer nem uma coisa nem outra”. Pode até ser
honesto, mas é desesperador. Admiro a honestidade para assumir sua dificuldade
de crer, mas reprovo a resignação humanista que faz o incrédulo deixar por isso
mesmo.
Já que estamos falando de sabedoria
e conhecimento, que tal chamar Salomão para participar do debate? Além de ser
conhecido como o homem mais sábio da história humana, Salomão também tentou
vencer as incertezas existenciais, usando sua própria capacidade investigativa.
O livro de Eclesiastes é o testemunho dessa busca. O famoso rei de Israel
decidiu se lançar à aventura de desvendar a teoria do todo, querendo encontrar
razão e sentido que pudessem abranger a realidade em suas múltiplas facetas. Na
sua busca filosófica, Salomão estava pronto a lançar mão de qualquer
possiblidade, desde que Deus ficasse fora da equação. E assim o fez, somente
para fechar sua pesquisa com a triste constatação: “Banalidade de banalidade...
tudo é vazio”. Em Eclesiastes, Salomão é um homem que despreza as certezas
reveladas, pois deseja estabelecer a sua verdade. Ele não quer ser um ‘tolo’,
para aceitar as certezas divinas. Ele se julga sábio demais para depender de
Deus.
Salomão não chega a lugar nenhum, à
parte de Deus, mas o registro da sua angústia é instrutivo. Por exemplo, ele
afirma que o espírito curioso do homem é dado por Deus, para que o homem
reconheça sua limitação e volte-se para o Criador. Em 1:13, Salomão diz que
Deus coloca sobre o homem o enfadonho trabalho de esquadrinhar a realidade,
apenas para descobrir que “Aquilo
que é torto não se pode endireitar; e o que falta não se pode calcular” (Eclesiastes 1.15). Dessa maneira,
cansado de correr sem chegar a lugar nenhum, o homem sensato se humilha e diz:
“Tudo bem, SENHOR. Eu me rendo. Estou
pronto para seguir o Seu caminho, pois o meu não deu em nada... gastei meus
esforços correndo atrás do vento”.
Se
os ‘fortes’ deste mundo querem continuar se deleitando na ‘doçura da dúvida’,
que o façam. Eu não tenho essa força, nem quero ter. Da minha parte, está
resolvido: para todos os dilemas, perplexidades e anseios existenciais, Deus é
resposta. Se isso não satisfizer os inteligentes deste mundo, só tenho uma
outra alternativa: Deus de novo!!
A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.
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