sexta-feira, 8 de abril de 2016

A TRISTE IGNORÂNCIA DA SABEDORIA HUMANA

É tristemente engraçado ver um descrente falando das suas crenças. Sem saber como se posicionar diante da Verdade eterna, o incrédulo julga-se superior e livre, porque decidiu crer na descrença. Tal postura cabe bem nas palavras do apóstolo Paulo, quando discorria sobre os falsos mestres:  pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações” (1 Timóteo 1.7).

            Há pouco, me deparei com um texto escrito por um professor agnóstico, dos Estados Unidos. Fui atraído imediatamente pelo título curioso: Deus é uma pergunta, não uma resposta. O propósito do autor é mostrar a fraude de todas as certezas e crenças, especialmente a dos que se dizem certos de que Deus existe.  Quem tem tal certeza, diz o professor, está revelando um espírito presunçoso, irredutível e arrogante. Afinal, se Deus existe e é um Deus de amor, como dizem os cristãos, Ele jamais irá exigir certeza acerca de Si mesmo. Isso seria uma exigência impossível, pois não podemos jamais chegar ao pleno conhecimento da realidade, nem sobre Deus, nem sobre qualquer outro possível fato. Esse é o fundamento agnóstico: ninguém pode ter certeza, pois para estar certo, o homem precisa se apropriar de verdades absolutas, supostamente alcançadas pelo conhecimento. Mas visto que o conhecimento autêntico é inalcançável, a porta da certeza permanecerá sempre fechada à humanidade.

            Lendo o dito professor de filosofia, não tive como não me lembrar das palavras do apóstolo Paulo: Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo...” (Colossenses 2.8). O termo enredar, usado no Novo Testamento somente nessa passagem, vem de um vocábulo grego que significa ‘levar cativo, ou tomar como presa’. E devo confessar que precisei ler várias vezes e considerar atentamente as entrelinhas do texto, a fim de não ser eu mesmo levado cativo pelo jogo interessante do raciocínio filosófico. E olhem que eu já sou um ‘velho’ às portas de completar meio século de vida (... é o novo??), com vinte e cinco anos de intenso estudo e ensino da Palavra, tendo lido toda a Bíblia pelo menos 40 vezes; sem contar que, mesmo antes de assumir o pastorado, já me ocupava no estudo e transmissão da Bíblia. Enquanto lutava com o texto, pude sentir, uma vez mais, a força da sedução intelectual envolvida na isca de um raciocínio bem elaborado. Uma vez mais ficou claro quão escorregadio é o caminho da ‘sabedoria’ humana, pavimentado pelas chamadas ‘contradições do saber’(1 Timóteo 6.20).  O raciocínio humano seduz pelo que diz, e aprisiona pelo que não diz. A conclusão? Todos podemos ser enredados. A sanidade mental de qualquer pessoa depende da graça de Deus, que, por meio da iluminação Seu Espírito, faz raiar a luz da Revelação nas trevas da nossa alma.
 
            Uma vez livres da armadilha, aos poucos, podemos perceber o raciocínio falacioso do agnosticismo. A conversação poderia ir na seguinte direção: “Então, senhor agnóstico, é impossível ter certeza de qualquer coisa? O senhor pode me explicar como tem certeza disso...? O senhor está me dizendo, com certeza, que não se pode ter certeza?”.  Nesse ponto, revela-se o problema da inconsistência no raciocínio. Na verdade, quando as ideias não batem com a realidade, o raciocínio gira em círculo; e o pensador, com todo respeito, se assemelha ao cachorro tentando pegar o próprio rabo. Dizendo de outro modo: O agnosticismo, para ser verdadeiro, tem que negar a si mesmo, pois terá que defender a certeza da incerteza. Novamente isso nos leva a Paulo, que diz: “...se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (2 Timóteo 2.13). Deus não nega a Si mesmo, porque Ele é real.

            Para ser bem claro quanto ao pensamento do professor, ele não tem coragem de negar diretamente a existência de Deus, mas declara que, se Deus existe, é impossível conhecê-lo. Por isso, ‘Deus é uma questão, não uma resposta’, como está no título do texto. Tendo tal crença, o autor não mede palavras para mostrar sua apreciação e reverência pelo “deus dúvida”. Sem cerimônia, o autor se curva perante a incerteza e presta tributo à dinâmica da busca eterna, que não espera chegar a lugar nenhum. Em suas próprias palavras, a dúvida é permanente, as respostas são temporárias’. E para mostrar que está em boa companhia, o professor cita Herman Melville, de quem foi dito: “Ele nem consegue crer, nem fica confortável com sua descrença, sendo suficientemente honesto e corajoso para não tentar fazer nem uma coisa nem outra”. Pode até ser honesto, mas é desesperador. Admiro a honestidade para assumir sua dificuldade de crer, mas reprovo a resignação humanista que faz o incrédulo deixar por isso mesmo.

            Já que estamos falando de sabedoria e conhecimento, que tal chamar Salomão para participar do debate? Além de ser conhecido como o homem mais sábio da história humana, Salomão também tentou vencer as incertezas existenciais, usando sua própria capacidade investigativa. O livro de Eclesiastes é o testemunho dessa busca. O famoso rei de Israel decidiu se lançar à aventura de desvendar a teoria do todo, querendo encontrar razão e sentido que pudessem abranger a realidade em suas múltiplas facetas. Na sua busca filosófica, Salomão estava pronto a lançar mão de qualquer possiblidade, desde que Deus ficasse fora da equação. E assim o fez, somente para fechar sua pesquisa com a triste constatação: “Banalidade de banalidade... tudo é vazio”. Em Eclesiastes, Salomão é um homem que despreza as certezas reveladas, pois deseja estabelecer a sua verdade. Ele não quer ser um ‘tolo’, para aceitar as certezas divinas. Ele se julga sábio demais para depender de Deus.

            Salomão não chega a lugar nenhum, à parte de Deus, mas o registro da sua angústia é instrutivo. Por exemplo, ele afirma que o espírito curioso do homem é dado por Deus, para que o homem reconheça sua limitação e volte-se para o Criador. Em 1:13, Salomão diz que Deus coloca sobre o homem o enfadonho trabalho de esquadrinhar a realidade, apenas para descobrir que Aquilo que é torto não se pode endireitar; e o que falta não se pode calcular” (Eclesiastes 1.15). Dessa maneira, cansado de correr sem chegar a lugar nenhum, o homem sensato se humilha e diz: “Tudo bem, SENHOR. Eu me rendo. Estou pronto para seguir o Seu caminho, pois o meu não deu em nada... gastei meus esforços correndo atrás do vento”.

            Se os ‘fortes’ deste mundo querem continuar se deleitando na ‘doçura da dúvida’, que o façam. Eu não tenho essa força, nem quero ter. Da minha parte, está resolvido: para todos os dilemas, perplexidades e anseios existenciais, Deus é resposta. Se isso não satisfizer os inteligentes deste mundo, só tenho uma outra alternativa: Deus de novo!!

            A serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira.
           


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