AS CELEBRIDADES DE BABEL
“Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma
cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso
nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra.” (Gênesis
11.4)
A dispersão
dos povos em Babel não foi gratuita. Ali tem muito mais do que parece à
primeira vista. Babel foi a primeira manifestação organizada e coletiva de
humanismo. A idéia de construir uma cidade e uma torre foi uma forma de evitar
que ‘sejamos espalhados.’ Tal plano
era o oposto do que Deus havia determinado. Desde o princípio a vontade de Deus
era que o homem crescesse, multiplicasse e enchesse a terra. Babel também era
um monumento à autonomia humana. Por meio daquela torre-templo, os homens
queriam desafiar o projeto divino e fazer história. Uma frase resume bem as
motivações dos corações envolvidos naquele projeto: “Tornemos célebre o nosso nome.”
Desde o
Éden, os homem sonham em ter seus nomes na calçada da fama. Figurar no rol das celebridades
é o desejo do nosso coração egoísta. Os meios podem ser variados, mas no final
o propósito é o mesmo: fazer o nosso nome célebre.
É
interessante fazer um paralelo entre Babel e os nossos dias. Se repararmos bem,
os homens estão tentando reverter o processo de dispersão determinado por Deus.
Com a internet, google tradutor (que às vezes está mais para ‘traidor’) e
outras novidades virtuais, todo mundo pode falar com todo mundo. É certo que
para tentar desfazer o que Deus fez em um instante, o homem precisou trabalhar
alguns milênios, mas agora começa a colher os frutos. Portanto, se estamos
chegando ao ponto ‘pré-Babel’, está novamente aberta a temporada para quem
deseja fazer grande o seu nome.
Ao pé da
Babel virtual, ninguém é comum. Basta poucos momentos passeando no facebook, e,
logo, notaremos que à nossa volta já não mais existem meros mortais. No face,
instagram e em outros territórios virtuais, cada um pode ter sua calçada da
fama particular. Até um espirro é motivo para uma selfie. Seria mais ou menos
assim... “Gente espirrei. Foi demais...
depois posto um vídeo sobre como dar o melhor espirro do mundo... tipo assim...
blz ” Um mundo de tecnologia, para um mar de bobagem!
Na era das celebridades, até os atos mais
comuns, rotineiros e de nenhuma importância para os outros, precisa ser
anunciado ao mundo. No facebook, por exemplo, tudo é o máximo: eu tenho os
melhores amigos, faço as mais incríveis viagens, frequento os ambientes mais
badalados, como nos melhores restaurantes, tenho a família perfeita. Verdade?
Nem tanto. Há muito de propaganda enganosa, tudo de mentirinha, mas o
importante é aparecer. Pelo menos no mundo de faz de conta, posso me sentir um
rei.
Olhando com cuidado, parece que a
frustração de Babel continua atravessada na garganta da humanidade. Deus
interferiu no sonho dos homens, que não gostaram dessa intervenção divina.
Seguindo o projeto dos arquitetos de Babel, o homem poderia vencer sua últimas
fronteiras, chegando ao céu sem Deus. Seria um feito heróico, que tornaria
aqueles homens em ‘super-homens.’ Se o plano tivesse sido executado, no museu
de Babel certamente teria um placa na entrada: “Você está entrando no monumento
que prova que os homens não dependem de Deus. Por meio desse edifício, os
homens invadiram o céu e saquearam a glória do Criador.”
O espírito
de Babel não tem nada a ver com o Espírito de Deus. Por favor, não esqueça
isso! Enquanto o espírito de Babel diz que devemos continuar fazendo monumentos
de marketing pessoal, que tornem célebres o nosso nome, o Espírito de Deus nos
constrange a declarar: “Convém que Ele
cresça, e eu diminua.” Essas são as palavras e as imagens que brotam nas
postagens dos que entendem que a glória pertence somente a Deus. Quando vivemos
para tornar o Nome de Cristo adorado em toda terra, dos nossos corações não
brotam fantasias, nem temos a soberba como um colar (Sl. 73.6-7).
No campo semântico da palavra hebraica que
traduzimos por ‘glória’ está a idéia de peso. Assim, a glória de Deus é também
o ‘peso de Deus’, com a expressão apontando para a excelência, honra e
majestade do SENHOR. Gosto de relacionar o conceito de glória com o de peso,
para nunca ter a ilusão de que sou capaz de suportar a glória. Em um momento
pessoal de luta com Deus em favor de Israel, Moisés pediu a Deus para ver a Sua
glória. Deus não permitiu que Seu amigo, Moisés, sequer contemplasse Sua
glória, pois isso lhe seria fatal. Moisés não suportaria o ‘peso’ de Deus. Por
isso o SENHOR lhe disse: “Quando
passar a minha glória, eu te porei numa fenda da penha e com a mão te cobrirei,
até que eu tenha passado.” (Êxodo 33.22).
Querer a glória é querer ser Deus. Portanto,
por menor que seja a parcela de glória que nos toque, ainda é pesada demais
para nossa estruturas, que não passa de pó e cinza. Quer ser esmagado? Então,
cobice a glória de Deus.
O passar do
tempo não curou o homem do mal de querer continuar construindo torres e
castelos, a fim de serem celebrados. Como foi em Babel, também será com as
apresentações modernas da soberba humana. E quando o SENHOR descer para vindicar
Sua glória, não vai ficar ‘face’ sobre ‘face’.
Deixemos a glória a Quem de direito: ‘Àquele que está sentado no trono e ao
Cordeiro’ (Ap. 5.13).
A serviço do
Mestre,
Pr. Jenuan
Lira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário