sexta-feira, 1 de julho de 2016

AS CELEBRIDADES DE BABEL

Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra.” (Gênesis 11.4)

            A dispersão dos povos em Babel não foi gratuita. Ali tem muito mais do que parece à primeira vista. Babel foi a primeira manifestação organizada e coletiva de humanismo. A idéia de construir uma cidade e uma torre foi uma forma de evitar que ‘sejamos espalhados.’ Tal plano era o oposto do que Deus havia determinado. Desde o princípio a vontade de Deus era que o homem crescesse, multiplicasse e enchesse a terra. Babel também era um monumento à autonomia humana. Por meio daquela torre-templo, os homens queriam desafiar o projeto divino e fazer história. Uma frase resume bem as motivações dos corações envolvidos naquele projeto: “Tornemos célebre o nosso nome.”

            Desde o Éden, os homem sonham em ter seus nomes na calçada da fama. Figurar no rol das celebridades é o desejo do nosso coração egoísta. Os meios podem ser variados, mas no final o propósito é o mesmo: fazer o nosso nome célebre.

            É interessante fazer um paralelo entre Babel e os nossos dias. Se repararmos bem, os homens estão tentando reverter o processo de dispersão determinado por Deus. Com a internet, google tradutor (que às vezes está mais para ‘traidor’) e outras novidades virtuais, todo mundo pode falar com todo mundo. É certo que para tentar desfazer o que Deus fez em um instante, o homem precisou trabalhar alguns milênios, mas agora começa a colher os frutos. Portanto, se estamos chegando ao ponto ‘pré-Babel’, está novamente aberta a temporada para quem deseja fazer grande o seu nome.

            Ao pé da Babel virtual, ninguém é comum. Basta poucos momentos passeando no facebook, e, logo, notaremos que à nossa volta já não mais existem meros mortais. No face, instagram e em outros territórios virtuais, cada um pode ter sua calçada da fama particular. Até um espirro é motivo para uma selfie. Seria mais ou menos assim... “Gente espirrei. Foi demais... depois posto um vídeo sobre como dar o melhor espirro do mundo... tipo assim... blz ” Um mundo de tecnologia, para um mar de bobagem!

Na era das celebridades, até os atos mais comuns, rotineiros e de nenhuma importância para os outros, precisa ser anunciado ao mundo. No facebook, por exemplo, tudo é o máximo: eu tenho os melhores amigos, faço as mais incríveis viagens, frequento os ambientes mais badalados, como nos melhores restaurantes, tenho a família perfeita. Verdade? Nem tanto. Há muito de propaganda enganosa, tudo de mentirinha, mas o importante é aparecer. Pelo menos no mundo de faz de conta, posso me sentir um rei.

            Olhando com cuidado, parece que a frustração de Babel continua atravessada na garganta da humanidade. Deus interferiu no sonho dos homens, que não gostaram dessa intervenção divina. Seguindo o projeto dos arquitetos de Babel, o homem poderia vencer sua últimas fronteiras, chegando ao céu sem Deus. Seria um feito heróico, que tornaria aqueles homens em ‘super-homens.’ Se o plano tivesse sido executado, no museu de Babel certamente teria um placa na entrada: “Você está entrando no monumento que prova que os homens não dependem de Deus. Por meio desse edifício, os homens invadiram o céu e saquearam a glória do Criador.”
 
            O espírito de Babel não tem nada a ver com o Espírito de Deus. Por favor, não esqueça isso! Enquanto o espírito de Babel diz que devemos continuar fazendo monumentos de marketing pessoal, que tornem célebres o nosso nome, o Espírito de Deus nos constrange a declarar: “Convém que Ele cresça, e eu diminua.” Essas são as palavras e as imagens que brotam nas postagens dos que entendem que a glória pertence somente a Deus. Quando vivemos para tornar o Nome de Cristo adorado em toda terra, dos nossos corações não brotam fantasias, nem temos a soberba como um colar (Sl. 73.6-7).

             No campo semântico da palavra hebraica que traduzimos por ‘glória’ está a idéia de peso. Assim, a glória de Deus é também o ‘peso de Deus’, com a expressão apontando para a excelência, honra e majestade do SENHOR. Gosto de relacionar o conceito de glória com o de peso, para nunca ter a ilusão de que sou capaz de suportar a glória. Em um momento pessoal de luta com Deus em favor de Israel, Moisés pediu a Deus para ver a Sua glória. Deus não permitiu que Seu amigo, Moisés, sequer contemplasse Sua glória, pois isso lhe seria fatal. Moisés não suportaria o ‘peso’ de Deus. Por isso o SENHOR lhe disse: “Quando passar a minha glória, eu te porei numa fenda da penha e com a mão te cobrirei, até que eu tenha passado.” (Êxodo 33.22).

Querer a glória é querer ser Deus. Portanto, por menor que seja a parcela de glória que nos toque, ainda é pesada demais para nossa estruturas, que não passa de pó e cinza. Quer ser esmagado? Então, cobice a glória de Deus.  

            O passar do tempo não curou o homem do mal de querer continuar construindo torres e castelos, a fim de serem celebrados. Como foi em Babel, também será com as apresentações modernas da soberba humana. E quando o SENHOR descer para vindicar Sua glória, não vai ficar ‘face’ sobre ‘face’.

Deixemos a glória a Quem de direito: ‘Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro’ (Ap. 5.13).

            A serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira. 

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