terça-feira, 20 de março de 2018


IDOLATRIA: A PIOR CEGUEIRA

Nada sabem, nem entendem; porque se lhes grudaram os olhos, para que não vejam, e o seu coração já não pode entender.” (Isaías 44.18)

            A Serra do Horto, uma das atrações turísticas da cidade de Juazeiro do Norte, bem poderia ser chamada a Serra das Contradições. O lugar é, ao mesmo tempo, lindo e feio. Ali perceber-se o imensurável contrastes entre a sabedoria do Criador e a loucura da criatura. O Horto é o ponto de intercessão entre o poder e fraqueza, a glória e a degradação, a grandeza e a pequenez… em um extremo ergue-se iminente, o Deus, Criador de todos os homens; no outro, em avançado graus de decomposição, tenta se manter de pé a imagem do padre Cícero, o deus criado pelos homens. O visitante comum não talvez não note a força da tensão espiritual, mas, se você é um regenerado, sentirá sua alma esticada, tentando resolver o misterioso dilema de como, em um lugar tão alto, o homem pode descer a um ponto tão baixo.

            Qualquer pessoa, como eu,  que já teve oportunidade de morar em um centro de idolatria religiosa, poderá compreender mais claramente o que a Bíblia diz acerca dos ídolos e dos idólatras. O profeta Isaías, por exemplo, a partir do capítulo 40, tem importantes exortações sobre a idolatria. O idólatra, diz o profeta de Deus, é como uma pessoa que perdeu o juízo. Seu coração iludido pela imagem feita pelas próprias mãos, não consegue discernir as realidades mais básicas. É assim que, como diz Isaías,  O artífice em madeira estende o cordel e, com o lápis, esboça uma imagem; alisa-a com plaina, marca com o compasso e faz à semelhança e beleza de um homem, que possa morar em uma casa.” (Isaías 44.13) O profeta usa esse caso como um exemplo máximo de insanidade, pois a madeira com que o artífice acende o fogo para aquecer   ou até cozinhar os alimentos, serve também para a confecção de um deus, perante o qual se o homem se ajoelha e diz: “livra-me, pois tu és o meu deus” (Is. 43.17). Tentar explicar a um idólatra que seu deus, como diz o profeta Jeremias (10.5), não passa de um ‘espantalho em pepinal’, infelizmente, não é possível. A idolatria não opera segundo as leis do pensamento equilibrado e do raciocínio normal. A lógica da idolatria se sustenta a partir das falácias construídas na obscuridade do coração pecaminoso, que se acha enredado pela forca das trevas (1 Cor. 10.20).  Por esse motivo,  Nada sabem, nem entendem; porque se lhes grudaram os olhos, para que não vejam, e o seu coração já não pode entender.” (Isaías 44.18)

            Mas, enquanto nos espantamos com loucura da idolatria praticada pelos pagãos, não pensemos que, pelo fato de termos recebido o conhecimento do Deus verdadeiro, esse pecado não mais nos assedia. Israel viu a glória de Deus e ouviu a Sua potente voz no Sinai, mas não demorou muito até que fabricasse o bezerro de ouro. Se, por um lado, não nos vemos curvados ante imagens de escultura, nem seguimos as multidões enganadas em uma romaria, por outro nos deixamos guiar pacificamente pelos muitos ídolos fabricados em nosso coração (cf. Ez. 11.21). São desejos, escolhas e motivações que nos prometem segurança e realização. É aquela busca de plenitude em um relacionamento, em um sonho de consumo, na aprovação em um concurso ou no emprego desejado. O grande risco dos ídolos do coração é que eles se disfarçam em desejos ou ações que, em si mesmas, podem não ser pecaminosas. Como bem dizia João Calvino, “O mal em nosso desejo não repousa naquilo que queremos, mas no fato de o querermos em demasia.” E, (digo eu, não Calvino) quando algo nos atrai em demasia, podemos estar certos de que tal desejo está definindo nosso senso de plenitude, satisfação e identidade. Nas palavras de Cristo, ali está o tesouro do nosso coração. Esse desejo, não sendo pelo Deus verdadeiro, é um deus funcional, que, ilusoriamente, nos promete segurança e felicidade.

            Um dos ídolos mais apelativos dos nossos dias é a chamada ‘liberdade de escolha.’ As pessoas querem ter o direito de escolher, de exercer a liberdade de optar, sem a o incômodo de ter alguém dizendo o que devem fazer. Há algum tempo um homem deixou de freqüentar nossa igreja, depois de muito tempo vindo aos cultos. Perguntado sobre sua decisão, ele explicou: “Escolhi uma igreja onde não me sentisse tão pecador.” Fique feliz em saber que estou ensinando o que a Bíblia diz. Quanto ao homem que saiu, o ídolo do próprio ego lhe obrigou exercer sua liberdade de escolha, levando-o a uma igreja onde o cliente recebe melhor tratamento.

            Recentemente, um dos grandes problemas sociais, inclusive entre os chamados crentes, são as dívidas, que também manifestam a idolatria do nosso coração. Em tempos de crise econômica, o ídolo do consumismo manifesta toda sua força. O zelo com o bom testemunho e até as contribuições ordenadas por Deus para a manutenção da Sua obra podem sofrer, mas os deuses dos desejos materiais não podem ser desapontados. Se o dinheiro está curto, o deus pede um sacrifício!

            Desejar uma roupa nova, uma refeição em um bom restaurante ou um novo carro não são desejos pecaminosos em si mesmos. O problema é quando esse desejo tem que ser cumprido, mesmo que seja necessário ‘roubar a Deus’, como disse o profeta Malaquias.

            Meus irmãos, mediante a intensa e perigosa força da idolatria, nunca é demais recordar as palavras do apóstolo João: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.” (1João 5.21)

            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira.

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