terça-feira, 22 de maio de 2012

O COLORIDO DA VIDA


A senhora não tinha notado o problema até que chegou a um conhecido bosque cheio de eucaliptos. De outras visitas, sabia que o agradável odor rescendia por toda parte. Era uma delícia encher os pulmões com a essência medicinal exalada pelas árvores. Mas dessa vez foi diferente. As árvores estavam lá, exuberantes como sempre, mas o perfume tinha sumido. E esse sumiço não era pequeno, pois quando o cheiro não é bom, os olhos não se agradam.
           
 Foi aí que ela percebeu que a recente virose tinha lhe roubado o olfato e afetado o paladar. Recordando o episódio, ela compartilhou: “Pastor, não tem coisa pior. Sem olfato e sem paladar a comida, por melhor que seja, parece isopor”. E acrescentou: “Nossos sentidos é que dão o colorido à vida”.
            Nem sempre somos gratos pelos nossos 5 sentidos. Mas deveríamos fazê-lo constantemente. Sem os sentidos, deixamos de desfrutar parte da beleza que nos cerca. A vida fica meio cinza.
            No entanto, a insensibilidade física não é a maior perda que uma pessoa pode sofrer. Na verdade, a insensibilidade espiritual é ainda mais preocupante, pois além da dimensão material, no mundo se manifestam os tons vívidos da realidade espiritual, fruto da ação caprichosa do Criador. Com a visão material vemos a beleza do céu, com a visão espiritual percebemos, além disso, a glória de Deus manifesta no mesmo céu. É uma percepção diferente, ou como se diz nos termos da informática, um ‘upgrade’. Sem percepção espiritual a vida fica realmente sem graça.
            O apóstolo Paulo nos diz a razão da insensibilidade espiritual que afeta todos os homens. Em Efésios 4.17-19 ele diz: “Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza”. Sem o temor do Senhor, o homem vive na ‘futilidade’ dos seus pensamentos. Isto é o mesmo que ‘obscuridade de entendimento’. Sem a luz de Deus, a compreensão fica impedida, a mente imersa na ignorância e o coração endurecido. A soma desses fatores desemboca na insensibilidade, que leva à impureza, como diz o texto acima.
            Em nosso estado natural, todos chegamos a esse mundo com uma “má formação espiritual congênita”. Essa deformidade afeta diretamente os nossos sentidos espirituais, principalmente a visão. Mas quando a luz de Deus raia ao nosso redor, os olhos se abrem para a beleza da vida e começamos a perceber os contornos da eternidade.
            Nunca fui cego, mas lembro de uma vez em que tive a visão restaurada. Enquanto estudava no seminário, notei a vista cansada e um desconforto durante as leituras. Nas férias fiz meu primeiro exame oftalmológico, que acusou a necessidade de um par de óculos. Eram necessários alguns dias até ficarem prontos. Passado o prazo, finalmente chegou a encomenda do laboratório óptico. Era por volta das três horas da tarde e eu estava debaixo de uma bela árvore em frente ao refeitório. Nunca vou esquecer. Assim que coloquei os óculos, os galhos e folhas da árvore ganharam nova vida. Eu podia ver seus contornos delicados. Minha vista estava curta, mas eu não sabia, pois nunca antes havia usado óculos. Minha visão precisava ser reparada.
            Tudo isso combina bem com a realidade espiritual do encontro com Cristo. Antes de conhecê-lo, não podíamos imaginar a beleza de que estávamos sendo privados pelas trevas que nos cercavam. Mas quando Aquele que é a Luz do mundo acendeu Sua glória dentro de nós, imediatamente um novo horizonte despontou diante dos nossos olhos. A natureza e a vida ganharam novos contornos de exuberante doçura. Passamos a ter sensibilidade espiritual. Pela Sua graça, vencemos a dureza de coração.
            Sem os sentidos naturais a vida perde o brilho. Sem os sentidos espirituais, a vida perde a razão. Louvado seja Aquele que nos tirou das trevas para sua maravilhosa luz.
            
A serviço do Mestre,
            
Pr. Jenuan Lira.
            

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