terça-feira, 28 de agosto de 2012

APRENDENDO COM JOSÉ ALENCAR


Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm. 8.28)
           
Era a tarde do dia 29 de março de 2011 quando o repórter José Roberto Burnier entrou no ar numa chamada do plantão jornalístico da Rede Globo. Visivelmente emocionado, anunciou: “... o coração do ex-vice-presidente José Alencar parou de bater. Termina assim uma agonia de mais de treze anos de luta contra os tumores... É uma luta. José Alencar foi um guerreiro, todo mundo sabe, ele sempre disse que iria continuar lutando, mas, infelizmente, essa doença, o sarcoma, acabou vencendo”.
            Tendo sido designado para acompanhar a evolução do quadro de saúde de José Alencar, o repórter terminou como amigo pessoal do vice-presidente.  Impressionado com a história de José Alencar resolveu escrever um livro biográfico: Os Últimos Passos de Um Vencedor. Nessa obra está documentada a saga de José Alencar, sua batalha feroz entre a vida e a morte.
            Disposição e saúde nunca faltaram a José Alencar, e por isso cresceu na vida. Embora filho de uma família muito humilde, tornou-se um dos homens mais ricos do Brasil. Como se dizia, José Alencar era um “touro” para trabalhar, por isso, a doença foi uma desagradável surpresa na vida desse homem forte. Até aos 66 anos, Alencar gozara de uma saúde de ferro, passando em hospitais apenas para visitar parentes e amigos. Mas de repente tudo mudou a partir de um leve desconforto no estômago. Uma bateria de exames constatou um tumor no rim e um no estômago. Com isso, Alencar perdeu o rim direito e três quartos do estômago de uma só vez. Pouco depois, em avaliação médica de rotina, descobriu um problema cardíaco: uma isquemia que impedia a irrigação sanguínea na parede lateral do ventrículo esquerdo do coração. Até aí, embora graves, os problemas de saúde vinham sendo bem administrados sob os olhares dos melhores médicos do Brasil e dos Estados Unidos.  Porém, passado mais um ano, veio a pior notícia: o vice-presidente fora acometido por um inimigo imbatível, um histiosarcoma, tumor maligno alojado na membrana que envolve o abdômen. Por causa de todos esses problemas, Alencar se submeteu a dezoito cirurgias de alto risco. Em uma dessas cirurgias, ficou com o abdômen aberto por dezoito horas seguidas, para a retida de dezessete tumores. Era o tipo de cirurgia que os médicos chamam “arrasa quarteirão”.
            A coragem com que José Alencar enfrentou a luta contra o câncer emocionou o Brasil. Quando os próprios médicos mostravam-se desanimados, Alencar dizia: “Alguém aqui está com medo? Não é hora para recuar, não vamos jogar a toalha”. A perícia cirúrgica era dos médicos, mas o ânimo e motivação vinham do paciente.
Isso não significa que José Alencar nunca tenha passado por momentos de desânimo. Depois de ser desenganado nos Estados Unidos, tendo sido erguido por um elevador de carga por não ter disposição para subir a escada de embarque do seu próprio avião, José Alencar fez a longa viagem de volta em completo silêncio, talvez meditando sobre o pouco tempo que lhe restava, especialmente pensando acerca do seu netinho, acerca de quem  declarava ter o sonho de vê-lo crescer.
            A pergunta que todos faziam era: de onde vem tanta coragem para esse homem a ponto de ser capaz de lutar contra as adversidades com tanto heroísmo? Muito poderia ser dito em resposta a essa pergunta, mas ninguém pode negar que Alencar entendia que Deus estava no controle da vida e da morte, pois afirmava: “... Você vai viver o tempo que Deus quiser que você viva. Eu não posso pensar que vai acontecer alguma coisa comigo sem que Deus queira... Deus não me deve, e nem eu quero que Ele me dê um dia a mais de vida de que eu não possa me orgulhar... A minha vida, como a de todos, está nas mãos de Deus. Não adianta pensar diferente”.
            Obsevando a história de José Alencar, a única coisa lamentável é sua falta de conhecimento bíblico. Ele tem fé e uma noção clara da soberania de Deus, mas poderia ter tido mais de Deus se tivesse conhecido a revelação de Deus nas Escrituras. No entanto, mesmo tateando quanto às verdades espirituais, José Alencar termina nos desafiando. Na verdade, podemos afirmar que esse homem com tão pouco conhecimento específico de Deus, termina sendo um exemplo para os filhos de Deus. 
Não é estranho que um homem com sua fé difusa mantenha a esperança quando considera o controle de Deus sobre a vida humana, enquanto nós, servos de Deus, entramos em desespero diante de provações muito menores? O que de pior poderia acontecer a um crente em Cristo? A morte? O que é a morte, senão a porta de entrada para a glória de Cristo, que é incomparavelmente melhor? O que o homem natural conhece de ouvir falar, o crente em Cristo tem a possibilidade de experimentar. Afinal, “Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia”. Note bem: socorro bem presente.  Na bonança Deus está presente, na provação Ele está bem presente. 
            Se José Alencar, sem conhecimento bíblico afirmava o controle soberano de Deus, nós, os servos de Cristo, podemos com muito mais propriedade e convicção declarar: “Deus está presente realizando seu  plano  que há de se cumprir. Está tudo sob controle. Louvado seja o nome do Senhor”.
            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

ENTRE O MESTRE E OS PEIXES


Pedro precisava fazer uma escolha. Voltar aos peixes lhe pareceu mais interessante do que seguir a Jesus. O Senhor tinha um plano maravilhoso, mas foi preciso insistir com Pedro e os outros discípulos para que enxergassem.
            Desde o primeiro encontro com Jesus, mais de um ano se passara. A Bíblia não revela claramente os motivos que fizeram os pescadores se afastarem de Jesus. Mas é claro que na mente deles voltar ao mar era mais interessante do seguir o chamado de Jesus. Estranho. Jesus os queira como pescadores de homens, mas ele insistem em ser pescadores de peixes. Entre levar a salvação aos perdidos e os peixes perecíveis, os últimos exerceram maior fascínio.
            Jesus não perde nada quando o rejeitamos, mas Sua misericórdia não desiste de nós. Até parece que Jesus está barateando o valor da Sua oferta. Mas na realidade é apenas prova da Sua bondade.
            Deus tem sempre um plano melhor, mas nem sempre o percebemos. Outras vezes até vemos, mas não queremos nos submeter. Foi assim com os primeiros discípulos, é assim conosco, muitas vezes.
            Um ano se passou e Jesus renova o Seu chamado. Mostra que os quer como pescadores de homens. Eles aceitam e por dois anos vão viver as mais incríveis experiências. Mas a cruz estava no fim da estrada. E eles não estavam preparados. Não contavam que seguir o Mestre também envolve passar pela cruz. Portanto, ao encararem a dureza da cruz, mais uma vez desistem da vocação do Senhor. Logo encontram uma saída... “vamos pescar!” (Jo. 21:3). Pedro sugere, outros seguem passivamente. Como era difícil tirar os peixes do coração do discípulos! Assim, outra vez, O Senhor precisa reavivar o chamado perguntando a Pedro: “amas-me mais do que estes outros?”.
            Como os discípulos estamos sempre no dilema entre o imediato e o eterno, entre o material e o espiritual. Infelizmente, muitas vezes o apelo dos peixes são maiores do que o chamado do Mestre.
            Onde estamos? Continuamos comprometidos em pescar homens ou já estamos preparando as redes para mais uma temporada no mar? O chamado do Mestre, como Sua misericórdia, se renova cada dia. Sua vocação para pescar a homens continua sendo Sua vontade para minha vida. Estou pronto a obedecer, deixar tudo e seguir?

            “Não temas; doravante serás pescador de homens. E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram.” (Lc. 5:10-11)

            A serviço do Mestre,
           
            Pr. Jenuan Lira.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A FORÇA DO PAI


Certas lembranças da infância jamais se apagam. Do meu pai, a imagem mais nítida que se desenhava diante dos meus olhos infantis era de vê-lo trabalhando. Para mim, ele era exemplo de força. Quando passei a dar conta de mim mesmo e da realidade a minha volta, meu pai lutava no comércio. E era realmente uma luta. Embora tendo um pequeno comércio, ele fazia “qualquer negócio”. Tinha espírito empreendedor, e procurava fazer o máximo com o pouco que tinha. Para mim, ele era incansável, pois literalmente “levantava de madrugada e repousava tarde”.
Absorvido na lida diária, restava-lhe pouco tempo para entretenimento. Mas quando o rio da nossa cidade tinha bastante água, que não era comum, ele às vezes saia para nadar na correnteza. Eu ainda não sabia nadar, mas ele me desafiava a enfrentar as águas. Quando possível, firmava-se sobre uma pedra ou um banco de areia, distante alguns poucos metros da beira, e com o braço estendido, dizia: “vem”. As pernas tremiam de medo, mas eu pulava. Era pura confiança nele, pois eu podia facilmente ser levado pela correnteza, por fraca que fosse. Felizmente o medo durava pouco, pois quando me agarrava ao seu braço, sentia sua força vencendo a força das águas. A correnteza continuava, mas eu permanecia estável.
Algumas vezes ele gostava de exibir sua força me desafiando, quando pequeno, para uma competição: queda de braço. A competição era bem desleal. Meu antebraço tinha mais ou menos o diâmetro do rabo de uma lagartixa, e por isso ele o envolvia apenas com dois dedos. Era a forma de, supostamente, me dar vantagem. E começava a peleja: “Força, rapaz”, dizia sorrindo. Eu bem que tentava, mais era em vão. O braço do meu pai parecia uma enorme rocha. Eu dava tudo de mim, mas meu esforço não fazia a menor diferença.
Os anos se passaram, e Deus nos levou para o ministério. Agora meu pai era pastor e mostrava sua força cuidando das suas ovelhas. Muitos dos irmãos moravam em sítios distantes, que demandava uma viagem de até quarenta quilômetros por estradas terríveis. Na época das chuvas, carro não passava. Então, meu pai fazia as visitas e os cultos, viajando de bicicleta. O rádio atingia os recantos mais distantes do sertão, assim, ele anunciava a data da sua chegada, esperando que os irmãos iriam ouvir. Sempre funcionava. Cheguei a ir com ele poucas vezes, sempre com medo de não aguentar. Mas eu sabia que ele era forte bastante para me levar, caso cansasse.
Mas o tempo passou. E com o tempo as coisas mudam, e as pessoas mudam. Na juventude, quando minha força aumentava, a do meu pai diminuía. Ele não admitia, mas podíamos ver que já não tinha os músculos fortes de outrora. Cansava-se mais rápido e com mais frequência. Às vezes, mesmo durante o dia, no meio de uma conversa, podia vê-lo quase cochilando. O peso do trabalho duro através dos anos agora cobrava o seu preço. Nunca fizemos como adultos uma disputa de queda de braços, mas temo que ele não venceria, pois não tinha a mesma força.
É bom ter um pai forte, mas é preciso lembrar que nem sempre será assim. Por isso, quando penso na força do meu pai não posso deixar de fazer um paralelo com o Pai Celeste. Meu pai terreno, enquanto podia, às vezes me levava nos braços. Meu Pai Celeste sempre pode, e sempre me carrega nos seus braços fortes. Na fraqueza Ele é minha força; na angústia, a minha paz. Sua presença jamais me deixa, e obstáculo nenhum pode desafiar Seu poder. Ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares, Ele é o meu refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.
Além disso, outra verdade me consola: O Pai Celeste jamais faltará. Foi assim que enfrentamos a repentina e triste sombra da saudade que sua ausência projetou sobre nós. Sem aviso, sem doença, sem tempo de preparo, quando nos demos conta ele tinha ido. E agora? Órfãos de pai? Absolutamente. O Pai eterno, imutável, fiel e bom nunca nos deixou. Força e presença são marcas do Seu Ser. O tempo não Lhe desgasta. Seu forte braço será sempre o nosso amparo. Um dia, com tristeza, precisamos enfrentar a separação do pai terreno, mas com o nosso Deus isso jamais ocorrerá. Enquanto a vida corre, mais nos aproximamos dEle, e um dia esse encontro será completo.
            Obrigado, Senhor, pelo meu pai. Obrigado Senhor, por ser meu Pai.
            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A PARTÍCULA DE DEUS

Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos...” Mt 11.25.

            Cientistas estão em festa. Depois de perseguir uma pequena partícula subatômica por mais de 50 anos, anunciam com triunfo a sua aparição. É o chamado bóson de Higgs, nome do cientista inglês que teorizou profeticamente a sua existência.
            Mas nem tudo são flores. Apesar da grande euforia, é preciso que se admita que ainda “tem umas pedras no meio do caminho”. A primeira é aquele onipresente “será?” que nunca deixa de mostrar sua cara nas celebrações triunfais de certas descobertas científicas. Conforme Denis Oliveira Damázio, físico brasileiro que trabalha no laboratório do LHC, o maior acelerador de partículas do mundo, explica: “Precisamos de mais alguns anos para conhecer todas as características dessa nova partícula para podermos afirmar sem nenhum risco de errar que se trata de um Higgs”. E se não for? Neste caso, como já aconteceu noutras ocasiões, ao invés de dar respostas, a partícula vai suscitar inúmeras perguntas, fazendo surgir um novo campo de estudos científicos.
            Outra pedra no sapato dos cientistas é o nome que caiu no gosto popular “partícula de Deus”, uma vez que, segundo a suposição do Big Bang, essa partícula seria responsável por impedir que o universo ficasse eternamente reduzido ao tamanho de uma laranja altamente energizada. Parece até uma ironia divina que, depois de tanto esforço para fundamentar uma teoria que nega a realidade do Criador, os cientistas vejam o nome de Deus estampado nos resultados das suas pesquisas mais complexas. Como não poderia deixar de ser, a menção da expressão “partícula de Deus” no momento da apresentação do suposto Bóson de Higgs não agrada nem um pouco o diretor-geral da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear, Rolf Heuer. Por isso, sua reação foi rápida: “Esse é um painel onde as metáforas são banidas”.  O desvendamento das entranhas atômicas expõe também as entranhas da alma humana em rebeldia contra o Criador. É como se o nome de Deus fosse um próton carregado positivamente, que imediatamente é repelido pela negatividade dos elétrons do coração humano.
Sem dúvida a descoberta é admirável. Ninguém será tolo suficiente para achar que essa investigação deva ser reputada como um dado banal. Absolutamente! As verdadeiras pesquisas científicas não podem ser vistas como ameaça sob nenhuma ótica. O problema não está nos fatos, mas na interpretação deles. No caso em vista, a partícula será computada, pela fé, como um fundamento elementar responsável por conferir caos ao dito Big Bang, o que representa uma tremenda injustiça à partícula achada. Ela será usada e abusada para sustentar um artigo de fé, pois a propalada explosão que teria dado início ao universo, não é um fato, mas uma teoria, abraçada por alguns cientistas, que creem na inexistência de Deus. Esquecem os cientistas que a tal partícula só foi achada por causa da ordem maravilhosa em que operam as leis naturais. Sem ordem, a matemática não pode antecipar a nada, pois a incerteza dominaria até mesmo a simples adição de dois mais dois.  Neste caso, o chamado bóson de Higgs, símbolo da ordem subatômica, está servindo para fundamentar a teoria da desordem.
            Vendo o esforço dos cientistas que investem anos para saudar a descoberta de uma “partícula de Deus”, alegro-me em perceber a poderosa atuação do Espírito Santo no coração do crente, que não apenas contempla partículas, mas conhecem o Ser de Deus, revelado na Sua Palavra, que é infinitamente muito mais glorioso do que as impressionantes maravilhas da criação.
“... Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” Mt 11.26.

A serviço do Mestre,

Pr. Jenuan Lira


BÊNÇÃOS NAS MÃOS


Muitas vezes, somente as coisas boas e inusitadas nos despertam a gratidão a Deus. Deixamos de ver a infinidade de bênçãos “comuns” que fazem tremenda diferença na vida. Quando precisamos acrescentar um elemento estranho ao nosso corpo, notamos o quanto as coisas são simples e ‘gratuitas’ são importantes para tornar nossa vida agradável.
Há duas semanas, tentando pular um pequeno muro sofri uma luxação em um dos dedos. Com isso, pela primeira vez nesses meus vinte e poucos anos precisei imobilizar uma parte do corpo com gesso.  
 “Mas precisa mesmo de gesso doutor?”. Perguntei, suspeitando qual seria a resposta. “Realmente não quebrou, mas acho bom fazer uma tala... Coisa simples!”. Algo me dizia que não seria tão simples. Mas aceitei resignado, consolado com a palavra ‘tala’. Afinal, um vocábulo tão pequeno deve designar algo que causará pouco incômodo.
Não demorou e minhas suspeitas começaram a se confirmar. O que fora prometido ser simples começou a ficar complexo. Na saída, já não pude dirigir, e tive de cancelar um compromisso para aquela noite. Logo descobri que os dois dedos que resistiram à prisão não podiam realizar tranquilamente as tarefas mais simples, tais como levar comida à boca, escovar os dentes, tomar um banho e amarrar os sapatos. Na hora de dormir, então, o que fazer com essa ‘tala simples?’.
Você já agradeceu a Deus por poder segurar firmemente a escova de dentes? Não lembro uma única vez que tenha feito isso. Algo tão valioso, que tenho desprezado com minha ingratidão. Olhando demais para o que não temos, deixamos de agradecer pelo que temos. Posso até não estar onde eu gostaria, mas ainda tenho meus dedos, e funcionando bem.
Infelizmente poucas vezes nos maravilhamos com as bênçãos da rotina fisiológica e todas as maravilhas que se processam dentro de no simples ato de um ciclo respiratório. Uma vez que tais bênçãos são rotineiras, passamos a considerá-las insignificantes.  Mas a verdade é que não são. Poder abrir e fechar as mãos sem dor e segurar a colher que nos alimenta é uma grande e maravilhosa bênção que Deus nos concede. Em um só dedo existem músculos, ossos, articulações, pele, vasos, sangue, células e gordura. Compare, por exemplo, o movimento de um dedo humano, com os movimentos de um dedo mecânico acoplado ao mais avançado robô. Nossos dedos têm leveza, destreza, agilidade e infinitas possibilidades de movimentos. O dedo mecânico é duro, lento, predeterminado e destituído de beleza. 
Atos corriqueiros transcorrem de maneira tão automática que chegamos a esquecer o quanto fazem diferença na vida. Estamos esperando coisas espetaculares para ficar certos de que Deus está agindo em nós, mas o grande espetáculo está em poder passar um único dia que seja dentro dos limites da normalidade. É bom lembrar que a normalidade da rotina, fonte de frustração para muitos, pode ser uma prova especial do quanto Deus nos tem abençoado. 
            Está faltando motivação para louvar a Deus? Não precisa ir longe, basta olhar para os seus dedos. Se acha que isso é muito pouco, espere até que você precise imobilizar apenas um deles.
            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira.

MORRENDO PELA BOCA


No século XIV, onde hoje é a Bélgica, houve um duque cujo nome era Raynaldo III, conhecido pelo seu apelido latino, Crassus, que significa gordo.
            Em uma violenta disputa pelo governo, seu irmão mais novo Edward o capturou, mas não o matou. Edward simplesmente construiu um quarto em volta de Raynald no castelo Nieuwkerk e prometeu que ele poderia voltar à liberdade assim que pudesse sair do quarto, que estava cheio de janelas e tinha uma porta de dimensões normais, nenhuma delas trancas e ferrolhos. Quando Edward era acusado de crueldade sua resposta era simples: “meu irmão não um prisioneiro, ele pode sair quando quiser”. O problema era o tamanho de Raynald. Para ficar livre ele precisava perder peso. Mas Edward conhecia seu irmão. Assim, cada dia ele envia uma farta quantidade de comida para Raynaldo, que não se continha e ficava mais gordo cada dia. Após dez anos, Edward morreu em uma batalha, e o Raynald foi liberto, mas sua saúde estava tão frágil que morreu em seguida.
A medicina social fala de um mal que aflige parte da população mundial: a obesidade. Um nome bonito, para um feio pecado. De novo, a ‘ciência’ chama de compulsão, o que a Bíblia chama de transgressão. O termo obesidade tem uma sonoridade fofinha’, preferível aos pesados fonemas da palavra glutão, que nos remetem à cena de um peru empanturrado, incapaz de ingerir um só grão a mais.  
O que os médico e nutricionistas não conseguem perceber é que o problema da obesidade mórbida, em muitos casos, é apenas sintoma de uma enfermidade espiritual. Somos uma sociedade dominada pelas paixões sensoriais completamente avessa à reflexão racional. Morremos pela boca, simplesmente porque perdemos a capacidade de negar a nós mesmos, consumindo-nos à medida que nos entregamos ao desfrute suicida do prazer.
A falta de temor do Senhor se reflete no nosso corpo. Quando a alma se afasta de Deus, o corpo também padece. Parte do fruto do Espírito Santo é domínio próprio, inclusive à mesa. Vivendo em comunhão com Deus seremos escravo de Cristo, não do nosso apetite. O servo de Deus adora o Senhor e não o seu ventre (Fp. 3.19). A obesidade que domina a muitos é apenas mais uma variedade de idolatria.

Nenhum alimento contamina o homem, mas a alimentação, sim. O alimento é a provisão de Deus, mas o modo como dele nos utilizamos é responsabilidade nossa. Deus deseja ser honrado pelo testemunho do Seu quanto à alimentação. Quando lhe obedecemos, o Espírito Santo nos dá domínio próprio à mesa, e saúde para o nosso corpo. Muitas das leis dietéticas que o Senhor deu por meio de Moisés tinham como alvo o bem estar físico do povo.

A idolatria alimentar não pode ser considerada simples. Ao praticá-la, pecamos por desprezar a imagem de Deus em nós, visto que rebaixar ao nível dos seres irracionais, guiado apenas pela satisfação imediata, mesmo que mortífera. Além do mais, é bom que se diga, entre as feras não se ouve de obesidade mórbida, tal como nos domínios humanos.
            O pior de tudo é que não somos ignorantes. Sabemos que nossa prática alimentar nos faz mal e revela falta de domínio próprio. O copo padece, ficamos limitados em servir ao Senhor, entupimos as veias, desgastamos os joelhos pelo excesso de peso, forçamos o fígado e o pâncreas com o excesso de açúcar. Perdemos a vida, mas não largamos o que gostamos. Que diferença  há entre um peixe que morde a isca que encobre o anzol assassino, o ratinho que tem cabeça esmagada por cobiçar o queijo preso no gatilho da ratoeira e o homem que se intoxica com gorduras saturadas e açúcar? 
E então. Como um diagnóstico preocupante, no primeiro momento este texto pode lhe fazer pensar, mas infelizmente, pouco depois dessa leitura é bom vai suplantar o certo, e muitos, pouco depois vencerão o choque com um simples pedido: “garçom, mais uma coca, por favor!”.
A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.

LIÇÃO DAS BANANAS

Durante boa parte da minha adolescência, fui vendedor de bananas. Dormia e acordava literalmente cercado de bananas. É uma fruta rica, não resta dúvida, e eu as consumo por necessidade, mas como me perseguiam muito de perto, não consigo gostar delas. Aprecio os seus derivados, mas a fruta em si não me apetece. Eu participava da história das bananas desde os seus primeiros momentos. Quando elas abriam os olhos no cacho, eu já estava ao seu lado. Colhia, transportava, enfurnava e vendia. Gostava de vê-las indo, mas algumas teimavam em ficar comigo. Queriam envelhecer ao meu lado. Para que não se estragassem por apodrecimento, nós as transformávamos em doce que também seria oferecido aos meus clientes. Às vezes até meus cabelos pareciam folhas de bananeira.

Vivendo nessa “abundância bananal”, as bananas eram também a base da nossa dieta, em qualquer que fosse a refeição ou o lanche. Às vezes eu até tentava me livrar delas, mas elas não largavam do meu pé. “Pai, posso levar dinheiro para comprar um picolé no recreio?”, eu perguntava. A resposta, em geral, era a mesma: “Leve uma banana, é mais sadio”. Eu sabia que era, mas era saúde demais para o meu gosto.
Mas para ser justo devo dizer que as bananas me ensinaram muito. Hoje, quando penso na palavra maturidade, não consigo deixar de recordar o processo de amadurecimento de bananas. Há dois caminhos para termos uma bela penca de bananas amarelinhas. Você pode esperar o tempo delas, deixando que os processos físico-químicos sigam naturalmente, ou você pode apressar o amadurecimento alterando a temperatura do ambiente onde estão acondicionadas. Às vezes, pelas demandas do mercado, a gente colocava dezenas de bananas num grande tambor, totalmente forrado com sacos plásticos, pondo entre as pencas empilhadas umas pedras de carbureto de cálcio, as quais em contato com a água se tornavam efervescentes, liberando gás acetileno. Esse processo aumentava a temperatura no interior do tambor, acelerando a maturação das bananas. O problema era que às vezes, algumas bananas estavam exteriormente amarelinhas, mas no seu interior havia partes ainda endurecidas. A pressa era um risco, pois fora de tempo a aparente maturidade pode ser enganosa.

Na nossa vida com Deus, às vezes a nossa impaciência produz frutos amadurecidos prematuramente. Exteriormente tudo parece se encaixar bem, mas por baixo da casca não há um fruto saboroso. Foi exatamente assim a experiência de Israel na escolha do primeiro rei, Saul. Era a vontade de Deus que a monarquia se instalasse, mas não era o tempo adequado. No entanto, o povo achava que tinha chegado o momento e disseram a Samuel: “Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações” (1Samuel 8.5). Realmente, há algum tempo a nação precisava de um líder forte, e Deus estava preparando um homem segundo o Seu coração. O Senhor estava terminando o processo e em breve apontaria o Seu escolhido. Mas o povo achava que “agora” era o momento. Assim, como diz o salmista: “Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma” (Salmo 106.15). Na Sua misericórdia, mesmo sendo desprezado por Seu povo, o Senhor auxiliou na escolha de Saul, evitando que se fizesse um mal maior. Mas não demorou muito até que o fruto amargo da pressa do povo aparecesse. Logo, em um confronto com os filisteus, Saul agiu motivado pela pressão das circunstâncias, sedo reprovado pelo Senhor (1Samuel 13.11-14). Por conta dessa precipitação, o povo teve que suportar o mal reinado de Saul por quarenta anos.

Muitos dos nossos desejos são legítimos, mas Deus sabe o melhor tempo para realizá-los. Colocar um catalizador para acelerar o amadurecimento do fruto dos nossos desejos não é o melhor caminho. Poderemos até conseguir mais rápido o que queremos, mas no final ficará aquele gosto amargo.
Há tempo para tudo, e o de Deus é sempre o melhor. O carbureto da nossa alma inquieta é um péssimo recurso para obtenção dos nossos desejos.
“Espera pelo SENHOR, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo SENHOR” (Salmo 27.14).

                A serviço do Mestre,
                Pr. Jenuan Lira.