Durante boa parte da minha adolescência,
fui vendedor de bananas. Dormia e acordava literalmente cercado de bananas. É
uma fruta rica, não resta dúvida, e eu as consumo por necessidade, mas como me
perseguiam muito de perto, não consigo gostar delas. Aprecio os seus derivados,
mas a fruta em si não me apetece. Eu participava da história das bananas desde
os seus primeiros momentos. Quando elas abriam os olhos no cacho, eu já estava
ao seu lado. Colhia, transportava, enfurnava e vendia. Gostava de vê-las indo,
mas algumas teimavam em ficar comigo. Queriam envelhecer ao meu lado. Para que
não se estragassem por apodrecimento, nós as transformávamos em doce que também
seria oferecido aos meus clientes. Às vezes até meus cabelos pareciam folhas de
bananeira.
Vivendo nessa “abundância bananal”, as
bananas eram também a base da nossa dieta, em qualquer que fosse a refeição ou
o lanche. Às vezes eu até tentava me livrar delas, mas elas não largavam do meu
pé. “Pai, posso levar dinheiro para comprar um picolé no recreio?”, eu
perguntava. A resposta, em geral, era a mesma: “Leve uma banana, é mais sadio”.
Eu sabia que era, mas era saúde demais para o meu gosto.
Mas para ser justo devo dizer que as
bananas me ensinaram muito. Hoje, quando penso na palavra maturidade, não
consigo deixar de recordar o processo de amadurecimento de bananas. Há dois
caminhos para termos uma bela penca de bananas amarelinhas. Você pode esperar o
tempo delas, deixando que os processos físico-químicos sigam naturalmente, ou
você pode apressar o amadurecimento alterando a temperatura do ambiente onde
estão acondicionadas. Às vezes, pelas demandas do mercado, a gente colocava
dezenas de bananas num grande tambor, totalmente forrado com sacos plásticos, pondo
entre as pencas empilhadas umas pedras de carbureto de cálcio, as quais em
contato com a água se tornavam efervescentes, liberando gás acetileno. Esse
processo aumentava a temperatura no interior do tambor, acelerando a maturação
das bananas. O problema era que às vezes, algumas bananas estavam exteriormente
amarelinhas, mas no seu interior havia partes ainda endurecidas. A pressa era
um risco, pois fora de tempo a aparente maturidade pode ser enganosa.
Na nossa vida com Deus, às vezes a nossa
impaciência produz frutos amadurecidos prematuramente. Exteriormente tudo
parece se encaixar bem, mas por baixo da casca não há um fruto saboroso. Foi
exatamente assim a experiência de Israel na escolha do primeiro rei, Saul. Era
a vontade de Deus que a monarquia se instalasse, mas não era o tempo adequado.
No entanto, o povo achava que tinha chegado o momento e disseram a Samuel: “Vê,
já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos,
pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações”
(1Samuel 8.5). Realmente, há algum tempo a nação precisava de um líder forte, e
Deus estava preparando um homem segundo o Seu coração. O Senhor estava
terminando o processo e em breve apontaria o Seu escolhido. Mas o povo achava
que “agora” era o momento. Assim, como diz o salmista: “Concedeu-lhes o que
pediram, mas fez definhar-lhes a alma” (Salmo 106.15). Na Sua misericórdia,
mesmo sendo desprezado por Seu povo, o Senhor auxiliou na escolha de Saul, evitando
que se fizesse um mal maior. Mas não demorou muito até que o fruto amargo da
pressa do povo aparecesse. Logo, em um confronto com os filisteus, Saul agiu
motivado pela pressão das circunstâncias, sedo reprovado pelo Senhor (1Samuel
13.11-14). Por conta dessa precipitação, o povo teve que suportar o mal reinado
de Saul por quarenta anos.
Muitos dos nossos desejos são legítimos,
mas Deus sabe o melhor tempo para realizá-los. Colocar um catalizador para
acelerar o amadurecimento do fruto dos nossos desejos não é o melhor caminho.
Poderemos até conseguir mais rápido o que queremos, mas no final ficará aquele
gosto amargo.
Há tempo para tudo, e o de Deus é sempre o
melhor. O carbureto da nossa alma inquieta é um péssimo recurso para obtenção
dos nossos desejos.
“Espera pelo SENHOR, tem bom ânimo, e
fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo SENHOR” (Salmo 27.14).
A
serviço do Mestre,
Pr.
Jenuan Lira.
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