“E logo, aproximando-se de Jesus, lhe disse: Salve,
Mestre! E o beijou. Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste?” (Mt.
26:49-50)
“Senhor,
Eu preciso ser honesto... me perdoe a franqueza, mas tenho que falar. Estou com
um sério problema por causa de algo que encontrei no capítulo 26 do Evangelho
de Mateus. Depois de tantas leituras nesse capítulo, essa semana o versículo 50
me deixou perturbado. Mas numa medida tal, que resolvi Lhe escrever essa carta
aberta.
A
leitura estava indo tranquila, conforme meu novo método de leitura nas oito
listas. Mateus era a última lista, e já estava quase terminando quando Suas
palavras dirigidas a Judas saltaram da página, grudaram-se na minha mente, e desde
então estão literalmente me tirando a paz. Tentei ignorar, mas não consegui.
Então deixei de resistir e resolvi investigar o motivo da minha angústia de
coração.
Senhor, eu preciso ser honesto. Eu
achei que o Senhor exagerou na dose. Podia ser homem, varão, colega ou outra
forma corriqueira própria do seu tempo, mas AMIGO?? Depois de tudo, amigo?
Fiquei meio revoltado... Judas é o protótipo de todos os traidores. Ele é
falso, dissimulado, frio e calculista. Senhor, foram três anos e meio de
manifestação do mais puro e verdadeiro amor. Ele andou contigo e recebeu Sua
proteção, viu Seu poder e desfrutou do Seu carinho. No final, o que ele fez? Trinta
moedas de prata... trinta moedas de prata foi o preço em que esse terrível
traidor avaliou o Senhor. E pior: mesmo sendo avisado de antemão. Entende,
Senhor, a minha revolta. O Senhor não podia chamá-lo de amigo. Mas o Senhor o
fez, e eu sei que estavas sendo verdadeiro, pois és a própria Verdade.
Senhor preciso ser honesto... Na verdade eu
suspeitava desde cedo a razão da minha dificuldade, mas não queria admitir. Na
verdade o que aconteceu foi que eu fiquei envergonhado demais com as Suas
palavras. Minha perturbação tem um nome: pecado. Meu problema é que meu
espírito rebelde ficou magoado com a Sua bondade para com Judas. E sendo ainda
mais honesto, não foi por causa de Ti, Senhor. Não fiquei revoltado porque fostes
traído com um beijo. Meu problema é que o Senhor colocou o dedo na minha ferida,
e está doendo muito. Por uma razão simples: eu não consigo Lhe imitar, sei que
é isso que tenho que fazer, e não consigo fugir de Ti. Eu sou teu discípulo, eu
Lhe amo, Senhor, verdadeiramente. Eu me emociono cada vez que penso na cruz, em
como me amaste no calvário. E aqui está o meu problema. É exatamente isso: Eu
fui alvo de tão grande amor, mas eu não consigo amar com o amor com que me
amaste. Na verdade, Senhor, eu sou tão mal quanto Judas, e se não fosse por Tua
graça, eu iria segui-lo para o mesmo lugar de perdição eterna. Eu sou o que sou
por causa do Teu amor, mas o meu amor é tão insignificante, tão ineficaz que eu
chego a perguntar: Eu amo a Cristo de verdade? Pode parecer infantil essa
dúvida, mas tem uma causa: eu nunca chamei um traidor de amigo, e até esse
momento nem sequer cogitei tal possibilidade. Eu posso até não ter usado
palavras feias e pronunciado maldições contra os que me fizeram mal, mas o meu
silêncio são as palavras internas de um coração amargurado. Muitas vezes fico
calado, mas até isso faço por motivo egoísta, pois não quero me comprometer por
causa do que falei, nem dar conta das minhas palavras irrefletidas. Por isso,
fico calado por fora, mas dentro de mim um coração ressentido grita, quase me
deixando surdo com o seu clamor. Aí, eu chego a Mateus 26:50 e encontro o
Senhor olhando para Judas e dizendo: “Amigo
a que vieste?”
Senhor, eu preciso ser honesto...
dolorosamente honesto: eu não quero chamar de amigo aqueles que me feriram. Meu
coração é duro, Senhor, muito duro. Eu tenho muito orgulho próprio, eu acho que
mereço receber gratidão daqueles por quem me esforcei; eu acho que deveria ser
considerado por aqueles que um dia meteram comigo a mão no prato; eu acho que mereço
receber pelo menos um pouco de apreciação da parte daqueles por quem me empenhei
e me desgastei. Mas esse é o meu problema, Senhor, o pensamento errado de que
eu mereço. Quem sou eu para merecer alguma? E se o Senhor me desse o que eu
realmente mereço? Assusto-me só eu pensar... por favor, Senhor, nunca, mas
nunca mesmo, me dê o que eu mereço! O que seria de mim sem a Tua graça!!
Senhor, sendo bem honesto eu preciso
Lhe pedir perdão! Nunca me fizeram tanto mal
quanto o que Eu lhe fiz e continuo fazendo. No entanto, Tu Senhor,
continuas me amando, mantendo comigo comunhão não só de amigo, mas me convidas
à comunhão íntima de Pai e filho. Realmente, ninguém tem maior amor do que
esse. E se o Senhor de tal maneira me amou, não deveria eu amar o meu próximo?
Não deveria eu amar o meu irmão? Não deveria chama-los de amigos, a despeito do
mal que me causaram? Sim, Senhor deveria. Perdão por meu orgulho, perdão por
achar que mereço, perdão por ser um discípulo tão fraco. Não desista de mim,
Senhor! Refaz esse servo fraco, e ajuda-me a ser igual a Ti.
De um
servo envergonhado,
a serviço do Mestre Amado,
Pr.
Jenuan Lira.
2 comentários:
Irmão, eu sou mais a se colocar do seu lado para confessar o quanto sou orgulhoso e tantas vezes traidor do Mestre.
Senhor, obrigado por manifestar teu amor a mim que não sou, por mim mesmo, melhor do que Judas.
Faz-me um servo igual a Ti.
O irmão estou na mesma situação que você, que o Senhor nos leve casa do oleiro quantat vezes forem necessárias.
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