quinta-feira, 13 de março de 2014

EU MEREÇO?



            - “Depois de um dia de trabalho duro e trânsito estressante eu mereço voltar para uma casa tranquila e bem arrumada, onde uma esposa alegre e filhos carinhosos irão me proporcionar uns momentos de sossego.”
            - “Sempre faço meu serviço direito, sou um profissional exemplar... mereço um pouco mais de consideração do meu chefe.” 
            - “Sou um cidadão de bem, cumpro meus deveres. Mereço mais atenção das autoridades.”
            - “Faço tudo pelo meu esposo e pelos meus filhos. Dou duro para manter a casa em ordem.. mereço um mínimo reconhecimento da parte do meu marido.”
            - “Tratei essa pessoa da melhor maneira possível, fiz tudo por ela... acho que merecia um pouco mais de gratidão.”
            - “Fiz o meu melhor... mereço um ‘muito obrigado’.”

            Todas as situações acima apresentam um desafio interessante quando analisadas à luz das Escrituras. O dilema se encontra na possível e frequente confusão entre o que é justo e o que é merecido. Sendo um ignorante confesso da filosofia do direito, da lógica que rege o equilíbrio entre deveres e méritos individuais, admito que o meu raciocínio pode furar alguns pontos naquilo que é padrão no nosso sistema jurídico. Mas olhando a questão pelo prisma da Bíblia, parece claro que aquilo que os outros me devem, eu não posso reivindicar como direito adquirido. Creio que esse pensamento está por trás das palavras de Cristo em Mateus 5:38-41, quando o Senhor nos ordena a difícil prática de oferecer a outra face, entregar a túnica e andar a segunda milha.
            Por virtude daquilo que sou, um ser criado, e por isso mesmo dependente, devendo ao Criador não apenas minha origem, mas minha contínua subsistência, não há como não concluir que não existem méritos inalienáveis consignados à minha pessoa. Quando minha própria existência é fruto de um ato livre da providência de Deus, como posso me considerar merecedor do que quer que seja?
            Venho pensando nisso há algum tempo, mas tive minhas reflexões refinadas pela recente meditação no Salmo 136. Este Salmo tem como tema a misericórdia de Deus. É uma canção em que a frase “”porque a sua misericórdia dura para sempre” se repete à exaustão, aparecendo em cada um dos 26 versículos. O salmista diz que por causa da Sua eterna misericórdia devemos render graças ao Senhor (vv. 1, 2, 26). Em seguida ele fala sobre a criação dos céus, da terra e dos astros, sempre repetindo que tais coisas existem por causa da misericórdia de Deus. Noutra seção ele relembra os feitos de Deus na história de Israel e justifica a motivação de Deus por trás de tais feitos: “Porque a Sua misericórdia dura para sempre.” E termina afirmando que o socorro de Deus (23), a libertação de Deus (24) e o suprimento de Deus (25), tudo, tem apenas uma razão: “Porque a Sua misericórdia dura para sempre.
            Esse pensamento merece mais reflexão, o que espero fazer no próximo artigo, mas, por enquanto, consideremos o seguinte: Aquilo que é meu direito, não significa que eu mereço. Os benefícios e compensações que me chegam às mãos quando se aplica a justiça, não acontecem porque eu mereço, mas porque “a Sua misericórdia dura para sempre”.
            Pensando assim, nossa vida será de menos reivindicação e mais gratidão. E cada vez que uma boa dádiva nos for concedida, mesmo que ‘prescrita em lei’, vamos tributar louvores ao Deus dos céus e àqueles através de quem uma vez mais fomos lembrados de que a “misericórdia do Senhor dura para sempre”.
   
            A serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira.


Um comentário:

Darlene Kids disse...

Ótima meditação.
Que Deus continue usando sua vida para edificar outras.