terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Tempo para Deus


Há coisas que só se aprende com o passar do tempo. Aprender a contar o tempo é uma delas. Ocorre, então, que, se para aprender a contar o tempo precisamos da passagem do tempo, na realidade quando iniciarmos a medição do tempo, muito tempo já terá se passado. O tempo não perde tempo, ele é o preço de si mesmo.
            No salmo 90, Moisés ora ao Senhor enquanto compara a eternidade de Deus, Sua atemporalidade, com a transitoriedade do homem. Aqui, o Moisés que fala já tem muitos anos de estrada. Não é o jovem vigoroso que feriu o egípcio aos 40 anos. Muitas águas rolaram e ele já vê o fim da linha, restando-lhe apenas “canseira e enfado”. Nesse momento, consciente de que o tempo não pára, mas prossegue na sua corrida sem volta, pede ao Senhor: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio”. Contar o tempo antes que já não haja tempo nenhum, eis o segredo da sabedoria.
            Em Eclesiastes 3, Salomão diz que “há tempo para todo propósito debaixo do sol”. Mas a dificuldade é definir “debaixo do sol” o propósito em que se vai empregar o tempo. Salomão mesmo sofreu por não saber fazer bom uso do tempo durante um período longo da sua breve vida. Especialmente na sua juventude ele deixa o tempo por conta, e como disse o poeta: “como dar em tempo tanta conta, eu que sem conta gastei tanto tempo”?
            Nos dias da mocidade tudo é uma festa. Corremos pela vida despreocupados, pois ainda há muito chão. Pouco atentamos para o fato de que  “tudo passa rapidamente e nós voamos”. E assim, desavisadamente deixamos de investir esse belo tempo de mocidade naquilo que vale a pena. Salomão se preocupou com isso e deixou um testemunho a fim de avisar aos jovens para não caírem na ilusão de pensar que na juventude não se precisa contar o tempo. Lembra-te do teu Criador, nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias... Foi o brado final do sábio no último capítulo de Eclesiastes. Por quê? Porque dentro de pouco tempo o tempo terá passado, então se romperá o fio de prata da vida, e se despedaçará o copo de ouro, o pó voltará à terra, e o espírito voltará a Deus que o deu. Então, só então, você saberá se a vida valeu à pena.
            Perceber tarde que não há mais tempo é a terrível angústia de todo aquele que não teve tempo para Deus. Foi o caso de Cassimiro de Abreu, poeta da segunda geração do Romantismo brasileiro. Entediado com o vazio da vida, sem querer encontrar em Deus a saída para sua angústia existencial, o jovem Cassimiro entregou-se aos prazeres do mundo, a exemplo de Salomão. Querendo fugir dos problemas em casa, bolou um plano para enganar seu pai, a fim de receber ajuda para ir para Lisboa. Livre, encantou-se com o mundo intelectual boêmio, vindo a contrair tuberculose aos 17 anos.
            Sozinho, doente, ele sentiu saudades da sua pátria. E mesmo sem ter se preocupado em buscar a Deus nos dias da mocidade, ele pede ao Senhor que lhe conceda mais alguns anos. Na sua Canção do Exílio ele chora... “Se eu tenho de morrer na flor dos anos / Meu Deus! Não seja já... Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro / Respirando este ar; /
Faz que eu viva, Senhor! Dá-me de novo / Os gozos do meu lar
!
            Infelizmente não havia mais tempo. Tempo perdido é vida perdida. Cassimiro morreu aos 21 anos, mas não sem deixar registrada sua dor pelo tempo que não podia reviver. Em Meus Oito Anos, provavelmente sua poesia mais conhecida, ele declama em profunda melancolia a saudade de tempos que não voltam mais – “ Oh ! Que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais”!
            Deus não vive no tempo, mas Ele criou o tempo para que vivamos nele. Ter tempo para Deus é simplesmente dedicar a Deus cada minuto da vida, contando os dias para a glória de Deus. Não há melhor maneira de aproveitar o tempo.
                               
            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira.         

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

EM DEFESA DA PÁTRIA


 “Não me fale em Brasil. Quase morri quando retornei depois de uma visita”. 


Foram essas as palavras de um pastor americano dirigidas a um irmão brasileiro que quis saber sobre sua estada em nosso país. Foi difícil ouvir essas palavras sem ficar chateado. Primeiro, porque eu fui um dos responsáveis pela vinda daquele pastor ao Brasil; segundo, quando esteve entre nós, ele mesmo pediu para pregar várias noites seguidas, em diferentes igrejas, e parecia satisfeito em cada oportunidade; terceiro, e mais importante, não gosto de ouvir ninguém falando mal do Brasil, especialmente se não for brasileiro. Instintivamente reajo em defesa da minha “pátria amada, Brasil”.
            Embora o patriotismo possa ser exagerado, na medida certa é bom e natural. Nossa identidade está diretamente ligada ao nosso lugar de origem. Por isso ninguém fica satisfeito ao ouvir um estrangeiro falando mal da sua terra.
            Meditando sobre o episódio, me veio à mente um fato muitas vezes esquecido: a pátria dos filhos de Deus não se localiza geograficamente neste mundo. Nossa morada está sendo preparada por Cristo na casa do Pai. Pedro diz que somos “estrangeiros e peregrinos” neste mundo. Nossa verdadeira pátria é definida não pelo nascimento natural, mas pelo espiritual.
            O problema é que a realidade espiritual parece muito distante dos nossos olhos, e por isso firmamos nossa identidade a partir do nosso país de origem. Essa visão limitada e naturalista é raiz dos grandes problemas que enfrentamos na vida. Se não podemos nos identificar como cidadão dos céus, também não podemos aceitar os planos do Senhor dos Céus.
            Talvez você já ficou assustado com algumas expressões fortes dos salmistas em relação aos inimigos de Deus. Por exemplo, no Salmo 139:21-22 lemos: “Não aborreço eu, Senhor, os que te aborrecem? Não abomino os que contra ti se levantam? Aborreço-os com ódio consumado. Para mim são inimigos de fato”. Esse tipo de reação mostra que o salmista levava a sério a pessoa de Deus. A inimizade do mundo contra Deus lhe causa verdadeiro pavor, pois para ele Deus não era um mito, mas um Deus real, pessoal e presente. 
            Nosso problema é identificado por Paulo em Romanos 1, onde Paulo nos mostra que colocamos as coisas criadas no  lugar do Criador. O que realmente nos interessa são nossos desejos, nossos sonhos, nossa casa e nossa terra.  Quanto ao reino de Deus, não descartamos de todo, mas nos contentamos em tê-lo apenas como um reino de fantasia.
            Gosto do Brasil, mas amo mesmo a Pátria Celeste. Ali, sim, é o meu lugar, meu destino final, meu porto seguro... o meu país. Por ele vivo e para ele sigo. Existe um melhor destino?
            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

COMO TER O MELHOR CARNAVAL DA SUA VIDA


De novo fevereiro! E como diz a velha canção, “em fevereiro tem carnaval”. Chega rápido e se acaba rápido. Por isso, é bom fazer planos para aproveitá-lo, antes que restem apenas as cinzas da lembrança.
Cada um tem direito a fazer seus próprios planos, mas nunca é demais ouvir outra opinião. Aqui seguem dicas diferentes para fazer deste o carnaval da sua vida. Se forem seguidas, tenho certeza que se repetirão se houverem outros carnavais.

 1.    Procure entender o sentido do carnaval.

Parece básico, mas o sentido das coisas é indispensável para que delas se tire o maior proveito. Carnaval não é uma série de coisas. Não é data histórica, nem cívica, nem religiosa. Nem a etimologia do nome ajuda a dar uma razão objetiva para a festa. Mas carnaval é uma porção de coisas: barulho, desrespeito, embriaguez, ressaca, violência, sensualidade, prostituição, drogas, acidentes, morte. É o que nos dizem as autoridades e os médicos de plantão. E o elemento cultural brasileiro? Nesse sentido, sendo bem verdadeiros, no muito se pode resgatar uma sombra opaca da nossa brasilidade, embora essa seja daquelas heranças culturais que se não tivesse sido ligada à nossa etnia, seríamos uma nação muito melhor. Na realidade, o que mantém o  carnaval vivo é a natureza humana. Ou melhor, a propensão natural à rebeldia que tão bem nos caracteriza. Se o prazer ilusório da transgressão não fosse tão  patente na alma humana, o carnaval sequer teria tido início. O carnaval é a liberação da carne. Mas Deus diz: “quem semeia para a carne, da carne colherá corrupção” (Gl. 6:8).

2.    Afaste-se um pouco da agitação e tenha um tempo a sós.

Isso seria absolutamente diferente nesta época. E nestes momentos de quietude procure falar com Deus.  Como se faz isso? Entre no seu quarto ou saia para um lugar tranqüilo e abra o seu coração. Converse com Deus como se fala com um amigo atencioso e afável. Faça perguntas profundas, peça conselho, compartilhe alegria ou tristezas. Peça livramento dos perigos do carnaval, pois muitos não voltarão para sua casa, infelizmente. Parece estranho? Concordo! Deus e o carnaval são como água e óleo. No entanto, o Deus que  se entristece com o carnaval, alegra-se com o carnavalesco que o busca. Pois Ele diz: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Que o ímpio abandone o seu caminho, e o homem mau, os seus pensamentos. Volte-se ele para o Senhor, que terá misericórdia dele; volte-se para o nosso Deus, pois Ele dá de bom grado o seu perdão” (Is. 55:6-7)

 3.    Antes de cair na folia, leia pelo menos um capítulo da Bíblia

Essa idéia é radical. Poucas pessoas fazem isso no carnaval. Talvez você nunca tenha feito. Um capítulo não vai tomar muito tempo, nem modificar sua agenda. Existem bíblias bem pequenas que cabem na sua bolsa de viagem tranquilamente. Minha sugestão é que você leia no livro de Provérbios. Fica logo após os Salmos, mais ou menos no meio da Bíblia. Provérbios é uma dose de sabedoria divina para sua alma. Dentre todas as doses desse carnaval, essa será a melhor. A Bíblia mesmo diz: “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra, e luz para os meus caminhos” (Sl. 119:105).

4.    Decida não beber durante esses dias

 Pode ser difícil, mas se seguir as dicas acima será mais fácil enfrentar a tentação. As pessoas podem não entender e passar a criticá-lo. Mas Deus entende perfeitamente. No final você terá aproveitado melhor o feriado, voltará disposto para seu trabalho, terá fugido de perigos e de algumas atitudes, palavras ou ações que depois causarão culpa, vergonha e dor. Quer um conselho dos céus? Aqui está: “Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito” (Ef. 5:18).

Com essas dicas você terá o melhor carnaval da sua vida. Faça o teste! A única coisa que você poderá perder será o próprio carnaval, que seria um enorme ganho!

A serviço do Mestre,

Pr. Jenuan Lira.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

SATISFAÇÃO EM DEUS



Tu me farás conhecer a vereda da vida; na tua presença há plenitude de alegria; 
à tua mão direita há delícias perpetuamente” (Sl. 16.11).

            Diz o provérbio popular que a medida do ter nunca enche. Quem não tem gostaria de ter, e quem tem queria ter um pouco mais. Em outras palavras, nunca estamos satisfeitos com o que alcançamos, e por isso achamos difícil obedecer a Deus quando Sua Palavra diz: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (I Ts. 5.18).
            Há poucos dias percebi de maneira muito prática por que o desejo pela abundância material é enganoso. Foi pela comparação entre meu tempo de seminarista no antigo Seminário do Cariri e esses primeiros dias como aluno em Los Angeles. Posso garantir que entre as duas situações têm algumas ‘pequenas diferenças’, e muitas lições a ser aprendidas.
            Uma vez instalado no nosso apartamento, antes da família chegar, fui ao supermercado, em busca de coisas prontas, o que não é difícil por aqui. Na seção dos sucos, peguei dois tipos: maçã e laranja. Ambos são excelentes, só tem um problema: são muito grandes. Na verdade, aqui não nada pequeno. Mas não é bom que o suco seja grande? Por um lado, sim. Por outro, não. No meu caso, o tamanho do suco não foi garantia de satisfação. 
            Depois vários copos de suco de laranja, e vendo que ainda estava longe de esvaziar a caixa, notei que algo tinha mudado em relação ao suco. E foi fácil perceber que o sabor não tinha mudado, mas minha atitude, sim. Dentro de mim, pensei: por que eles fazem isso? Melhor seria se essa caixa fosse menor.
Envolto nas minhas “reflexões lanranjais”, voltei no tempo uns vinte e seis anos e lembrei minha época de aluno no velho seminário. Às vezes, e não eram muitas, a gente passava pela feira, e comprava algumas laranjas. Guardava no quarto, pois na geladeira comunitária havia um buraco negro que fazia sumir as coisas. Perto da meia-noite, na hora do lanche, os que tinham feito a “cota da laranja” espremiam com muito cuidado cada uma, tentado extrair cada gota que fosse possível. Pode ter certeza de que não ficava nada. E quando não enchia um copo, a gente colocava um pouco de água, e saboreava com alegria, pois suco de laranja no lanche da noite era um luxo. Ali o nosso dilema não era pela fartura, mas pela escassez. A gente agradecia, certamente, mas pensávamos que se tivéssemos mais suco seria melhor.
            Assim é na vida toda: nosso problema não é a falta ou a abundância material, mas a insatisfação no coração que somente a presença de Deus pode nos dar. Ter ou não ter não é a questão. O que nos falta realmente é satisfação. No final das contas, ninguém busca a riqueza pela riqueza, mas por achar que tendo um pouco mais estará satisfeito. Ninguém busca amizade pela amizade, mas por achar que um bom amigo vai nos dar satisfação. O que queremos mesmo é satisfazer os anseios do nosso coração. E neste caso só há uma solução: “... na tua presença há plenitude de alegria; à tua mão direita há delícias perpetuamente”. Quando o Senhor é a fonte da nossa alegria podemos cantar...
Não olho as circunstâncias, não, não, não,
Olho seu amor, seu grande amor,
Não me guio por vistas,
Alegre estou!
            Que o Senhor seja nossa alegria perpetuamente!
            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira.
  

O sentido do amor

Quem, por mais entendido que seja, se atreve a definir o amor? Essa não é uma tarefa fácil. Afinal,  toda definição é uma delimitação. Por isso aquilo que é sublime não cabe em palavras. Assim é o amor. Sentimos, conhecemos, desfrutamos, mas não conseguimos defini-lo.  Sua abrangência e essência sempre extrapolam nossas melhores aproximações verbais.

Porque o amor une em si mesmo necessidade e complexidade, muitos não se conformam em tê-lo indecifrável, e se lançam no desafio extremo de tentar defini-lo. Entre os inconformados com os mistérios do amor, e com merecido destaque, está Luis Vaz de Camões, reconhecido poeta português do século 16. São deles os versos do famoso soneto, no qual ele luta em doloroso paradoxo: “Amor é fogo que arde sem se ver/ É ferida que dói e não se sente/ É um contentamento descontente / É dor que desatina sem doer; (….)”.  A poesia é bonita, mas o resultado é frustrante. Camões afirma que o amor seria exatamente aquilo que não pode ser. Por isso, no último verso, ele pergunta como algo tão contraditório pode encontrar guarida no coração…. “ Mas como causar pode seu favor /  Nos corações humanos amizade, / Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

A frustração de Camões tem explicação. Ele deseja entender o amor tendo o homem como ponto de referência. Acontece que, partir do homem para compreender o amor é pegar um atalho enganoso, pois o homem se beneficia e compartilha, mas nunca produz o amor. A fonte verdadeira para o amor é a pessoa de Deus, a partir de Quem se sustentam, não apenas o amor, mas a beleza, a bondade, e todas as demais virtudes que dão sentido especial à vida. Na sua busca pelo sentido do amor, Camões pegou um atalho errado e não chegou a lugar algum.

A Bíblia diz claramente que “Deus é amor”. A Bíblia não diz que Deus é o amor, pois isso esvaziaria Sua individualidade e personalidade. “Deus é amor” significa que na Sua essência o amor figura como uma das virtudes fundamentais. Tudo que Deus faz, permite e pensa está permeado pelo amor. Deixar de amar, seria negar a Si mesmo, o que é impossível.

Falando da grandeza do amor de Deus, João, o discípulo amado, nos diz: “Ninguém tem maior amor que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo. 15:13).  Isso deixa claro que o padrão do amor é o Filho de Deus, que chegou ao máximo na expressão de amar. Qualquer outro ato de amor, por maior que seja, jamais superará o amor de Cristo. Assim, se alguém deseja entender e viver o amor, precisa conhecer o Filho de Deus, cujo amor é inigualável. Paulo enfatiza a sublimidade do amor de Deus afirmando que esse amor “excede todo entendimento”. Em outras palavras, não há nada dentro dos domínios da humanidade que justifique o verdadeiro amor.

O amor dá sentido à vida. Cristo dá sentido ao amor. Esse amor que escapa aos versos dos poetas e às mais profundas reflexões filosóficas encontra-se no Filho de Deus, que suportou a própria cruz por amar.

A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira

OS PERIGOS DA AMÉRICA


Não ameis o mundo, nem as coisas que há no mundo.
 Se alguém amar o mundo o amor do Pai não está nele...” (I Jo. 2.15)

            A América do Norte é impressionante. Das minhas andanças por alguns países, posso garantir que é diferente em muitos aspectos. Tem seus problemas, como não poderia deixar de ser, mas de maneira geral tudo é muito organizado, bonito e ordeiro. Dizem os entendidos que a crise econômica é um mal sem cura, mas, ninguém chega a tal conclusão se observar a impressionante riqueza e prosperidade material.
            Mas a América é também um lugar impressionantemente perigoso. Aliás, eu diria que é um dos mais perigosos do planeta. Engana-se quem pensa que está seguro na terra do Tio Sam. Nesse dito ‘primeiro mundo’, a sensação de segurança e plenitude é enganosa, pois muitas vezes a beleza que seduz os olhos é a mesma que destrói o coração. E nesse país limpo, prático, próspero e atraente o encantamento pode ser tal que cheguemos a pensar que o homem conseguiu fazer o paraíso na terra, o que não passa de uma grande ilusão. O problema é que quando a ilusão nos satisfaz, perdemos o gosto pela realidade. Por isso, o maior perigo da América não são os loucos que atiram em criancinhas e por covardia tiram a própria vida. O grande perigo é o mundanismo que geralmente vem empacotado numa linda embalagem.
            Num lugar onde tudo funciona, as pessoas são educadas, as leis eficientes e as complexidades da vida se resolvem apertando botões, as pessoas não sentem necessidade de Deus. Eles querem, eles compram. E se não gostam, compram de novo. Além da força do dinheiro, tem também a força da moralidade. Todo mundo cumpre seu papel, trabalha duro, defende a pátria e vai à igreja. São pessoas que prezam pelos valores cristãos, educadas, generosas, honestas, sendo parte de uma nação que fez da liberdade e da democracia seu valor maior. Neste contexto, o homem sente-se satisfeito, pensando que de nada mais precisa, nem de Deus.
            No nosso querido Brasil, os nossos maiores inimigos o mundo, a carne e o diabo se apresentam sem máscara. Como muitos falam, quando o diabo não vem, manda um secretário, que não raro substituído por uma secretária. Nos Estados Unidos, ele manda um e-mail com as maravilhas da tecnologia de ponta. Coisas que lhe darão a sensação de autossuficiência e de controle da situação. Nada ilícito em si, nada descaradamente contaminado, mas mortalmente perigoso.
            Observando a realidade americana temos certeza de que o mundo tenta nos aprisionar escondendo seus perigos através de muitos disfarces, afinal, seu príncipe é o pai da mentira. Quando não nos pega frontalmente, procura nos atingir pela retaguarda. Assim, seja aqui ou seja lá, no norte ou no sul, onde quer estejamos fiquemos alerta, pois “o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca”. Procuremos, com as lentes da Palavra, ver além da aparência, e assim poderemos sobrevier aos perigos da América, que no fundo são também os do Brasil e mundo.
            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira.

ENTREGUE AO DONO


Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós” (I Cor. 3.9)
 
            Há poucos anos, em conversa com um pastor amigo que estava saindo da sua Igreja, notando sua angústia e preocupação sobre o futuro do seu amado rebanho, lhe aconselhei: “Rapaz, siga em paz. Entregue a Igreja ao Seu verdadeiro Dono”. Ele fez assim, e as bênçãos do Senhor são visíveis na sua vida e na da Igreja que foi entregue a Cristo.
            Agora chegou a minha vez. Sair de uma Igreja não é fácil. Sair de uma Igreja amada é ainda mais difícil. Mas chegou a minha vez, ainda que seja temporariamente.
            Sempre é mais fácil aconselhar do que ser aconselhado, mesmo quando o que você está precisando é exatamente o conselho que um dia deu a outra pessoa. Aquilo que eu disse para o meu amigo, Deus está trazendo de volta para mim, de maneira direta e indireta. E isso tem me confortado o coração.
            Esta semana, quando sai para uma das minhas caminhadas matinais, que também é um tempo especial de oração, dei os primeiros passos e logo abri meu coração: “Senhor, estou angustiado quanto ao futuro da Igreja. O dia da minha partida está às portas, e eu não sei o que vai ser”. Não demorou dez segundos, e Deus me respondeu por meio da sua Palavra: “Eu edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Imediatamente a minha oração de lamento se transformou em oração de louvor.
            Mas isso não foi tudo. Deus vem me confirmando que o Dono da Igreja do Planalto não vai deixá-la só. Digo isso pelas muitas mensagens que recebi no caderninho de despedida que me foi entregue na quarta passada. Todas nos alegraram, mas um me chamou muito a atenção. A pessoa escreveu para minha família: “Deus está no controle, não se preocupem, a Igreja é de Cristo e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Deus cuidará de nós e de vocês”. Preciso de mais alguma coisa para descansar no cuidado do Senhor?
            Claro que a saudade é grande e um caminho novo se abre para minha família e para a Igreja. O que será o nosso futuro, somente Deus conhece. Mas a Igreja não é do pastor, nem deve a ele sua existência. Se houve crescimento e algo digno de louvor, tudo se deve a Cristo. A Igreja é um Edifício Espiritual, onde O Pai é o Arquiteto, O Filho, o Proprietário, Fundamento e Fundador e o Espírito Santo o Engenheiro. O pastor, quando muito, é o mestre-de-obras, mas, na maioria das vezes nada mais é do que um servente nessa maravilhosa construção.
            Se tomarmos a comparação da lavoura, como faz Paulo, não podemos esquecer que uns plantam, outros regam, mas o crescimento vem de Deus. Sem ele seria inútil todo esforço para lançar a semente.
            A culpa pelos erros, eu assumo. A glória pelos acertos Cristo assume, pois pertence totalmente a Ele. Sigo em paz, e vos deixo na paz do Senhor, Pastor meu e vosso.
            A Igreja está entregue ao Seu Dono.
            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira.