sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O PERIGO DA FRIEZA ESPIRITUAL

Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão.” (Apocalipse 13.11)


            A batalha de um pastor americano no estado de Michigan tem chamado a atenção da mídia, pois ele decidiu ‘entrar numa fria’, literalmente. Ele é um ministro da Igreja Metodista  Unida, e resolveu dormir 175 dias em uma barraca ao ar livre, como forma de protesto porque sua igreja se recusa aceitar o casamento e a ordenação de membros da comunidade LGBT. A empreitada não é fácil, principalmente se considerarmos que em Michigan o inverno rigorosíssimo derruba as temperaturas a muitos graus abaixo de zero.
           
O dilema do pastor Michael Tupper começou há seis anos, quando sua filha Sarah lhe confessou que era lésbica. Mas a situação se tornou crítica ano passado, porque Sarah lhe pediu para realizar seu casamento com outra mulher, que ela encontrara enquanto cursava uma conhecida faculdade cristã em Chicago. Como diz o próprio pastor, ele “não podia dizer não para sua filha.”  Por isso, a Igreja tomou a posição afastá-lo do ministério. Resoluto em defender a nova modalidade de casamento, pastor Tupper decidiu dormir no frio, como uma forma de representar o que a Igreja está fazendo com membros da comunidade LGBT.
           
            Levantando a bandeira da inclusão, tolerância e amor ao próximo, o pastor parece um cordeiro, mas ‘fala como o dragão.’ Deliberadamente, resolveu esquecer as palavras do próprio SENHOR Jesus que perguntou aos fariseus:  “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?” (Mt 19.4–5). Muito provavelmente o pastor Tupper vai afirmar que já leu essa passagem, o difícil vai ser convencer que a entendeu. Outra possibilidade pode ser que tenha entendido, mas seguramente não aceita que tais palavras têm autoridade divina. É difícil dizer o que é pior.

            O pastor de Michigan e todos os que torcem as Escrituras, a fim de desfazer Sua autoridade e direito de determinar nossa doutrina e prática, vivem uma terrível crise de falta de discernimento. Na sua cegueira mental e espiritual, procuram defender a inclusão usando a exclusão, e brigam pela tolerância sendo intolerantes. Mesmo que não tomássemos a Bíblia como nosso padrão ético e moral, o que seria perigosíssimo, apenas uma pitada de raciocínio sadio seria suficiente para desmontar a argumentação do movimento LGBT. Se a briga é para que se tenha tolerância com os que pensam diferente, por que o movimento pró-homossexualismo não aceita os que pensam diferente?  A questão, na verdade, não é falta de tolerância. O movimento LGBT não quer ser tolerado, seu alvo é que a sua  doutrina seja abraçada como norma da sociedade, e que os demais não sejam tolerados.  Se os líderes gays desejam liberdade de expressão para defender suas idéias, por que os pregadores da Palavra não podem usufruir dessa mesma liberdade e ensinar o que a Bíblia diz sobre o assunto?

            A verdadeira Igreja de Cristo precisa clamar ao SENHOR por discernimento espiritual, pois essa é a nossa verdadeira crise. Perdemos a nossa fé nas Escrituras Sagradas, e agora não sabemos mais o que é certo ou errado. Tateamos num mar de trevas, usando palavras certas, revestidas de significado  errado. Sem um acurado senso crítico para conferir ‘coisas espirituais com espirituais’ (1 Coríntios 2.13), ficaremos confusos com palavras e até textos bíblicos usados erradamente para afirmar o contrário do que dizem.

            A solicitude do pastor em favor da filha ‘rejeitada’ pela Igreja certamente toca os corações. Provavelmente, em breve ele será aclamado com um pai amoroso, um homem que não deixa o preconceito destruir a unidade familiar. Da perspectiva bíblica, tal pastor jamais poderia ser exemplo de um pai amoroso, pois quem ama exorta e corrige os filhos. No conceito bíblico, Pr. Michael lembra o velho sacerdote Eli, que resolveu honrar mais os filhos do que a Deus. Perdeu os parâmetros da verdade e não tinha mais o menor discernimento. Infelizmente, não só o pastor, mas a grande massa evangélica dos nossos dias é tão desprovida de discernimento quanto o povo de Nínive, que não sabia “discernir entre a mão direita e a mão esquerda.” (Jonas 4.11).

            O final dessa história ‘fria’ ainda não sabemos. É bem possível que o ´protesto gelado´ do pastor em favor do movimento LGBT surta o efeito que esperado, e ele logo retorne ao calor da sua cama. Mas uma coisa é certa: se sua causa fosse em favor do discernimento espiritual e o retorno das igrejas evangélicas aos padrões bíblicos, suas chances seriam poucas. No máximo ele ganharia menção no Guiness Book como o primeiro pastor-picolé da história da Igreja. Maior frieza espiritual é impossível.

            A serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira

sábado, 20 de fevereiro de 2016

DEUS, O BRASIL E A ZIKA

O Senhor te ferirá com a tísica, e a febre, e a inflamação, e com o calor ardente, e a secura, e com o crestamento, e a ferrugem; e isto te perseguirá até que pereças.” (Deuteronômio 28.22)

            A história é o testemunho pleno de que “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada.” (Salmo 115.3) Na Sua infinita soberania e poder, Deus determina o destino de todas as coisas. Desde os astros na imensidão do espaço, aos monstros que habitam as profundezas. Entre uns e outros, o SENHOR cuida das aves do céu e decreta a história dos grandes impérios, pois “segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Daniel 4.35)

            Tomando como base o fato da soberania de Deus sobre todas as coisas, não é fora de propósito perguntar: “Como o SENHOR fala a um mundo que não suporta a Sua voz?” As possiblidades são diversas, mas parece que a linguagem do juízo é uma forma mais frequentes de Deus se apresentar ao homem rebelde. Quando o homem segue obstinado apesar dos anúncios de juízo, o SENHOR estende a Sua mão, causando catástrofes naturais, entre as quais as pandemias. Por meio dos ‘Seus agentes’ invisíveis, Deus aniquila a sabedoria humana, revelando que ‘todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade’ (Salmo 39.5).

            Enquanto o Brasil segue desesperado na luta contra o aedes aegypti, não posso deixar de lembrar que, como se vê na história de Israel, existe uma ligação direta entre o temor do SENHOR e a saúde do Seu povo. Se Israel andasse conforme as ordenanças do SENHOR, teria uma vida mais saudável, pois: “... nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre os egípcios; pois eu sou o Senhor, que te sara.” (Êxodo 15.26) 

            Vendo o ‘Gigante por Natureza’ dominado por um mosquito, ‘insignificante por natureza’, o capítulo de Deuteronômio 28 ganha cores vívidas. Por exemplo, vejo que nossas autoridades estão literalmente feridas com loucura, cegueira e perturbação de espírito (v.28). Dizem que o mosquito prolifera na água parada, mas os rastros da sua passagem como a microcefalia (será...?) surgem no sertão nordestino, onde falta água parada até para o consumo da população.
           
            O caos social antecipado em Deuteronômio 28 está instalado no Brasil. Pelo visto, os agentes do mundo da microbiologia decidiram imitar os ‘cabeças da democracia’ e o resultado são mutações dissimuladas que procuram resistir e escapar de todas as medidas para debelar o mal. Os vírus estão em associação para o crime. Seguindo o modelo dos homens, decidiram também trapacear, mudar as leis e se agregar em composições fisiológicas abomináveis, produzindo desordem e doença por toda parte.

            Pode soar estranho, mas acho que o zika vírus faz menos mal que os outros parasitas que transtornam a nação. Enquanto o mosquito causa dor no corpo e manchas na pele, os nossos líderes fazem adoecer a alma do povo. Salomão diz “A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos.” (Provérbios 14.34) Enquanto a corrupção drena o último fôlego de vida do país, o poder executivo procura resolver seus erros transtornando o povo, pois “O rei justo sustém a terra, mas o amigo de impostos a transtorna.” (Provérbios 29.4)

            Um velho e sábio missionário, que já foi promovido à glória, costumava dizer, quando pessoas lamentavam sob o peso da injustiça: “O moinho de Deus moi devagar, mas moi bem fininho.” Pelo que vejo diria que o zika é apenas uma nuvenzinha de poeira. Dentro de pouco tempo o Brasil vai ficar coberto de pó.
            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

MULHERES LARANJAS E HOMENS BANANAS: OS FRUTOS AMARGOS DA CONFUSÃO DE GÊNERO

Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?” (Mateus 19.5)

            Por causa da onda de estupros contra mulheres alemãs por parte de alguns refugiados, no final do mês passado aconteceu um protesto inusitado ocorreu na Holanda: um grupo de homens saiu às ruas vestidos de saias, com faixas de protesto contra os atos criminosos. Entre os muitos comentários na mídia, a opinião de uma jornalista dinamarquesa foi extremamente precisa. Em resumo, ela disse: “Os refugiados sabem que na Europa não existe mais homens para proteger as mulheres. Sumiu da sociedade o espírito masculino que se levanta em defesa contra o mal. Não temos líderes masculinos, os homens se tornaram ‘suaves’ e inclusivistas, por isso as mulheres estão à mercê dos estupradores.”

                Faz tempo que não se ouve na grande mídia comentários tão corajosos e verdadeiros. Fez-me lembrar as palavras do rei Davi, quando instruía seu filho Salomão, que estava assumindo o trono de Israel: “Eu vou pelo caminho de todos os mortais. Coragem, pois, e sê homem!” (1Reis 2.2). As mulheres alemãs estão com medo, porque falta na sociedade o espírito masculino que se caracteriza principalmente pela coragem. Por isso, os delinquentes, dentre os refugiados orientais, abusam das mulheres, e depois as largam na rua como meros bagaço de laranja. Então, enquanto as ‘mulheres laranjas’ agonizam, surgem os ‘homens bananas’, fortes e destemidos, mostrando seus músculos viris emoldurados em apertados trajes femininos, protestando como mulher. A confusão é tamanha, que os homens nem sequer sabem como protestar. São ‘doces e delicados’ até nos momentos em que deveriam ser firmes, diretos e ameaçadores. O que eles querem dizer vestidos de mulheres? Por que clamam como vítimas indefesas, ao invés deles mesmos se portarem como defensores das mulheres? Não deveriam, antes, avisar aos potenciais estupradores, ‘se mexerem com nossas mulheres vamos pegar vocês?’. Não é hora de protestar com faixas, mas de mostrar os músculos. A continuar desse modo, em breve, serão os próprios protestadores vítimas de estupro.

                A situação da Europa, típica do países ‘desenvolvidos’ ocidentais, é cruel e desesperadora. O movimento feminista conseguiu intoxicar o continente com a aberrante filosofia de que não se deve preservar a distinção de gênero. Por isso, ‘mulheres masculinas’ e ‘homens femininos’ passaram a se esforçar para inverter valores e papéis, escondidos atrás da bandeira da inclusão, da luta contra o preconceito e do amor livre. O problema é que tais distinções não são acidentais, mas essenciais. Essa é uma luta perdida, pois Deus fez cada um ‘segundo a sua espécie.’ Homens que se esforçam para ser mulheres ou vice versa, não são uma coisa, nem outra. Terminam num vazio de incerteza, tentando negar o que são, a fim de ganhar o que jamais terão. Podem fazer mudanças no corpo e nos trejeitos, mas a essência do ser está na alma, que possui distinções indeléveis elaboradas pelo Criador.

                Por evidências claras, podemos afirmar que as idéias de liberdade, inclusão e acolhimento são apenas uma cortina de fumaça para encobrir o real problema da Europa e do mundo, que é a revolta contra o Criador, Juiz e SENHOR dos céus e da terra. Como os reis da terra e os príncipes que se revoltam contra o domínio de Deus e do Seu Ungido, os cientistas, professores, jornalistas, legisladores e formadores de opinião, em geral, estão dizendo: “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas.” (Salmo 2.3) Com a propagação da confusão de gênero, os homens estão em batalha direta contra Deus, pois o profeta Isaías declara:  “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!” (Isaías 5.20)

A distinção entre homem e mulher é uma característica essencial de uma sociedade equilibrada e produtiva. Nos frutos abençoados da complementação dos opostos, Deus planejou a manifestação plena da Sua imagem no casamento entre macho e fêmea, exclusivamente.

Tão nocivo quanto o machismo é o feminismo, pois destrói a doçura, delicadeza e ‘fragilidade’ feminina, forçando as mulheres a serem o que não devem. É necessária a diferenciação de gênero, pois  enquanto as mulheres adoçam o mundo com beleza e sensibilidade, o homem o sustentam com seus músculos.  

                Já fui vendedor de frutas e sei o quanto são frágeis. Se demoram muito na prateleira, se estragaram facilmente. A Europa tem permanecido por longo tempo na ‘prateleira do humanismo’ e o mal cheiro começa a exalar pelo mundo. O que se vê no mercado europeu é um cenário devastador... bananas podres e laranjas chupadas. Eram frutas doces, mas foram espiritualmente manipuladas e se tornaram amargas.

                A serviço do Mestre,
                Pr. Jenuan Lira

                

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

ADORANDO A INDECÊNCIA

Serão envergonhados, porque cometem abominação sem sentir por isso vergonha; nem sabem que coisa é envergonhar-se. Portanto, cairão com os que caem; quando eu os castigar, tropeçarão, diz o Senhor.” (Jeremias 6.15)

            Por pura falta de criatividade ou, pior ainda, pelo desejo de revelar seus valores, um forrozeiro pop, que caiu nas graças de muitos brasileiros, acrescentou ao seu nome o título de safadão. Para nossa tristeza, trata-se de mais um cearense que subiu os degraus da fama e da fortuna, materializando com primor a futilidade dos ‘famosos’ desse mundo. Ao jovem forrozeiro podem faltar talento e pudor, mas não falta dinheiro no bolso. Com suas ‘safadezas’, o rapaz vem faturando alto. Em 2015, dois clipes do ‘safado’ tiveram juntos mais de 120 milhões de visualizações. Simplesmente incrível.

            Em qualquer dicionário da língua portuguesa, o adjetivo safado será explicado como o qualificativo de alguém que é desonesto, incorreto, indecente ou obsceno. Apenas uma pitada de pudor teria sido bastante para o cantor desistir do horrível título. Mas, como é praxe entre os ‘famosos’, em lugar do pudor, força-se o humor. Assim, o rapaz não é safado, mas safadão. O sufixo aumentativo confere ao termo chulo um ar de jovialidade descontraída e uma conotação atraente à safadeza. A jogada é imoral, mas o povo gostou. Um termo antes reprovável, agora é bonito e rentável.

            Curiosamente, parece que o Brasil se tornou o país dos aumentativos indecentes: mensalão, petrolão, safadão etc. A etimologia é diferente, mas o sentido é o mesmo. Por trás de cada palavra está a inclinação à indecência, à desonestidade e à obscenidade. Enquanto palavras como justiça, decência e honestidade desaparecem do vocabulário nacional, seus antônimos tornam-se recorrentes e aceitos com naturalidade. Na realidade, olhando atentamente, parece que o ‘safadão cearense’ é apenas sintoma da imoralidade que corrói as entranhas do nosso país. Por incrível que pareça, as palavras do profeta Jeremias, proferidas no sétimo século antes de Cristo, descrevem perfeitamente a cena atual diante dos nossos olhos: “... cometem abominação sem sentir por isso vergonha; nem sabem que coisa é envergonhar-se.”

            Infelizmente, nossos povo chegou ao ponto sem volta, no qual tudo que interessa é ‘pão e circo.’ Essa é a receita para se manter uma sociedade anestesiada. Dar ao povo o falso ‘pão’, levedado pelo fermento da corrupção, e, em seguida, mandar as massas para o circo do safadão. É obscenidade do começo ao fim. 

            A razão para essa calamidade? Salomão explica em forma de pergunta: “Até quando, ó néscios, amareis a necedade?E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?” (Provérbios 1.22) Movido pelo Espírito Santo, o sábio Rei de Israel explica que os homens, em seu estado natural, amam a necedade e desejam o escárnio. A iniquidade é agradável ao coração não-regenerado. Há uma relação passional entre o pecado e o pecador. Como diz o profeta Isaías, “as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam” (64.6). O resultado é antecipado também por Salomão: “Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição.” (Provérbios 1.32). Não tem jeito: o salário do pecado é sempre a morte (Romanos 6.23).

            Com tristeza, há que se admitir que a obscenidade faz parte da cena social brasileira. A falta de pudor e a promoção do que é impuro e destrutivo se alastrou em todas as esferas sociais. É desalentador reconhecer que nosso protesto será equivocado se focarmos apenas no ‘cearense safadão’, porque, na realidade, nos próximos dias nos confrontaremos com a confirmação de que vivemos em um ‘Brasil safadão’ - olha o carnaval aí, gente!!!

            Deus tenha misericórdia de nós!

            A serviço do Mestre,

            Pr. Jenuan Lira.
           


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

CÉSAR OU DEUS: LUTANDO PELO DISCERNIMENTO
 ENTRE O LEGAL E O MORAL

Eles são pavorosos e terríveis, e criam eles mesmos o seu direito
 e a sua dignidade.” (Habacuque 1.7)


            Em 29 de maio de 1962, a suprema corte israelense recebeu uma carta de Adolph Eichmann pedindo que o tribunal reconsiderasse a pena de morte. Eichmann foi um dos idealizadores e executores da chamada “Solução Final”, o conjunto de planos malignos elaborados em 1942, que levariam ao extermínio de milhões de judeus em escala industrial. A carta era endereçada ao presidente israelense, que tinha poderes para conceder o perdão. O argumento do carrasco nazista era simples: ele estava obedecendo ordens, logo, não podia ser responsabilizado pelo Holocausto. Eichmann dizia: “É preciso traçar uma linha entre os líderes responsáveis e pessoas como eu, que fomos forçados a servir como meros instrumentos nas mãos dos líderes. Eu estava realizando um trabalho burocrático, eu não era o líder responsável e, por isso, não me sinto culpado.”
               
                Depois de examinar o caso, o presidente israelense Ben Zvi, entendeu que a argumentação era inconsistente. Numa carta escrita em hebraico, ele respondeu a Eichmann usando o texto bíblico de 1 Samuel 15.33: “Assim como a tua espada desfilhou mulheres, assim desfilhada ficará tua mãe entre as mulheres.”  No dia 2 de junho de 1962, Eichmann foi executado por enforcamento.

                O famoso julgamento de Adoph Eichmann nos ajuda a perceber que nem tudo que é legal é moral. Há situações em que agimos na legalidade, mas falhamos na moralidade. Essa é uma tensão com a qual o discípulo de Cristo se debate constantemente nesse mundo que ‘jaz no maligno.’ Por um lado, por dever de consciência cristã, como nos diz o apóstolo Paulo, devemos viver na legalidade (Romanos 13.5); por outro, não podemos esquecer que “antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5.29). É preciso ‘dar a César o que é de César’, mas não esquecer que há o risco de ‘César’ querer se apropriar do que é de Deus.

                A ‘desculpa’ da legalidade tem levado muitos cristãos a se submeterem mais a César do que a Cristo. Esquecendo que  foram chamados para viver sob padrões muito mais elevados do que os prescritos nas leis humanas, se deixam dominar pelo espírito do mundo, sob a cobertura da lei dos homens. Por causa da natureza corrompida e a inata tendência à anarquia, Deus recomenda e aprova a elaboração das leis e a constituição de governos, mas isso não há garantia de que tais mecanismos sempre nos indicarão o melhor caminho. O dilema entre o certo e o permitido sempre ocorreu, mas se intensifica notadamente nesses ‘últimos dias’, quando se acelera a preparação para a vinda daquele que “...se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus.” (2 Tessalonicenses 2.4).

É fato que Deus ordenou os governos como seus representantes, com a função de punir o mal e promover o bem. Mas, como é bem notório ao longo da história, agentes malignos se apropriam das posições de poder, tornando-se tais quais os Caldeus nos tempos do profeta Habacuque: “... pavorosos e terríveis, e criam eles mesmos o seu direito e a sua dignidade.” O que tornava os Caldeus pavorosos e terríveis era sua independência de Deus. Foram investidos da autoridade de Deus, mas agiam como seres autônomos, julgando-se competentes para criar ‘o seu direito e a sua dignidade.

                Ainda que os argumentos de Adolph Eichmann fossem verdadeiros, sua ações eram imorais. Como bem destacou a filósofa judia alemã Hanna Arendt, que cobriu o julgamento em Jerusalém, os argumentos do nazista eram a “banalização do mal.” Arendt ficou horrorizada como Eichmann falava do envio de milhões para a morte como “atividade burocrática, um trabalho bem feito.”

Quem tenta indistintamente equacionar o legal e o moral se encaminha para encruzilhadas éticas, para as quais  a única justificativa será: ‘Estou cumprindo ordens.’ Pode até ser o caso, o detalhe é saber se são ordens de César ou de Deus.

A serviço do Mestre,

Pr. Jenuan Lira.