terça-feira, 24 de abril de 2012

CEGUEIRA ESPIRITUAL (II)


Conta-se que em 17 de maio de 1917, três crianças apascentavam um pequeno rebanho perto da cova da Iria, no interior de Portugal, quando uma ‘senhora’ mais brilhante que o sol lhes apareceu sobre um arbusto de porte médio. Foi assim que o relato de Lúcia (10 anos), Francisco (9 anos) e Jacinta (7 anos) estabeleceu no local um centro de romaria até hoje procurado por milhares de católicos. Desde esse tempo, supostas aparições de Maria se multiplicaram ao redor do mundo, trazendo seus recados e principalmente fomentando o suspense em torno dos famosos segredos de Fátima. O conto é interessante, mas tem um grande problema: a chamada Santa Sé nunca decretou o reconhecimento das “aparições da Virgem”.

            Sendo este o caso, por que promover a crença e tirar proveito das supostas aparições? Não seria melhor, por questão de consciência, avisar a todos que pairam sérias dúvidas sobre o fato? Será que a força da crença por si só é suficiente para validar algo como verdadeiro? Certamente não. Fé não cria fatos.

            Infelizmente tal atitude se vê no modo como os religiosos tratam o sudário de Turim. Em 1998, diante do manto exposto na catedral de Turim, João Paulo II falou com emoção acerca do linho sagrado. Na sua fala ele reconhece que a Igreja não tem competência específica para se pronunciar acerca da autenticidade do sudário. E termina dizendo: “o que sobretudo conta para o crente é o fato de o sudário ser espelho do evangelho”.

            Tal afirmação, para os que creem no evangelho, é estarrecedora. Se não se pode afirmar a autenticidade do tecido, como ele pode ser espelho do evangelho? E se for falso, como muitos afirmam? É fato que existe um grande debate acerca desse assunto, mas ainda que algum dia se venha a provar a autenticidade do sudário, no mínimo ele deveria ser tido como um ‘espelho’ suspeito, pois carece de evidências para ser autenticado como uma testemunha digna do evangelho. Na afirmação de João Paulo II, o que conta não é a verdade dos fatos, mas o que o pano significa para quem crer. Esse é o mais puro exemplo de fé na própria fé.

            O autor sagrado diz: “Fé a certeza de coisas que se esperam, e a convicção de fatos que não se veem”. Por essa definição, os fatos da fé jamais poderão ser mensurados empiricamente. Mas isso não significa que fé bíblica é um salto no escuro. A fé cristã é invisível, mas é coerente com os fatos históricos. Desprezar os fatos em face da crença é o caminho para o puro misticismo.

            Mergulhado nesse mar de trevas, o homem não pode se agarrar à sua fé, mesmo quando a crença tenha nascido da fantasia.  O importante não é ter fé, mas saber em quem sua fé se apoia. Se o fundamento da sua fé for contrário à verdade, por maior que seja sua devoção, você está se preparando para uma grande decepção. Ao invés de buscar o sudário ou outros ditos “objetos sagrados”, o melhor que fazemos é buscar a Bíblia que, embora sendo um dos livros mais antigos da história humana, é o que mais evidências tem em prol da sua veracidade. Por isso o melhor de tudo é ouvir e atentar para as palavras do Salmista: “lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos” (Sl. 119.105).

            A serviço do Mestre,
            Pr. Jenuan Lira.

           

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