terça-feira, 6 de novembro de 2012

EM BUSCA DE SOMBRA

Era um tempo mais simples. As coisas eram mais difíceis e cada um assumia suas responsabilidades como podiam. Não havia muitos botões para apertar. Mais do que os dedos, as pessoas usavam os músculos. Tudo era muito diferente, e até o sol parecia mais quente do que hoje.

Nesse tempo simples e escasso, meu pai iniciou seu primeiro ministério no interior do nosso estado. Muitos irmãos moravam em sítios distantes, e mostravam-se felizes quando recebiam a visita pastoral. Por isso, muitas vezes meu pai se propunha a enfrentar de bicicleta a longa estrada. Minha mãe sempre ficava apreensiva e temerosa, mas meu pai não via muitas alternativas. Assim, no dia marcado, a jornada tinha que iniciar bem cedo, antes do sol despertar, pois quando ele abria seus olhos, seu calor se tornava um obstáculo a mais. Muitas vezes eu o acompanhava, sempre na dúvida se conseguiria chegar ao fim. Minha mãe não tinha tanta certeza, mas meu pai estava certo de que eu era capaz de vencer o desafio. E era mesmo.

Até às 9:00 horas a viagem não era tão dura, mas daí em diante, era como se  cada um de nós tivesse um sol só para si, brilhando sobre a cabeça. Das paisagens cinzentas margeando a estrada, aqui e ali soprava uma leve brisa, mas já vinha temperado com o calor, trazendo pouco ou nenhum alívio. Olhando ao longe através do brilho solar, montanhas e rochas tremiam no horizonte, e no meio dessa dança térmica, às vezes aparecia a imagem de um riacho cortando a estrada... cruel ilusão de ótica.

Mas nem tudo era brilho e calor. Muitas vezes, quando já parecia que todas as forças tinham evaporado no calor, surgia a nossa frente um juazeiro verdinho.  Um abençoado oásis de sombra desafiando a aridez do sertão. Era um certo ponto de parada.  Bicicletas ao lado, sentávamos um pouco para tomar um gole de água e recuperar as forças. A sombra do juazeiro não marcava o fim da jornada, mas nos ajudava a recuperar as forças necessárias para seguir mais alguns quilômetros. Era tudo que precisávamos para não desistir.

Na estrada da vida não é diferente. Por vezes nos vemos forçados a encarar uma longa estrada onde o calor da provação faz a cena tremer na vista. Prosseguindo com esforço, enxergamos um manancial de águas tranquilas, que nada mais é do que a ilusão nascido no coração sofrido. Nessas circunstâncias, muitas vezes nosso ímpeto diz que devemos desistir, mas quando olhamos para o Senhor, eis que surge diante de nós uma sombra restauradora. Davi viveu um tempo de intensa provação, tendo que se esconder no árido deserto de Judá. Mas quando meditava na graça do Senhor, que é melhor que a vida, afirmava... “Porque tu me tens sido auxílio, à sombra das tuas asas eu canto jubiloso” (Sl. 63.7). No Salmo 90, mais uma vez somos lembrados da “sombra” que o Senhor providencia em nossa peregrinação neste mundo de aflição. No verso 1, o salmista inicia sua declaração e confiança falando daquele “que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente”.

Quando as lutas e provas dessa vida caírem sobre nós como terríveis e abrasadoras ondas de calor, lembremos que Deus é o nosso refúgio, Ele nos guarda e será a nossa sombra à direita, para que de dia não nos moleste o sol, nem de noite a lua (Sl. 121.5-6).

A sombra presente do Senhor pode não ser a demarcação do fim da jornada, mas será um indispensável alento para continuarmos até aquele dia  em que estaremos para sempre com o Senhor.

A serviço do Mestre,

Pr. Jenuan Lira.

Nenhum comentário: