sexta-feira, 13 de março de 2015

NO CORREDOR DA MORTE

“Louco, esta noite te pedirão a tua alma;
e o que tens preparado, para quem será?” (Lucas 12.20)


                Nusakambangan é uma bela ilha localizada perto de Java, na Indonésia. Um lugar bonito, tranquilo e seguro. Mas os que moram na ilha preferiam não estar lá, porque essa ilha tem um apelido pavoroso: “ilha das execuções”. Presos da Indonésia que são condenados à pena de morte são transferidos para Nusakambangan para aguardar o dia da execução.
                Como acontece com muitos condenados à morte, uma vez sentenciados, tornam-se mais religiosos. Por isso dentro das prisões, sete ao todo, foram construídas uma capela, um templo budista e uma mesquita. O clima na ilha é sempre harmonioso, “exceto quando chega a hora das execuções”, declarou um padre irlandês. Lamentavelmente a triste história do carioca Marcos Archer, fuzilado no último mês de janeiro, não fugiu à regra. O padre que o observou nos últimos momentos deu o seguinte relato: “A execução aconteceu à meia noite e trinta minutos, como tem sido ultimamente. Horas antes da morte, Marcos estava em prantos e absoluto desespero. Não fui permitido chegar perto dele... quando o pegaram na cela, ele estava tão apavorado que chegou a defecar na própria roupa.”
                O desespero diante da morte é a regra ou seria possível enfrentar esse momento com serenidade e antecipação? Tive um amigo no corredor da morte. Não cometeu nenhum crime, muito ao contrário. A morte se aproximava devido a decadência ‘normal’ que o passar dos anos traz a todos os homens. Quando o visitei pela última vez, ele já não conseguia ficar em pé, e escutava com grande dificuldade, pois já chegava aos oitenta. Com a mente lúcida como sempre, continuava pregando semanalmente. Sentava-se numa cadeira perto do púlpito, e por cerca de uma hora expunha a Palavra de Deus. Era um homem conhecido e muito requisitado para a conferências. Por isso, certa vez um pastor, também amigo meu, o ligou a fim de convidá-lo para vir a sua igreja para um evento que correria dentro de dois anos. A resposta do meu velho amigo foi interessante: “Pastor, agradeço o convite, mas nessa data espero já estar na glória.” E assim foi. Não demorou muito, e a alma do meu amigo foi requerida. Ele não tinha falsa ilusão sobre sua permanência nessa vida, nem estava buscando isso. Sabia que estava no ‘corredor da morte’, que, no seu caso, era também o ‘corredor da glória’.
                Não existe homem forte diante da morte, mas o desespero não precisa ter a palavra final. Eu nunca morri (vocês não estão lendo um texto escrito do além...acreditem!), mas observando histórias de morte, tanto na Bíblia como fora dela, parece-me que a angústia maior não é tanto a morte em si, mas a incerteza do que vem nos espera além do túmulo. As trevas da morte são terríveis, mas não são desesperadoras, quando temos certeza de que o sol vai brilhar do outro lado. Estêvão, o primeiro mártir cristão, teve uma morte sofrida. Foi apedrejado. Mas nos seus últimos momentos, ao invés de desespero, ele ergueu os olhos ao céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava a Sua direita, e disse: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus.” (Atos 7.56). Enquanto recebia as últimas pedradas, Estêvão dizia: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito.” Depois, ajoelhou-se, orou pelos seus executores e “adormeceu.” Que cena linda, que vitória, que esperança, que diferença! Dirigido pelo Espírito Santo, Lucas evita o verbo morreu e diz que Estêvão adormeceu. Morrer é terrível, mas dormir é bom. Quem dorme no Senhor descansa, restaura as suas forças, e acorda com o brilho radiante do “Sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas” (Malaquias 4.2).
                Certa vez, Jesus foi perguntado acerca da morte de 18 pessoas sobre quem uma torre havia desabado. Esquecendo os mortos, e se dirigindo aos vivos, Ele disse: “Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis (Lucas 13.2-3).
                Em um aspecto bem real, todos, sem exceção, estamos no corredor da morte. Mas será que podemos afirmar que o caminho da morte será o caminho da glória? Um dia, cedo ou tarde, os portais da eternidade se abrirão e a  nossa alma será requerida. O corpo voltará à terra, de onde veio, e alma se apresentará diante de Deus, que o deu (Eclesiastes 12.7).  Esse é o nosso caminho, e não podemos fugir da realidade. Achamos que só chega o dia dos outros, mas esquecemos que um dia ‘os outros’ seremos nós, e “se não vos arrependerdes todos igualmente perecereis.”
                Não interessa o dia. Se tivermos verdadeiramente nos arrependido, colocado nossa fé verdadeiramente em Cristo Jesus, o Cordeiro de Deus que foi morto pelo nossos pecados, e ressuscitou para nossa justificação, a estrada da morte se converterá na estrada da vida, pois Cristo disse: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5.24).

                A serviço do Mestre,
                Pr. Jenuan Lira

  

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