quarta-feira, 7 de março de 2012

DOR QUE CURA

“Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho” (Sl. 32.8).

Posso imaginar a dor que minha filha teve que suportar: cinco furadas na ponta do dedo, inclusive debaixo da unha. Mas era necessário. A primeira intervenção cirúrgica parcial não resolveu o problema. Em pouco tempo a unha encravada estava incomodando outra vez. Dessa vez, o médico precisava fazer uma incisão maior até alcançar a raiz da unha. Por isso fomos avisados que seria um processo doloroso, e que ela deveria tomar analgésicos pesados uma noite antes da cirurgia.

Dedos, mãos e pés são regiões do nosso corpo extremamente sensíveis pelo excesso de terminações nervosas. O Criador os fez assim para a nossa proteção. Por essa razão, quando tais regiões sofrem traumas, as dores são mais intensas.

Nós poderíamos ter evitado da nossa filha passar pelo doloroso processo cirúrgico... “Doutor, isso vai doer demais. Nós amamos demais a nossa filhinha para submetê-la a toda essa dor. Pode cancelar a cirurgia”. A dor seria evitada, mas o problema não. Neste caso, tal posição não poderia ser uma prova do nosso amor por ela. Imediatamente talvez até parecesse uma decisão bondosa, mas posteriormente o sofrimento seria maior, e todo nosso pretenso amor poderia ser entendido com descuido pela saúde da nossa filha, podendo ser até classificado como crueldade. Assim, amando, mesmo o coração apertado, o melhor era mesmo deixá-la passar pelo processo cirúrgico... “Filha, isso vai doer muito, mas vai resolver o problema”.

A dor de um filho pode ser a prova do cuidado dos pais. A angústia da alma pode ser a prova do amor de Deus, pois certas “doenças espirituais” não são curadas com uma simples exortação. Bem que o Senhor tenta assim fazer, mas muitas vezes não queremos receber o tratamento preventivo contra a contaminação do pecado. Preferimos seguir nosso enganoso coração e os desejos da nossa carne, até que chegamos a um ponto em que Deus precisa fazer uma cirurgia de corte profundo e doloroso, a fim de nos livrar da morte.

Como diz o salmista no verso acima, o Senhor, como um pai bondoso, tem os Seus olhos sobre nós, e nos aconselha. Até aí nenhuma dor, apenas instrução, que recebemos por meio da Palavra, do testemunho do Espírito, da oração e da comunhão no Corpo de Cristo. Mas nós somos duros. O que o Senhor nos aponta como o caminho da vida, na verdade é entendido como anacronismo ultrapassado. E a carne sussurra... “Deus está querendo lhe privar do prazer da vida. Seus conselhos são sempre assim. em frente, não se preocupe”. Então, seguimos, e, como cabritos saltitantes na liberdade de um vasto campo, entregamo-nos a nós mesmos. Nestes momentos, desistimos do caminho do Senhor, mas Ele não desiste de nós. Se não reagirmos à branda exortação, então seremos submetidos à firme correção. Se o chamado do Bom Pastor não nos incomoda, o Seu cabresto o fará. Por isso o salmista diz: “Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio; de outra forma não se sujeitarão” (Sl. 32.9).

Ninguém se atreveria a dizer que essa obra divina de nos arrancar das garras do pecado é indolor. Mas é necessária para a cura, pois quando a doença do pecado se instala no nosso coração endurecido, a saída é um doloroso processo cirúrgico. “Na verdade, nenhuma correção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos que por ele têm sido exercitados” (Hb. 12.11). Muitas vezes nos tornamos como os galhos improdutivos de uma videira, precisando ser cortados a fim de voltar a florescer (Jo. 15.1-2).

Passados oito dias, minha filha já não sente a mesma dor. O corte está cicatrizando muito bem, e em breve ela estará totalmente recuperada. Aquela perspectiva da unha voltar a crescer defeituosa internamente, não é mais uma preocupação. A dor já é passada. Resta a marca e o benefício da cirurgia.

Seria tremenda insensatez nutrir amargura no coração contra o médico que operou o dedo da Vitória. Ao contrário, devo ser grato, pois se o resultado esperado for atingido, nossa filha não vai mais sofrer o terrível e constante incômodo de uma unha encravada causado sucessivas infecções. Ainda pior seria se deixar vencer por qualquer tipo de ressentimento contra Cristo ou contra Sua Igreja, pela “cirurgia” de reparação espiritual de que somos objeto.

Se por alguma razão a mão de Deus vier sobre nós em disciplina, estejamos certos de que o resultado será maravilhoso. E mesmo gemendo de dor possamos repetir as palavras do profeta Jeremias: “Cura-me, ó Senhor, e serei curado; salva-me, e serei salvo; pois tu és o meu louvor. (Jr. 17.14).

A serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira

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