terça-feira, 1 de março de 2011

A VOZ DE JACÓ

A batalha entre os olhos e coração se resume no seguinte ditado: “O que os olhos não vêem, o coração não sente”. Será mesmo verdade? Em alguns casos, sim, mas não foi com o patriarca Isaque. A refeição que prefaciava a concessão da bênção fora preparada em tempo muito breve. Isaque não via, mas o coração sentia cheiro de engano. Por isso as perguntas... “Quem és tu, meu filho?” – “Sou Esaú, teu primogênito”! “Como é que conseguiste a caça tão depressa? ” – “Deus a mandou ao meu encontro”. A conversa era bonita, mas não inspirava confiança. Ele não podia explicar bem, mas estava incomodado. Sentindo-se inseguro, pediu: “aproxime-se, meu filho”. A pele e o cheiro batiam, então por que a dúvida? Por uma razão simples: as mãos eram de Esaú, mas a voz era de Jacó! Eis o problema. A pele e o cheiro podiam ser imitados, mas a voz denunciava o disfarce.
Sou arrebatado pela adoração comunitária. Nada é mais gostoso do que ouvir uma igreja cheia, com vozes vibrantes ... “Prá te adorar, oh!, Rei dos Reis, foi que eu nasci, oh!, Rei Jesus. Meu prazer é te louvar... ”. Que declaração profunda! Que afirmação séria e comprometedora. A única coisa que me perturba, é a dúvida que também perturbou Isaque. De quem é essa voz? É adoração ou encenação? Preciso confessar que muitas vezes meu coração fica apertado, com a sensação de que, embora minhas vistas nem sempre percebam, meus ouvidos teimam em distinguir o disfarçado timbre da voz de Jacó nos momentos de louvor.
Ouvir a voz de Jacó tentando se passar por Esaú, é ouvir a voz do engano. Tal voz comunica falta de sinceridade. É a sonorização do pecado, do disfarce, do farisaísmo hipócrita. No culto, representa a adoração mecânica feita como um fim em si mesma, que desconsidera a santa presença de Deus, o que, afinal, não é adoração em sentido algum. Um cântico entoado na voz de Jacó causa repulsa aos ouvidos do Senhor, e deveria também causar aos nossos.
O disfarce da Jacó foi feito com extremo cuidado, pois seu alvo era enganar o pai, que o conhecia tão bem. Da mesma forma é o disfarce da falsa adoração. Por isso, pode parecer temerário falar sobre a presença de muitos “Jacós” modernos participando de um culto ao Senhor. Entendo, e concordo. Esse é um terreno obscuro, pois examina as intenções do coração. Além disso, há ainda o agravante de que quando a voz de Jacó é alçada na hora do ajuntamento solene, ela é articulada na forma mais semelhante possível à de um verdadeiro adorador. Contudo, falo dessa forma, e faço a denúncia com propriedade, porque às vezes percebo que a voz de Jacó sai da minha própria boca, e isso me envergonha.
Enganamos facilmente as pessoas, e queremos fazer o mesmo com Deus. E quem assim, procede está iludindo a si mesmo, pois é impossível se disfarçar diante Daquele que conhece até as palavras que ainda não sairam da nossa boca.
Isaque foi enganado porque ele via como os homens vêem. Deus porém, não vê como os homens, os vêem o exterior, mas o Senhor vê o coração (I Sm. 16:7). Se é verdade que o Senhor é para nós tudo o que cantamos, cantemos com vigor. Caso contrário, fiquemos calados. Ficar calados para não desonrar o Senhor é pode nos levar ao auto-exame, além dos livrar-nos da ira de Deus.

A serviço do Mestre,

Pr. Jenuan Lira.

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