“Quem
não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele”
(Lc. 18.17)
Em meio às conversas pesadas dos adultos,
senti a aproximação leve de uma criança. “Meu amigo Gabriel, cadê o Paulo
Anderson?”, falei enquanto o abraçava. Ele não respondeu minha pergunta, porque
não lhe interessava, e porque era realmente uma pergunta difícil. Quando o
culto termina e eles saem da salinha, ninguém tem idéia de onde os dois poderão
estar no próximo minuto. Como um traque de salão enlouquecido depois que o
fósforo se encontra com a pólvora e percorre as trilhas mais incertas
possíveis, ou como o antigo carrinho de brinquedo “bate-e-volta” que seguia sua rota como a
mais plena ilustração do que poderíamos chamar de imprevisibilidade, Paulo
Anderson e Gabriel saem “batendo e voltando” até que a mãe resolve que está na
hora de ir embora. Enquanto não, eles podem ser encontrados em qualquer lugar,
desde o armário que guarda os instrumentos até a nossa pequena cozinha, onde
numa ocasião tiveram a brilhante idéia de brincar com os botões do fogão,
divertindo-se enquanto o gás butano era liberado por meio de um “interessante”
barulhinho.
Por isso, sem dar atenção à minha estupidez de adulto,
Gabriel, com grande espontaneidade e poucos dentes, foi direto ao ponto:
- “Ti (entenda-se: tio),
tu leva eu e Paulo Anderson para tua casa de novo?”.
- Claro, Gabriel, mas
agora o ti não pode porque está morando bem longe. Mas quando voltar eu te levo
de novo para minha casa.
As crianças são presentes de Deus para nos ensinar
profundas verdades espirituais. Embora pecadoras, eles retém as qualidades
essênciais para os que irão herdar o reino dos céus. Elas nos ensinam com sua
simplicidade e espontaneidade. A humildade é uma marca divina que particulariza
as crianças, até que o soberba dos seus pais lhes aprisiona, por herança e por
exemplo. Por isso o Senhor as usou para resolver uma crise de meninice
maliciosa no meio dos discípulos (Mt. 18.1-5). Não é isso que aprendemos com as
nossas crianças, particularmente com os nossos dois amiguinhos aqui
mencionados?
Quando penso nesses
meninos fico comparando a espontaneidade e leveza deles quando estão entre nós.
Se fossem adultos, o orgulho invertido da auto-depreciação já os teria
arrancado do nosso convívio. Mas eles são crianças e não se deixam intimidar
porque moram onde moram e vivem como vivem. Se você os chamar para sua casa,
ele não vai ficar acanhado com as “riquezas” da sua família e os brinquedos
sofisticados dos seus filhos. Eles vão se maravilhar, mostrar um para o outro
cada nova descoberta e vão brincar com seus filhos. Isto é, se vocês adultos deixarem, e não
forem 'seletivos' demais para abrir suas portas para esses meninos.
Uma prova do que Jesus
fala no seu elogio às crianças está no sorriso do Paulo Anderson. Sua vida é
difícil, mas o sorriso é fácil. Faça você mesmo o teste. Basta um simples oi, e
o sorriso flui simples, puro, autêntico e inocente. As privações do dia-a-dia,
que com certeza nos fariam adultos amargos, não conseguem amargurar seu pequeno
coração. Como os pássaros que recebem a ração diária do Pai Celeste, e
amanhecem louvando o Criador, mesmo sem saber de onde virá o alimento para mais
um dia, Paulo Anderson louva a Deus com
seu sorriso gracioso, expressando a 'fé inocente' de que Cristo falou a verdade
quando disse que o mesmo Deus que cuida dos pássaros e faz nascer os lírios,
cuidará das suas necessidades e da sua família (Mt. 6.31-32).
Deus tem dado a nossa Igreja a bênção de ter esses
meninos entre nós. O que vamos fazer com
eles? Tenho uma sugestão...
“Então, tomando-as nos
braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava” (Mc. 10.16)
A
serviço do Mestre,
Pr. Jenuan Lira.
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